Jorjão, um trem descarrilhado e putinhas da crakolandia
Parte1
Madrugada profunda. Noite, noite, noite a puta bandoleira
incinerando a vida, brilhos loucos antes do amanhecer. Puta que pariu... Deus
da porra... me deixe viver, uma vida louca a cento e oitenta por hora.
Excedendo todos os limites, excedendo velocidades, excedendo as emoções... o
excesso que conduz a iluminação. Tenho certeza disso. É preciso ultrapassar a
zona ordinária onde as pessoas comuns se limitam... por medo, por ignorância e
para ter a certeza que suas vidas chegarão a oitenta? Noventa ou cem anos? Boa. Me parece uma ótima maneira de viver,
viver tudo pela metade, para chegar ao máximo!! Tremenda mentira.
Nesta noite particularmente, eu estava insano. Sim, sou
movido pelo imponderável, um cavalo louco rasgando a noite em trilhas feitas de
fumaça e enxofre. A garrafa de rum já estava pela metade. Ótimo, tremendo
combustível, tremenda disposição, neste estado as estradas se tornam tortuosas,
ruas de asfalto se retorcem como serpentes negras, as pessoas ficam com a cara
que realmente tem. Os medos fogem em disparada, e de alguma forma tudo se torna
claro. Eu um bêbado meditante budista, observando a vida.
Humanidade fudida.
O telefone toca. É Jorjão.
-Alouuu... porra Jorjão, bem que poderia ser uma puta
qualquer...me ligando essa hora...mas não...
-E ai Fabiano...eu não sou a puta... mas seguinte, to com
umas aqui...
-Aqui onde?
-No Blue Bird... e vou te dizer, elas estão em uma
animação barbara...
-Porque tu não come as duas sozinho? Ligou porque, pô?
-Seguinte cara, tu mora aqui perto... e eu to sem
carro... e tu e mais o fudet ai... podemos levar as vadias para ponte velha de
Rio Grande... e come-las vendo Pelotas de lá... adrena total hein...
-Sei...elas devem ser muito lindas né?
-Bah...tens que ver que coisinhas...cara...só filé...
-Elas tem dentes?
-Sim...tem, e não é dentadura...
-Legal. Ok, daqui a pouco chego ai...
-Certo...tu é o melhor, não vais te arrepender...
Desliguei a merda do celular. Mas tinha a impressão eu
iria me arrepender rápido. Freud explica, sabe como é... muita propaganda para
tudo na vida, significa que não é algo bom. Coisas boas se impõe naturalmente
por sua qualidade, como quase tudo na vida, uma questão de confiança. Eu não
confio em Jorjão. Viciado, malucão, gosta de uma confusão, ta sempre na noite,
é um cara casado, e a mulher dele deve ser uma santa imagino...ou tão louca
quanto ele, puta talvez. Ou talvez seja
amor mesmo, vai saber? Para aturar algumas coisas. Por amor as pessoas fazem
quase tudo... fazem muita merda também.
O copo sobre a mesa gritava: me bebe seu filho da puta.
Então entornei o meio copo de rum inteiro... minhas veias incendiaram... senti
um tontura imediata. Agora era cair no olho do furação.
Olho o relógio, são uma e quinze da manhã. Puta merda,
como eu gosto destes horários. Nestes horário os vampiros já saíram para rua. E
agora era minha vez.
Coloco uma camiseta branca e um tênis e saio. No
estacionamento do prédio, uma introdução do que a noite prometia. Um casal se
arretava forte dentro de um carro... nem se deram conta que passei do lado... a
moça gemia com alguma ternura graciosa, me excitei. Tive vontade de para um
pouquinho, e bater uma boa punheta vendo-os ali...tão à vontade, gosto de shows
sexuais, e de graça melhor ainda, mas não.
Entrei no kadett, deia a partida e liguei o rádio. Tocava
Mercedes Sosa, uma boa pedida. Tranquila é verdade, talvez tranquila demais
para meu atual estado de espirito. Em alguns segundos eu chego no Blue Bird. Sensacional,
o bar esta cheio no meio da semana. Estaciono carro, e fico olhando de longe
Jorjão e as moças na mesa. Penso: e ai?
Elas pareciam terem sido resgatadas da cracolândia.
“Lindas”... magras, com um certo aspecto sujo e gargalhavam como se tivessem em
um galpão. Puta merda... Jorjão é sempre assim, mas ao que pude ver do carro,
realmente ele tinha razão, elas tinham dentes.
Desço e vou em direção a mesa deles. A vida até parece
uma festa...sou rapidamente apresentado a Luana e Renata, irmãs...
-Fabiano...mas que honra cara... esta é Renata e Luana...
Luana a mais a vontade... vem e já me cumprimenta dando
um beijo, esta
com um vestido justinho preto, ela tem um cheiro de sovaco
vencido, a sua irmã Renata esta com uma calça dessas coladas na bunda e tem um
cheiro típico de xoxota suja. Eu gosto. As duas eram excitantes...loucas e
dispostas a incendiar o planeta. Difícil achar gente assim por ai.
Elas não paravam de falar...agitadas.
A atendente me pergunta:
-Rum Fabiano?
-Não-não, vamos de cerveja agora...pra ver o que vai
dar...
-Pelo que to vendo vai né... ?
Renata era uma metralhadora, o assunto dela agora era o
novo Shopping. Me pergunta o que acho?
-Não sei...ta lá, um dia talvez vá... mas por hora não me
interessa em nada, não gosto de novidades...
-É? Como tu és devagar cara... acho que deverias ir
lá...rápido é muito lindo... o lugar é amplo Pelotas agora deu um salto no
futuro... o ônibus lá da vila deixa na porta e tudo.
Não entro em discussões... tratei de esquecer Renata, que
me parecia vazia demais. Tenho um limite de gente vazia e fútil que posso
tolerar. E Renata era estupida demais. Jorjão sacou a parada e já foi
atalhando:
-E ai Fabiano... e o Fio da Navalha?
-Que tem ? Ta lá cara... com tudo...
Luana se interessa pergunta:
-O que é Fio da Navalha?
Jorjão atalha:
-É um Blogão que o Fabiano aí tem... ele escreve umas
merdas e entrevista umas pintas ai da cidade...
Tava nem aí pra isso... olhava agora para as tetas de
Luana. Ela devia estar com frio, os bicos duros marcavam o vestido...uma poesia
linda aquilo. Ela percebe:
-Tu gostas Fabiano?
-Sim baby...certamente.
Luana parecia não gostar de questionamentos falsos ou
papo furado. Um tipo puro, que vive e depois questiona se for a caso. Tinha um
olhar ferino de quem já se fudeu muito, e portanto agora resta viver o melhor
possível.
-Fabiano...o Jorjão quer fazer um surubão com a gente...
mas na boa, não to afim de dar pra ele...
-Sei... questão difícil de administrar Luana... mas vamos
ver o que podemos fazer...
-Não queria ver a minha irmã fudendo...também...tenho princípios...
Afinal ela não era tão porra louca assim. Todo mundo tem
um limite...massa, lembrei de um poema lindo:
Limite, limite
O gatilho engatilhado está no limite
A última gota de veneno, segundos antes da morte
Um decimo de segundo, antes de bater em poste a 180km
Meteoro antes de chocar-se com a terra
E o dente do vampiro a um milímetro da carótida
Todas estas coisas tem em comum algo:
A espera do milagre no exato instante...
Ele virá?
Jorjão sacou a parada, e já foi berrando, naquele melhor
estilo confusão:
-Aí ó... seguinte meninas, tem que fudê, tendeu? Tamo aí
pagando a bebida geral, e croquetinhos, a vida não é de grátis tá ligado? Tudo
tem preço porra...há, há, há....
Jorjão começa a chegar no limite. Porque sai de casa? Pra
comer a Luana? É.
Levantei da mesa e chamei Jorjão num canto do bar...
-O Jorjão... calma cara... te liga, surubão não vai
dar... a mina não quer dá pra ti...
-Não tem essa Fabiano...não tem essa... buceta é buceta tá
ligado? To ai trovando as vagabundas a horas... te chamei pra finalizar a
parada...e eu quero fuder com as duas, isso que eu quero... quero uma chupando
o meu pau e a outra lambendo o meu cu... é isso aí...
-Ta legal Jorjão...mas a coisa vai te ser de boa...sem
forçar cara...
-Que forçar...elas querem uma grana pra comprar um
aditivo...tá ligado? Narega e tals... dinheiro...
-Tudo bem...tudo isso é muito lindo...poesia pura, então
assim... tu tenta... se a mina der o contra...tu aborta a missão, ok?
-Ok...mas não tem essa de abortar a missão.
A confusão já era certa. Por vezes você precisa se
comportar como um rato. Quem nunca se comportou assim? A porra do navio está
afundando, então você salta ao mar. Várias vezes fiz isso... relacionamentos
que naufragavam a olhos vistos... você pula no mar, tenta nadar e sobreviver
sozinho.
Voltamos a mesa, e agora Jorjão estava decidido...
-Bueno meninas é hora do show, “show time”...hein...
vamos embora?
-Claro amor- diz Renata, Luana fica em silencio...
Eu avaliei a situação...brigar com o Jorjão não era uma
alternativa. Forte, estivador, bêbado...poder de destruição é grande...
-Jorjão eu não quero ir – diz Luana...
-Não tem essa possibilidade Lulu...
-Jorjão relaxa cara...
-Acabou cara...seguinte, vamos todo mundo agora pro
motel... e fuder bem gostosinho... olha o meu pau aqui como tá...
Jorjão tava realmente transtornado, bem mais que o
normal...devia ter ingerido algo mais forte que a cerveja... queria fuder de
todo o jeito. E agora rato? Pular no mar? Precisava resolver aquilo e ainda tentar
comer a Luana.
Segue...
Luís Fabiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário