Rei das Bucetas, felicidades e outras merdas
Estava tranquilo em casa. Nada pra fazer, ver a porra da
televisão vomitando merda a rodo... era isso. Mas sou naturalmente assombrado. Creio
que assim que se vive... com a sensação de estar vivo...e não ser mais um corpo
que se balança nas ondas...ou nos ventos. É preciso sentir-se vivo, com tesão
de viver, se você tem pau... mantê-lo muito duro e disposto, e fazer as coisas
que você faz com vontade... sim essa é a chave. Vontade. Não sei viver de outro
jeito. Nada de vida pela metade, se vai fuder, foda muito, se vai beber...beba
até cair, se vai acertar as contas com um inimigo, faça-o sofrer muito e se vai
abraçar um amor, ame...ame muito com toda as veras da alma.
Pensei comigo: Porra Fabiano, em casa vendo televisão?
Não é hora de dar a tua contribuição vil para esta humanidade? Si claro si.
Então lembrei do meu amigo Rei das Bucetas. Não era dia da coisa acontecer lá
pelo Navegantes, mas quem sabe? Um papo sempre é algo bom. Tenho pouco amigos
então.
A garrafa de rum me olhava com certa malicia...sabe? Mas
achei que não era caso hoje. Além do mais, quando chego lá...sem bebo cachaça
com Rei. Fui até o banheiro olhei minha cara, estava meio amassada. Ótimo, é
assim mesmo.
Desci peguei o Kadett, o rádio tocava um pagodão dos mais
ordinários, é, daqueles que eu detesto, feito de enganação sonora, falsidade
franca batucada e surdão. Mas que merda. Foda-se deixei ali mesmo. Noite de sábado
é a saída dos fracos no meu entender. Os mais fodas saem quinta, os melhores
saem as sexta e os fracos no sábado. Hoje eu estava entre os fracos.
O carro ganha as ruas de Pelotas, rasgando uma neblina
densa, quase chuva. Gosto do tempo assim, as luzes dos postes são como sois
aniquilados respirando com dificuldade. Em alguns minutos estou estacionando na
frente do Bar do Rei. Mas tudo estava calmo como imaginei. Não havia pagode
esta noite. Alguns bebiam sua cachaça no balcão e mesinhas de plástico. O bom
cheiro do local, esgoto invadiu meu nariz. Desci, dei boa noite ao Pacholé...o
cara que atende no bar:
-E ai Pacholé... qual é? Cadê o Rei?
Por vezes tenho medo perguntar estas coisas...a vida é
perde e ganha...uma coisa é certa, um dia todos desaparecemos. Ainda bem.Pacholé
sorri e larga:
-E ai Fabiano...tudo beleza? Porra cara...tu
desapareceu...onde estavas? Preso? (risos) Cara, o Rei estava por aqui... mas
sabes como é, chegou uma senhora ai com um carrão...importado ta ligado? É...
ela desceu, veio aqui no buteco de salto alto e tudo... chegou na mesa do
Rei...eles conversaram um pouco, e ela o levou..há,há,há... sabe como é...
Claro que eu sabia, Rei é bem relacionado, muitas
mulheres de grana da cidade... vão ao Navegantes trocar uma ideia com Rei das
Bucetas. Pacholé fala sempre demais.
-Ok Pacholé... então coloca uma pra mim vou ficar por
aqui... mesmo vá que...
-Vixe... a Jussara cara?
-Que tem Pacholé? Cara essa mulher é louca por ti... todo
o Navega sabe...e tu sabes também...
Pacholé, é um negro magrinho, que veste uma bombacha e
camisa branca... quer dizer... quase branca... existem detritos naquela camisa
que jamais saem... não importa o quanto lave. Ele sempre me fala bem de
Jussara...e sinceramente acho que ele gostaria que ela gostasse dele...talvez
desse pra ele, mas nunca me diz nada. Que fazer, Jussara é uma mulher grande,
forte...e fode como se fosse morrer, o que a torna uma criatura especial, é
passional até os ossos... tenta me entender. Mas nunca é fácil. Relacionar-se
comigo não é fácil, sou instável, não tenho planos de vida, nunca sei o que vou
fazer amanhã... nunca. Dizem que é impossível viver assim... eu vivo, você
aprende a não ter planos...e vive o desenho que a vida se manifesta.
A cachaça veio, um copo inteiro liso, fiquei ali junto ao
balcão trocando uma ideia com Pacholé. Então da entrada no bar a Lady Zu. É
preciso explicar um pouco. Lady Zu, é uma mulher muito grande... gorda mesmo,
ela tem uma inimizade com Jussara... Lady é loira falsa, com cabelos queimados
e parte do cabelo loiro e a raiz negra, ta sempre comendo e falando muita
merda. Ela faz um perfil boca do lixo total. Barraqueira, gosta de brigar e já saiu
na porrada com muitas mulheres do local. Agora lá estava ela.
Vestia uma sainha curtinha preta e gasta... que quando
andava mostrava parte da bunda, ela estava com um fio dental vermelho( deu pra
ver no andar) e estava já meio alterada. Ela é muito louca, gosta de cocaína...
e bebidas e outra boletas.
Ela veio vindo...até chegar a mim. Então...colocou a
mãozona sobre meu ombro direito...e a tetas dela tocaram minhas costas...
-Olha só quem ta ai... Fabiano da Navalha...há, há, há...
e ai meu negro... tudo bem?
A puta fez aquela voz sensual, sabem como é?De mulher querendo confusão sabe...
-E ai Lady... tudo tranquilo...
-Claro meu negro... to bem tranquila hoje...há,há...viesse
hoje ver o Rei ou aquela tua vadia?
-Ei Lady...tranquila ok... talvez ambos ainda não sei...
Lady, não gosta de mim...mas me daria se eu pedisse...
pra ela orgulho é mais importante que buceta. Acho que muitas são assim.
-O Pacholé...serve um pra mim também...
-Lady... vai pagar?
-Coloca no caderno...eu pago.
Eu senti que como se o ambiente estivesse sendo carregado
de explosivo... nitroglicerina pura, C4, dinamite, uranio enriquecido pronto
para bomba nuclear. Mas que merda, lá estava eu no olho do furacão...aqui vamos
nós...
Continua...
Luís Fabiano.
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