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terça-feira, outubro 15, 2013

Reencontro




Reencontro

Por vezes você é mordido pela vida. Uma dentada que deixará marcas para todo o sempre. Quem não carrega consigo tais marcas, carinhosas recordações ou farpas cravadas no peito? Quem passa impune pelo viver, sem marcas mais ou menos fundas? Quem...

Ao longo do viver, fui deixando muitas coisas para trás, pessoas que gostei e odiei...pessoas que tiveram alguma importância, e outras que não tiveram importância alguma. É assim, você não pode e nem deve transportar carga demais no peito.

Vez por outra, você faz uma faxina... apaga culpas, expulsa invasores que apenas torram o saco, apaga de vez velhas lembranças ruins... joga toda a carga ao mar, e o navio flutua mais sereno. Nosso grande erro, é nos apegarmos demais ao que nos faz sofrer... não largamos a dor com medo de não ser feliz, mesmo sendo infeliz, me entende? Acaba que fudemos tudo...liberdade é uma condição colocamos para nós mesmos.

Não faço muita questão de ter lembranças, sou alguém sem futuro e prefiro ser sem passado. Tudo que tenho é este presente. Então isso significa que a resposta de hoje, não será a mesma de amanhã, significa que o que hoje é estável amanhã é imponderável...a vida é sua surpresa, é assim que gosto de viver. Confiança me importante e só.

Fico filosofando pra caralho, as vezes comigo mesmo. Então é melhor beber, para dar uma tranquilizada na mente, anestésico. Fico nisso por horas. Por momentos você precisa se atormentar um pouco, o sadomasoquista da porra batendo na própria alma...isso seu filho da puta... torture-se...torture-se a até não mais aguentar, e depois saia disso, como uma serpente trocando a pele...você se sente limpo, clean e a paz retorna, ual...boa vida, bom jeito de viver.

Decido ir pra rua. 
O dia está ótimo...deixo o carro em casa, e vou caminhar pela cidade. Indo a lugar algum...apenas caminhar, como um pescador de merda, a espera que o peixe apareça. As vezes dá certo. Estou como gosto, bermudas, chinelos e camiseta. Talvez isso traduza alguma paz.
Pelotas num feriado meia boca, me parecia saudável. Estava agora na avenida Bento, o sol estava bacana, um bom vento, realmente assim a vida parece melhor, vou até a pracinha, crianças brincam...e me sento como um vagabundo qualquer olhando a paisagem, pensando em uma cena que preciso gravar, pensando nos projetos em andamento, isso sim.  Coisas que transportam a alma. É disso que me alimento, é minha droga, meu prazer é paixão.

Então por detrás de uma arvore, sai uma mulher de aspecto belo tendo uma criança em seus braço... ela sorri, parece muito tranquila entretida com sorrindo. Demoro um pouco para reconhecer, por fim ela me olha e reconheço. Isabel. Realmente eu devo fazer mal as mulheres pensei. Ela estava ótima, bem melhor do que quando estava comigo, teoricamente eu arraso com as pessoas. Não posso fazer nada. Minha instabilidade é destrutiva, mas não penso em mudar.

O sorriso dela desapareceu quando me viu. Acho que eu não deveria ter saído a pé por ai assim. Fiquei na minha, não ia fazer coisa alguma. As condições de nossa separação foi tranquila, pra mim... simples, eu disse que ia embora, e fui sem mais explicações. Fácil. Estávamos com todo o desgaste de uma relação, mais brigas e cobranças. Não tenho maturidade ou burrice de ser cobrado por ninguém. Isabel me perseguiu um bom tempo...disse coisas horríveis, nunca respondi, era uma decisão tomada. Não fico de papinho quando tomo uma decisão, não há consolo, não há anestesia, não há nada.
Isabel ao contrario que imagino, vem em minha direção, trazendo a criança consigo. Seu rosto mais suavizado agora, cabelos longos e pretos, uma jeans justa e uma camiseta branca com leve decote...a tornavam uma mulher interessante e desejável. Não estava mais pensando com o coração...sou um homem que gosta de buceta, gosto de todas elas.

-Veja só... quem está aqui... Luís Fabiano...que honra...

Isabel sempre foi boa de ironia, ela só perde para uma outra que gostava de afiar a navalha, que me dava facas de presente. Ok, isso é outra história.

-Pois é Isabel...que beleza né... tu estas bem...bem mesmo...
-Nem vem...estou muito melhor que parece, e bem melhor do que devia Luís Fabiano... conhece a Priscila?

Ela aponta a menina, que sorria com uma boneca na mão...e me olhava, a menina tinha os olhos dela. O tempo é generoso as vezes.

-Oi Priscila? Linda você sabia...
-É, ela puxou a mãe certamente...

Olho para o dedo de Isabel, uma larga aliança ali, ela casou novamente. Deixo o mal estar passar.

-É eu também acho...tu és sempre bem decidida...e a vida?
-Estou bem Fabiano, bem feliz, bem em paz, bem tranquila... me encontrei com Deus...

Ela falava com um certo rancor naquilo. Não iria aprofundar o assunto.

-É... legal, Deus costuma resolver tudo pra gente...sabe como é...é Pai né...
-Não debocha de mim...eu sou espirita agora, e sei que o problema que tivemos foi devido a encarnação passada... eu fui.
Parou de falar como se tivesse ficado com vergonha.
-Que foi? Perguntei.
-Nada não... esquece esse assunto...a verdade que tu não presta desde muito tempo... e eu sou a responsável por isso...
Priscilinha nos olhava e ria.
-Deus do céu...de onde você tirou isso? Eu não presto e você é a responsável? Puta merda, boa essa...os outro são culpados porque nós somos uma merda? Ou fizemos alguma merda? Ta de onda comigo né...
-Eu já me perdoei pelo que fiz...tu também precisas perdoar Fabiano...

Mudei de opinião quanto ela estar melhor. Quando estava comigo era desbocada, falava chinelagens...ria como puta e agora estava mais espirita que o fundador do espiritismo...
Então ela me olha bem:

-Fabiano, tais vendo a Priscila?
-Sim Isabel...ela é linda...e acho que ela puxou o pai.
-Fabiano, olha bem pra ela?

Olhei bem, mas tudo que via era uma menina linda. Ria feliz, uma criança feliz com sua boneca...

-Isabel...qual é?
-Olhaste bem ela? Então é isso Fabiano. Foi “bom” te encontrar. Até nunca mais.

Ela levantou e foi embora e a menininha abanava pra mim a uma certa distância. Fui tomado por um sentimento estranho. A malicia de Isabel era foda. Revolveu pedras antigas para atingir meu peito.
Então me dei conta... que ela queria dizer com isso?
Não...não... é impossível...as datas não coincidem...é...quer dizer não sei...



Luís Fabiano.



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