"Trecho Solto... "
Quando uma situação fica tão ruim que nenhuma solução
parece possível, só restam o assassinato ou o suicídio. Ou ambos. E se nenhum
deles ocorrer, a pessoa e transforma num bufão.
É impressionante como pudemos nos manter ativos quando
não existe nada a enfrentar além de nosso próprio desespero. Os acontecimentos vão
se empilhando por conta própria. Tudo se converte em drama... em melodrama.
O chão começou a ceder debaixo dos meus pés com a lenta compreensão
de que nenhuma manifestação de raiva, nenhuma demonstração de sofrimento,
ternura ou remorso, nada que eu fizesse ou dissesse, fazia a menor diferença
para ela. O que se chama de um homem havia de certamente engolir seu orgulho ou
sua dor, e simplesmente sair de cena. Mas não este pequeno Belzebu!
Eu já não era mais um homem; era uma criatura devolvida
ao estado selvagem. Um Pânico perpétuo, era esse meu estado normal. Quanto mais
eu era rejeitado, mais me aferrava. Quanto mais era ferido e humilhado , mas
ansiava por castigo. Senão rezando para que algum milagre ocorresse, não fiz
nada para provocar um deles. E mais, mostrava-me impotente para por nela, ou em
Stasia ou em qualquer pessoa, até a mim mesmo, a culpa pelo que acontecia ,
embora fingisse que o fazia.
Como livrar-se de um vicio?
Vezes sem conta , eu batia com a cabeça na parede
tentando resolver essa questão. Se me fosse possível, teria tirando meus miolos
do crânio e passado no moedor. Qualquer coisa que eu fizesse, que eu pensasse,
que eu tentasse, não conseguia me esquivar da camisa de força.
Seria o amor que me mantinha acorrentado ?
Como responder a isso? Minhas emoções eram tão confusa, tão
caleidoscópicas. Era mesmo que perguntar a um moribundo se ele tem fome.
Talvez a questão pudesse ser formulada de outra maneira.
Por exemplo: “Será que conseguimos recuperar o que se perdeu?”.
O homem racional, o homem de bom senso, dirá que não. O
idiota, porem, diz que sim.
E o que é o idiota além de um crente, de alguém que joga
contra todas as possibilidades?
Tudo que se perdeu pode ser recuperado”.
Henry Miller – Nexus
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