Navalhadas Curtas: Sementinha do mal
Fui numa padaria nas imediações do porto. Fila e mais
fila. Parecíamos decrépitos insanos e doentes, a espera da cura. Mas não...era
só a espera do queijo fatiado! Três mulheres a minha frente... falavam
demais...falavam e não diziam absolutamente nada.
O assunto era a novela, o dilema da novela, o porquê da
novela. Ok, mas elas tratavam aquilo que se fosse a coisa mais importante deste
mundo... Naturalmente eu já as odiei. Tudo bem, odeio muita gente.
Peguei o pão e o queijo, me dirigi ao caixa...e lá
estavam elas novamente, ainda explorando a profundidade dos fatos “reais” da
novela. E uma, que pensava um pouco menos que as outras disse:
-A novela é a vida real... é exatamente assim que
acontece na vida...
Comecei a rir. Uma coisa é certa, se você quer saber como
as coisas não são... basta assistir a novela... e a puta me fala aquilo, como
se fosse um documento.
Era hora de terminar com a excessiva felicidade falsa.
Então avancei na fila, para pedir uma informação no caixa
a frente delas esbarrando com o ombro nelas, elas me olham, e eu falo para o
atendente:
-Me diz uma coisa meu chapa, qual é o horário de menos
movimento na padaria?
Era uma pergunta suspeita demais. O cara me olha... e titubeia
para responder, por fim eu sorri pra ele, ele fala:
-Senhor, é na parte da manhã e no início da tarde.
-Obrigado, foste de grande importância.
As mulheres já não estavam falando mais nada... então ele
me pergunta:
-Tu não vai vir assaltar né?
Então olhei para as damas, depois para o caixa e fui
firme na entonação, disse:
-Eu ainda não decidi isso...
A fila ficou silenciosa, o caixa não falou mais... as
mulheres foram juntando suas tralhas e saindo algo assustadas.
Havia silencio, no local.
É o que eu digo, a paz das pessoas por vezes é o sacrifício
de outras pessoas. Quando a felicidade não está com você...ela está com alguém.
Luís Fabiano.
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