Bar do Sujeira, Gringos e Alguma Putaria.
Parte-1
A noite cai uma vez mais, segunda-feira. Vivo a noite, e parte dela
também sou eu. Cães uivando na madrugada, o frio descendo seu manto sobre todos
nestes dias, as ruas ficando vazias e as estrelas solitárias são minha
companhia.
Ótimo assim. Me sinto bem, e estou saindo do trabalho, minhas asas se estendem ao cruzar a porta de saída. Tenho sede, tenho fomes, o frio é chicote acertando a face... Eis meus prazeres sadomasoquistas em desfile. Estou em casa quanto maior for o frio, gosto de sentir dor, as porradas da vida me excitam... Me sinto vivo.
Meu telefone não toca... Me sinto algo esquecido. Enfim tudo parece voltar ao normal, parece que todas as putas que conheço estão amando alguém... ficam mais calmas com o amor. É o que eu digo, amor é foda.
Caminho lentamente até o Kadett. Vou circular a noite... a
noite viva de Pelotas, com seus fantasmas nas esquinas... As festas decadentes,
vampiros e serpentes a procura de suas vitimas, a puta feliz com cinquenta
reais na mão. Eis os meus mestres, os derrotados, os que querem tirar uma
vantagem de você, os mesquinhos, é isso, estou indo ao encontro deles.
Ligo o carro, ele ronrona como um gato rouco, sintonizo a
radio União... BB King toca... puta que pariu, blues é do caralho mesmo. Sabe quando esta sozinho, e aquela musica
entra rasgando as percepções, os sentidos... e fazendo bem? Sim eu creio nisso,
felicidade gratuita, viver pelo simples prazer de viver, sorrir gratuitamente,
dar um beijo em uma boca desconhecida, sem que isso precise se tornar uma foda
das galáxias, trocar palavras simples sem segundas intenções... É sou assim
mesmo. BB King me faz bem... A musica é You Shook Me.
Então percebo que tenho feito muitas coisas ao mesmo tempo, isso cansa pra caralho… e de alguma forma preciso dar um tempo, relaxar um pouco... Ser invadido pelo nada e ficar ali de boa, apena deitado, comendo e cagando eventualmente, por uns dois ou três dias assim... e depois disso vem a ressurreição. Mas por agora foda-se...
Arranco com o carro, a Gonçalves Chaves é uma disputa sinistra, diversos perfumes invadem meu nariz, gente demais, todos indo para algum e lugar algum... Uma mulher de minissaia e salto alto me chama atenção... Ela caminha sozinha, a saia é curta... Coxas grossas, rebola bem a bunda... Quer mostrar seu poder... Esta exalando sensualidade, pensei: E então Fabiano? Quem sabe? Terias alguma chance? Porque não? Nunca sabemos... Por vezes desejamos algo e isso é frenético... Mesmo sem saber se aquilo vai combinar com tua energia... Se vai haver sintonia... e eu funciono assim as vezes... Preciso de uma sintonia para funcionar... Uma ponte feita de querer e vinculo, carinhos e alguma amizade... A partir disso tudo é possível. Mas não minto... Fodo por foder também... Embalado por bebidas e desejos loucos... O cavalo no cio, a vaca deleitada com a xoxota leitosa ejaculando vontades, a vagabunda celestial gritando coisas caóticas, enquanto o diabo ferve nossas almas em fogo brando no caldeirão da puta que o pariu. A vida é maravilhosa mesmo, me nego a perder um único segundo... Não há tempo.
Pensei: ok... Mas não, talvez eu bata uma boa punheta por
esta desconhecida mais tarde, por tudo aquilo que ela não mostra através de sua
roupa gostosa.
O que não se vê é a imaginação... E na real? Por vezes a imaginação é milhares de vezes melhor que a realidade.
Fui em direção ao porto, o porto é minha segunda casa, é
a mãe perdida com as tetas cheias de leite... Não perco tempo, procurando algum
novo boteco...
Vou direto ao Bar do Sujeira. Sinto saudade dos desgraçados. É aquela frieira no pé, que você gosta de coçar...
Vou direto ao Bar do Sujeira. Sinto saudade dos desgraçados. É aquela frieira no pé, que você gosta de coçar...
O bar esta cheio, muito cheio... Porta escancarada e
Sujeira ao Balcão ainda sério... mas parecia satisfeito com o movimento. Ele
mantem a cultura daquele lugar, aspecto meio sujo, balcão engordurado, o seu
bigode espesso... A careca com alguns poucos cabelos do lado... E aquele cheiro
do local... cheiro humano, mistura de banheiro, suor de cavalo e perfume francês.
Chego até o balcão...
-Boa noite Sujeira... Casa cheia hoje hein...
-Ééééééééééé... E ai, que vais querer?
-Porra Sujeira, animado hoje hein?
- Ééééééééééé...
Dou uma boa olhada no local... De certa forma senti meu território invadido. Sotaques estranhos, gente do meio do país falando “carioques”, falando como nordestinos. Nada contra, mas onde andariam os da minha turma de sempre? Onde estariam Rebeca Sharon? Já teria feito a operação? Fiquei de comer ela depois que ela fizesse. Onde estaria o Gigante Aleijado? Onde as putas fumadoras de crack, trepando por dez reais? Onde estariam os vencidos?
-Um rum Sujeira... Duplo... Porque existem coisas que só bebendo mesmo...
-Ééééééééééé...
Eu era um estranho no ninho, em minha própria casa. E por algum instante o momento me pareceu triste, mas não queria pensar. Eu fazia a viagem bipolar de minhas texturas mentais... Minha alma na montanha russa... Arquejando de vomito e depois fodendo a lua cheia. Era preciso dar um tempo. A bebida anestesia a vida... A bebida dobra as esquinas, a bebida torna as pessoas melhores... Logo então, eu iria beber mais. Lembrei que já havia tomado até Santo Daime uma vez... E tivera um encontro sagrado, talvez isso que faltasse um encontro com o sagrado? Sou assim, deixo os pensamentos caóticos mergulharem... Um dia eu conto esta historia em detalhe... para vocês...
Eu era um estranho no ninho, em minha própria casa. E por algum instante o momento me pareceu triste, mas não queria pensar. Eu fazia a viagem bipolar de minhas texturas mentais... Minha alma na montanha russa... Arquejando de vomito e depois fodendo a lua cheia. Era preciso dar um tempo. A bebida anestesia a vida... A bebida dobra as esquinas, a bebida torna as pessoas melhores... Logo então, eu iria beber mais. Lembrei que já havia tomado até Santo Daime uma vez... E tivera um encontro sagrado, talvez isso que faltasse um encontro com o sagrado? Sou assim, deixo os pensamentos caóticos mergulharem... Um dia eu conto esta historia em detalhe... para vocês...
Olho para uma mesa vazia... Corro para ela. Agora sim... Instalado, sentado, confortável... E observando a vida ou a anti-vida. O Sujeira traz a bebida. Meu rum é sempre assim... Dose dupla e uma pedra de gelo. Aquele rum era barato... algo parecido com diesel...tudo bem.
-Obrigado Sujeira...
- Ééééééééééé...
-Tu só sabe ficar rosnando isso cara?
-Ééééééééééé...
-Puta que pariu...
- Ééééééééééé...
Desisti do assunto. Era muita comunicação pra mim. Ficaria ali um tempo... bebendo feliz... Mergulhado em nada... Pensei na possibilidade de visitar o Rei das Bucetas... Meu amigo, mestre, homem calejado pelas virtudes e pela dor... Mas não. Queria muito que ele me desse uma entrevista... mas ele já disse que não. Agora já estava sentado...
Então estou ali... Passaram uns quinze minutos mais ou menos... Do nada surgem uma mulher meio ruiva e um cara, parecia ser gay... Olho bem pra ela... A puta era bonita. Cabelos ruivos pareciam naturais... Tinha por volta de trinta anos, um vestido comprido... seios bons e grandes... Sorria fácil como quem cheirou cocaína... Olhos brilhavam como os de uma gata no escuro... Conheço aquela expressão facial com boca da Nike... O cara muito magrinho, parecia ser mais novo que ela... Cabelos curtos, falava fino, muito branco cabelos pretos e curtinho...
-O senhor sentou na nossa mesa - fala a puta com uma cara irônica... Tentando dar o golpe...
Dei um bom gole no rum... Antes de responder, pedi outra dose para Sujeira, e então olhei bem pra ela, que estava impassível parada na minha frente... rindo.
-Boa noite... Tudo bom, tudo bem? Seguinte amor... A mesa estava vazia há quinze minutos... Isso praticamente é uma deserção militar... ok? Relaxa... fica gel.
Ela olha pro cara... Sorri... Não sei por que, fiquei com um pressentimento disso. Essa é a noite seu merda... Ela esta sempre pronta pra de dar o golpe fatal... Fique ligado seu merda... Não pense na buceta dela...
-Tudo bem... Se queres ficar com a mesa fica... a gente da o nosso jeito...
-Calma ai preciosa... Calma... Relax... Meu coração é
como um puteiro... Sempre cabe mais alguém... Arruma cadeira pra vocês... E
sentem ai... Daqui a pouco vou vasar mesmo... Então...
Eles arrumam as cadeiras e sentam. Silencio na mesa. Finalmente o veadinho fala sotaque de baiano:
-O senhor vem sempre aqui?
-É minha segunda casa... e vocês de onde são? E outra... corta
essa de senhor...
-A Fernanda é São Paulo e eu sou o Molier do Paraná...
Fernanda esta agitada... Cheirou demais. To ligado nela.
Pede uma bebida.
-E que porra vocês vieram parar em Pelotas?
Fernanda atropela:
-Estudar... Somos da Federal... ta ligado?
-O que fazem?
-Curso de cinema...
Pareciam ser gente do bem. Mas gente de bem também tem dentes...
Segue
Luís Fabiano.
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