Reencontro
Por vezes você é mordido pela vida. Uma dentada que
deixará marcas para todo o sempre. Quem não carrega consigo tais marcas, carinhosas
recordações ou farpas cravadas no peito? Quem passa impune pelo viver, sem
marcas mais ou menos fundas? Quem...
Ao longo do viver, fui deixando muitas coisas para trás,
pessoas que gostei e odiei...pessoas que tiveram alguma importância, e outras
que não tiveram importância alguma. É assim, você não pode e nem deve
transportar carga demais no peito.
Vez por outra, você faz uma faxina... apaga culpas,
expulsa invasores que apenas torram o saco, apaga de vez velhas lembranças
ruins... joga toda a carga ao mar, e o navio flutua mais sereno. Nosso grande
erro, é nos apegarmos demais ao que nos faz sofrer... não largamos a dor com
medo de não ser feliz, mesmo sendo infeliz, me entende? Acaba que fudemos
tudo...liberdade é uma condição colocamos para nós mesmos.
Não faço muita questão de ter lembranças, sou alguém sem
futuro e prefiro ser sem passado. Tudo que tenho é este presente. Então isso
significa que a resposta de hoje, não será a mesma de amanhã, significa que o
que hoje é estável amanhã é imponderável...a vida é sua surpresa, é assim que
gosto de viver. Confiança me importante e só.
Fico filosofando pra caralho, as vezes comigo mesmo.
Então é melhor beber, para dar uma tranquilizada na mente, anestésico. Fico
nisso por horas. Por momentos você precisa se atormentar um pouco, o
sadomasoquista da porra batendo na própria alma...isso seu filho da puta...
torture-se...torture-se a até não mais aguentar, e depois saia disso, como uma
serpente trocando a pele...você se sente limpo, clean e a paz retorna,
ual...boa vida, bom jeito de viver.
Decido ir pra rua.
O dia está ótimo...deixo o carro em casa, e vou caminhar pela cidade. Indo a lugar algum...apenas caminhar, como um pescador de merda, a espera que o peixe apareça. As vezes dá certo. Estou como gosto, bermudas, chinelos e camiseta. Talvez isso traduza alguma paz.
O dia está ótimo...deixo o carro em casa, e vou caminhar pela cidade. Indo a lugar algum...apenas caminhar, como um pescador de merda, a espera que o peixe apareça. As vezes dá certo. Estou como gosto, bermudas, chinelos e camiseta. Talvez isso traduza alguma paz.
Pelotas num feriado meia boca, me parecia saudável. Estava
agora na avenida Bento, o sol estava bacana, um bom vento, realmente assim a
vida parece melhor, vou até a pracinha, crianças brincam...e me sento como um
vagabundo qualquer olhando a paisagem, pensando em uma cena que preciso gravar,
pensando nos projetos em andamento, isso sim.
Coisas que transportam a alma. É disso que me alimento, é minha droga,
meu prazer é paixão.
Então por detrás de uma arvore, sai uma mulher de aspecto
belo tendo uma criança em seus braço... ela sorri, parece muito tranquila entretida
com sorrindo. Demoro um pouco para reconhecer, por fim ela me olha e reconheço.
Isabel. Realmente eu devo fazer mal as mulheres pensei. Ela estava ótima, bem
melhor do que quando estava comigo, teoricamente eu arraso com as pessoas. Não
posso fazer nada. Minha instabilidade é destrutiva, mas não penso em mudar.
O sorriso dela desapareceu quando me viu. Acho que eu não
deveria ter saído a pé por ai assim. Fiquei na minha, não ia fazer coisa
alguma. As condições de nossa separação foi tranquila, pra mim... simples, eu
disse que ia embora, e fui sem mais explicações. Fácil. Estávamos com todo o
desgaste de uma relação, mais brigas e cobranças. Não tenho maturidade ou
burrice de ser cobrado por ninguém. Isabel me perseguiu um bom tempo...disse
coisas horríveis, nunca respondi, era uma decisão tomada. Não fico de papinho
quando tomo uma decisão, não há consolo, não há anestesia, não há nada.
Isabel ao contrario que imagino, vem em minha direção,
trazendo a criança consigo. Seu rosto mais suavizado agora, cabelos longos e
pretos, uma jeans justa e uma camiseta branca com leve decote...a tornavam uma
mulher interessante e desejável. Não estava mais pensando com o coração...sou
um homem que gosta de buceta, gosto de todas elas.
-Veja só... quem está aqui... Luís Fabiano...que honra...
Isabel sempre foi boa de ironia, ela só perde para uma
outra que gostava de afiar a navalha, que me dava facas de presente. Ok, isso é
outra história.
-Pois é Isabel...que beleza né... tu estas bem...bem
mesmo...
-Nem vem...estou muito melhor que parece, e bem melhor do
que devia Luís Fabiano... conhece a Priscila?
Ela aponta a menina, que sorria com uma boneca na mão...e
me olhava, a menina tinha os olhos dela. O tempo é generoso as vezes.
-Oi Priscila? Linda você sabia...
-É, ela puxou a mãe certamente...
Olho para o dedo de Isabel, uma larga aliança ali, ela
casou novamente. Deixo o mal estar passar.
-É eu também acho...tu és sempre bem decidida...e a vida?
-Estou bem Fabiano, bem feliz, bem em paz, bem tranquila...
me encontrei com Deus...
Ela falava com um certo rancor naquilo. Não iria
aprofundar o assunto.
-É... legal, Deus costuma resolver tudo pra gente...sabe
como é...é Pai né...
-Não debocha de mim...eu sou espirita agora, e sei que o
problema que tivemos foi devido a encarnação passada... eu fui.
Parou de falar como se tivesse ficado com vergonha.
-Que foi? Perguntei.
-Nada não... esquece esse assunto...a verdade que tu não
presta desde muito tempo... e eu sou a responsável por isso...
Priscilinha nos olhava e ria.
-Deus do céu...de onde você tirou isso? Eu não presto e
você é a responsável? Puta merda, boa essa...os outro são culpados porque nós
somos uma merda? Ou fizemos alguma merda? Ta de onda comigo né...
-Eu já me perdoei pelo que fiz...tu também precisas
perdoar Fabiano...
Mudei de opinião quanto ela estar melhor. Quando estava
comigo era desbocada, falava chinelagens...ria como puta e agora estava mais
espirita que o fundador do espiritismo...
Então ela me olha bem:
-Fabiano, tais vendo a Priscila?
-Sim Isabel...ela é linda...e acho que ela puxou o pai.
-Fabiano, olha bem pra ela?
Olhei bem, mas tudo que via era uma menina linda. Ria
feliz, uma criança feliz com sua boneca...
-Isabel...qual é?
-Olhaste bem ela? Então é isso Fabiano. Foi “bom” te
encontrar. Até nunca mais.
Ela levantou e foi embora e a menininha abanava pra mim a
uma certa distância. Fui tomado por um sentimento estranho. A malicia de Isabel
era foda. Revolveu pedras antigas para atingir meu peito.
Então me dei conta... que ela queria dizer com isso?
Não...não... é impossível...as datas não coincidem...é...quer dizer não sei...
Luís Fabiano.
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