"Portanto devo refazer o conto.
Agora esta muito mais
forte. Sem uma única mentira Só mudo os nomes. Esse é o meu oficio: revolvedor
de merda. Ninguém gosta disso. Não tapam o nariz quando passa o caminhão do
lixo? Não escondem as latas de lixo nos fundos das casas? Não ignoram os
varredores de rua, os coveiros, os limpadores de fossas?
Não sentem nojo quando
ouvem a palavra carniça? Por isso tampouco sorriem para mim, e olham para o
outro lado quando me vêem. Sou um revolvedor de merda. E não que esteja
procurando alguma coisa na merda. Geralmente não encontro nada. Não posso
dizer-lhes: ”Oh, olhem só, encontrei um brilhante no meio da merda, ou
encontrei uma boa ideia no meio da merda, ou encontrei uma coisa bonita”. Não é
assim.
Não procuro nada e não encontro nada. Portanto, não posso
demonstrar que sou um tipo pragmático e socialmente útil. Só faço como as
crianças, que cagam e depois brincam com a própria merda, cheiram, comem e se
divertem até que chega mamãe, tira ele da merda, dá banho, perfuma e ralha com
eles, dizendo que não podem fazer aquilo.
Só isso. Não me interessa o decorativo, nem o bonito, nem
o doce, nem o delicioso. Por isso sempre duvidei de uma escultura que foi minha
mulher durante algum tempo. Havia em sua escultura um excesso de paz para que
pudesse ser boa. A arte só serve para alguma coisa se é irreverente ,
atormentada, cheia de pesadelos e desespero. So uma arte irritada, indecente,
violenta, grosseira, pode nos mostrar a outra face do mundo, a que nunca vemos
ou nunca queremos ver, para evitar incômodos a nossa consciência.
Pronto .Nada de paz e tranquilidade. Quem conseguiu o
repouso no equilíbrio esta perto demais de Deus para ser artista ".
Extraído de:
Trilogia Suja em Havana – Pedro Juan Gutiérrez
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