Estela, Toni Feroz, merda e alguns traumas...
Final.
Estela parecia incomodada com aquilo também. No meu
entender, havia coisas demais acontecendo ali... Era preciso dispersar. Pergunto
a ela:
-Que foi Estela?
-É a minha amiga... Ali... Apanhando...
-E ai?
-Não sei entro nessa... pra ajudar... Tenho medo...
O povo estava aos gritos. As pessoas gostam de guerra, de
brigas e gostam de levantar a taça com o vencedor, mesmo que seja um vencedor
de merda... Ninguém gosta dos derrotados.
-Olha aqui... Acho que você não parece em condições de se
meter nisso... E além do mais, se você tá em duvida é porque não quer...
-É... é..
Ela estava enxugando as lagrimas.
Eu já achava que não deveríamos estar ali... Que deveríamos
beber um pouco mais, anestesiar tudo. Mas que merda, a vida tá sempre a 180 km
por hora... Será que dá pra desacelerar?
Fiquei olhando briga, as putas eram boas, sopapos, socos
e chutes na cabeça da mais bonita... Era a poesia fantástica dos alucinados
sebentos.
Estela apreensiva, quando finalmente a coisa pareceu
acalmar, liguei o carro e saímos dali, andando bem devagar. Gosto de andar
assim... A quarenta, deixando a lenta do carro tomar conta de tudo... eu só
olho a paisagem, as sombras do porto as três da manhã, são coisas lindas, as
vezes tiro fotos de Pelotas Tatuada, as vezes paro em algum lugar ermo, ou uma
mijada no meio da rua... Coisas que dão pra fazer no inverno, vou deixando
minhas marcas por ai... Pedaços de Fabiano, cagados e mijados nas ruas de
Pelotas. Eu não estava feliz agora. A angustia de Estela havia me contaminado.
Tava a fim de despacha-la em uma encruzilhada da vida, e seguir a minha... É
foda, por vezes você se cansa dos problemas dos outros. Não quero mais saber
dos problemas dos outros... Quero viver... Quero que o mundo viva, e esperar o próximo
instante a próxima respiração...
Isto também acontece, por vezes como um pescador maldito
você lança suas linhas... E pega nada... Olhei para Estela... Ela me cansava,
Estela triste demais... Acabada, chapada, cheirada, suja, cheirando a noite... fudida
talvez? Talvez.
-E ai Estela... Tá bem?
-To bem nada... Me ferrei, minha vida já era...
Estacionei o carro nas proximidades do Porto... Um navio
parado ali... meio no escuro, dava o tom, imóvel ancorado, aquele lugar não era
muito seguro esta hora... A vida é risco.
Desliguei o carro e o radio. O Kadett agora era uma arena. Iriamos exorcizar demônios...
Ou iriamos fuder e talvez morrer ou ser assaltados... Vai saber.
-Estela o que houve? O que aconteceu pra te deixar assim?
-Deu tudo errado... Tudo errado.
Ela era aquele tipo de pessoa que tem muita pena si
mesma. Conheço muita gente assim, que sofre e gosta de sofrer. Você escolhe.
Conheço gente também que passa por cima de traumas... Gosto dessas... Gente que
não consulta um terapeuta porque a sua vida deu merda, elas engolem a merda toda...
digerem tudo e a vida segue...
-O que foi que deu errado?
-Fabiano... meu casamento para começar...
-É? Tudo bem... Sabes quantos meus deram errados?
Todos... Mas conta ai...
Eu já estava beirando a indignação, quando isso começa a
acontecer fico meio brutal...
Ela faz uma carinha triste...
-Bem tu sabes que quando eu era mais nova, eu era tipo,
meio pura... Minha cabeça era cheia de ideias... Queria casar virgem, muito
embora tu também saibas que eu transava, mas a virgindade vaginal era um titulo
que eu queria carregar... e carreguei.
-Sei...
Grandes merda pensei.
-Depois nós nos afastamos... Tu te mudaste para outro
local... Bem e minha vida também mudou. Arrumei um emprego legal... e tudo se
encaminhava para que eu encontrasse depois do emprego uma pessoa bacana...que
me fizesse feliz...
-Acho que teu erro tá aí... as pessoas não te fazem
feliz... É você feliz ou não é feliz... Colocar a felicidade em cima dos outros,
é terrível... Mas segue...
-É demorou um pouco para que tudo acontecesse, mas
aconteceu...
Eu pensava comigo: puta merda Fabiano que ideia idiota...
Tu imaginou que iria comer essa moça?? Começava a ficar com vontade de deixa-la
mesmo...
-Então eu conheci o Toni. Nossa um cara super educado,
gentil e lindo. Aquilo foi algo... Uma questão de três meses e estávamos saindo
e curtindo juntos. Tudo estava certo agora... Em minha mente eu iria casar com
esse cara... Teríamos filhos... viveríamos uma vida boa. Ele trabalhava em uma
empresa que estava bem sucedida... Me trazia flores, me enchia de carinhos... Um
doce.
-Desse pra ele?
-Dei... mais ou menos...
O semblante de Estela agora era uma tristeza pungente.
-Em uma questão de um ano, nos casamos. E até aquela
noite, eu não havia transado com ele na frente... só atrás... Ele entendeu na
boa, Toni era maravilhoso, que homem paciencioso e tranquilo.
Eu pensava: onde esta a minha garrafa de rum?? Puta que
pariu.
-Sei Estela...e onde foi que o paraíso ruiu?
-Bem quando então compramos nossa casa... E casamos tudo
certinho. Na noite de núpcias... Toni havia bebido um pouco mais... Estava meio
diferente, a voz rasgada, meio despenteado... Com um olhar que até a li eu não
havia visto nele.
Chegamos ao quarto tirei o vestido de noiva, fui ao
banheiro para vesti algo lindo que havia comprado para nossa primeira noite
como esposos... Teria que ser especial... Compre um baby doll francês... justinho...para
provoca-lo mais... Coisa linda...
Estela respira fundo, como se buscasse folego para
colocar pra fora tudo aquilo... Como uma novela dos infernos, agora eu queria
saber a porra do final... já que a puta havia me alugado todo esse tempo... Então
foda-se... vamos lá.. Vamos beijar o rabo do capeta...
-Então quando sai do banheiro... Toni estava pelado... Peludo
como um urso e o pau muito duro, ele te tem pau grande... Mas não sei. Então
quando a porta se abriu... Ele começou a debochar de mim: QUE ISSO ESTELA?
HEIN? QUE MERDA É ESSA QUE TU VESTIU? TA PARECENDO UMA CADELA... HÁ,HÁ,HÁ...TIRA
ESSA MERDA E VEM PRA CÁ PUTA... Então ele me agarra... Rasga a roupa toda... Eu
não entendia nada do que estava acontecendo... Toni nunca foi assim... Toni era
legal...Toni...(ela começa a chorar).
Aí ele me agarra... Coloca o pau de uma única vez na minha
buceta virgem Fabiano!!! Que dor horrível... E Toni agora não parecia mais
Toni... Toni era o diabo, Toni era o lobo alfa da matilha... ele enfiava o pau
de novo e de novo e de novo sem parar... Gemendo com feito um animal, Toni um
porco me estuprando e rindo as gargalhadas, me chamando de puta, vadia cadela.
Toni se transformou em uma hiena feroz... Me atacando e não parava, não
parava... Tirava o pau da buceta e colocava no cu de uma única vez... E de novo,
aquilo durou um tempo internável, ele era um bicho... Só parou três horas
depois, porque estava cansado e porque viu muito sangue nas roupas de cama... Eu
sangrava e não conseguia emitir nenhum som... nada...eu me perguntava quem era
o homem?? Quem era aquele cara? Rindo feito um louco, me comendo feito um
animal... Gargalhava como um bêbado alucinado.
-Ual... Estela... Ele nunca fez nada semelhante?
-Nunca, jamais... Toni era o meu príncipe encantando... que
se desencantou e me estuprou...
-Príncipe encantado o caralho... e depois?
-Depois ele não mudou mais... Toni era uma farsa... Como
pode? Toni passou há beber todo dia... Quando me recuperei, ele transava comigo
todos os dias... era uma foda horrível... Ele sempre com aquele pau duro feito
um ferro quente... então enfiava em mim a seco mesmo, no cu, na buceta... Tudo
me lembrava da primeira vez... Machucava e ele gozava... E acabava... Todos os
dias... Mais de uma vez por dia... Depois disso começou a me bater... Toni é feroz...
me batia quando não gostava da minha cara...eram tapas fortes.
Um dia ele me pegou conversando com um vizinho que era veado...
Estava conversando nada demais... Toni veio... Toni deu um soco no queixo do
cara... O cara apagou... e Toni chutou ele varias e varias vezes, aos gritos:
morre filho da puta...mexe com a mulher dos outros...ela é minha mulher, morre...morre...
Eu sou o Toni Feroz!Seu veadinho de merda.
-Estela e como você resolveu a situação?
-Não resolvi... Sai de casa... e não volto nunca mais.
Conheci outras pessoas... Que ajudaram... Inclusive aquela minha amiga lá do
bar, que me deu acolhida...
-A que estava apanhando?
-É...
O chão se abriu debaixo de meus pés. Seres humanos são
foda. Mesmo com tudo certo... É difícil ser justo. Vidas individuais,
pensamentos individuais, sentimentos individuais, é uma briga consigo mesmo
para viver, para estar em paz, para ser feliz... Não quis mais ouvir aquilo. Eu
pensava agora na amiga dela que havia apanhado... Onde estaria? O que é preciso
acontecer em nossas vidas, para que as coisas tenham um significado profundo?
Hein? Você já se fez essa pergunta? Que merda.
Liguei o carro e voltei para o Bar, que ainda estava
movimentado. A amiga de Estela estava lá, encostada em uma parede, sangrava um
pouco na testa... Não parecia ser sério, parecia estar dormindo bêbada...
Encostei e desci, Estela me acompanhou... Pegamos a moça
e colocamos no carro... Ela estava com
uma saia muito curta... E acho que havia esquecido de usar a calcinha... bem...
Não dá pra deixar de notar essas coisas... Mas não era caso agora...
Quando você se envolve com algo... É preciso ir até o fim,
eu fui.
Juliana estava machucada... Mas não iria morrer. Levei as
duas para casa de Juliana. Estela estava muda no caminho, consumida por mais
uma culpa. Chega de Estela. Abrimos a porta, peguei Juliana no colo, como um
noivo pega a noiva, ela estava flácida. A deixei no sofá... Parecia mais
confortável.
Estela pega agua quente... Curativos e começa a limpar as
feridas da amiga. Eu me sentei na poltrona... Não sei o que senti. Lembrava da
briga... De Toni Feroz... Das lagrimas
de Estela... Senti que me faltava o ar e o estomago nauseado.
-Estela, vou indo. Por hoje chega... Não quero mais nada.
-Obrigada Fabiano... Hoje tu foste um anjo...
Ficamos nos olhando... Acho que não sou um anjo.
Luís Fabiano.
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