Conversas de um Bar semi-vazio
Talvez seja isso, depois da meia noite a vida é mais
real, não há porque se esconder... não é mesmo? Tudo isso teoria furada... Eu
não me escondo, sou boca do lixo, sou o caldo das sarjetas, sou paixão
desenfreada, sou a sede de vida, e grito ecoando em uma noite fudida...
Noite fria... E Pelotas adormece. Bons sonhos Princesa do
sul... Pois vou viver, enquanto dormes. São mais de meia noite, desço e ligo o Kadett,
deixo o motor funcionando soltando vapor pelo cano... Tragando o frio e fazendo
o calor surgir das entranhas. Puta que pariu, esta é a vida, estamos sempre precisando
transformar as coisas... Gosto disso, tento transformar as coisas a minha
volta... Sem pretensão, vivo.
Vou saindo devagar, o portão se abre, Pedro Lixo estava
ali... Me olha com uma cara muito estranha, parecia com mais frio que ontem... talvez
ele quisesse uma bebida como da última vez? Mas a vida não se repete jamais... nada
é igual, o que você perde... Perdeu... E por isso sempre digo, viva o mais
intenso que puder... Porque o depois, é sempre uma ilusão.
Avenida Bento é um deserto ártico, penso comigo: porra
Fabiano, tais fazendo o que na rua? Hoje não tem nada cara... Te liga... Eram
os demônios e anjos brigando no meu ombro. Geralmente não escuto o anjo e seus
bons e sábios conselhos. Escuto o outro cara. Tenho sede, algo que dê aquele
brilho nesta noite de merda. Vou subindo minhas ruas tradicionais, putas,
travestis não estavam presentes. Descido voltar para Bento agora em direção ao
Pássaro Azul, a igreja dos condenados esta sempre aberta.
Estaciono o carro e desço.
Poucas almas ali, era um lugar aprazível, as portas
fechadas, o calor humano, álcool e cigarro. Uma das conhecidas frequentadoras
do bar, estava por lá... Olhava a televisão aleia a este mundo. Ótimo. Fui ao
balcão, fui saudado e pedi o clássico rum, dose caprichada. Fiquei por ali
mesmo, também fiquei olhando a televisão, imerso em mim. Com uma igreja o local
estava em silencio.
Porem a paz é algo assim, não demora muito e dois caras
dão entrada no local, estavam agitados, chapados e dispostos a incendiar o
local. A atendente olha pra eles de canto, e todos nós olhamos para eles.
-E ai pessoal... e ai... Isso aqui é um bar... Vamos
tocar a musica... beber e se chapar...
Eles estavam certos... Mas o Pássaro é mais que um bar, e
domingo... Bem...
-Certo pessoal... mas tranquilo hein...o bar tá calmo –
disse atendente...
Eles se sentam, e pedem vodca. Estão ao meu lado... Um
dele me olha:
-Tu que é o segurança?
-Talvez sim, talvez não...
-Qual é cara? Ta me tirando?
-Calma pessoal... calma... Tá tudo de boa, a noite é
grande e tem espaço pra todo mundo...
-Tu é filósofo cara?
-Não sou merda nenhuma...
Esse é o problema dos sem noção. O ambiente estava calmo...
e eles queriam incêndio... Naturalmente não gostei deles, mas se ficassem na deles...
tudo ia dar certo. A velha frequentadora do bar, pareceu acordar com essa confusão...
e ficou olhando para os caras, com algum interesse. Comecei a rir... Era lindo,
a ilha dos desesperados a procura do ouro enterrado... pelo velho pirata. A
velha começou a conversar com eles... E o mais agitado ainda estava na minha
volta...
-Claro que tu és filósofo, vou te dizer cara... Nós somos
a “Anarkia”... ta ligado mano?Somos do movimento...
-Sei cara... tudo bem , assim ó... Fica de bom ai... bebe
e sê feliz...o resto não me importa...
-Tu não é filosofo de nada... tu és um merda alienado...
A voz dele agora começava a me irritar. Mas eu não
brigo... Sou um derrotado por natureza... prefiro que você ganhe...prefiro que
o tigre fique preso, prefiro ser o sebento adocicado das valetas...isso confunde
um pouco as pessoas...pensam que sou fraco ou idiota. Por vezes é melhor ser
fraco e idiota. Tudo bem, os derrotados sobrevivem... As baratas sobrevivem.
-É isso ai.
A velha chama o cara:
-Deixa esse idiota ai... Me diz aí... pra onde vocês vão,
depois de sair daqui...hein...
-Vamos por aí... E ai queres ir junto?
-Opa... É claro... E qual será o preço?
-Isso nos “vê” depois...
Eles riam... Tudo que queria, que fossem embora... e
fudessem por ai... Não demorou muito eles saíram porta a fora... Havia silencio
e a televisão, por vezes Deus ouve alguma coisa. Que merda... A atendente do
bar me olha... Sorri um sorriso sem graça... era apenas eu e ela lá dentro... Então
diz:
-Fabiano... preciso fechar o estabelecimento... Tudo bem?
-Tudo bem...
Paguei a conta e sai. Existem dias que realmente nada
acontece... Nada mesmo.
Luís Fabiano.
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