Navalhadas Curtas: A vida não é vinho...
Tive um caso tosco e breve com Vivi. Eu sempre me envolvi
profundamente nesta época... Talvez por ingenuidade, burrice e imaginando que a
outra pessoa pudesse dar algo...
Na época, ela era cheia de pudores e preconceitos: não
faço isso, não faço aquilo, tenho vergonha... entendi tudo porem não aceitei. Sou
assim, nunca ninguém sabe exatamente o que estou pensando, prefiro assim, se
tiver que atacar que seja inesperado... pra mim funciona. Então foda-se.
Um dia a deixei, sem mais nem menos. Me cansei das
limitações. Não nos falamos mais, até ontem, quando a encontrei na rua.
Puta que pariu. A vida é vinagre. Vivi, não é mais nem
sombra da mulher que era... Não sei exatamente o que senti ao vê-la.
Olhos apagados, corpo magro do vício de crack... Dentes
meio amarelados, tetas murchas, pernas finas... olhar de gente maluca. Ela me
reconheceu:
-Fabiano... Fabiano... cara quanto tempo hein...chega
aí...
-Viviane... É muito tempo... Tu estas...
-Horrível cara... to um monstro eu sei... vejo pela tua
cara...
Pensei se atenuaria... Achei melhor não:
-É...
Ela se abraça a mim, num impulso inesperado... E chora
convulsivamente. Tem minha idade e parece uma criança. Essa é a merda da
verdade. Eu não tenho a solução... e ela teria forças pra mudar o próprio destino?
A abracei forte e lamentei. Ficamos nisso alguns minutos.
Ela se acalma.
-Fabiano... tu és uma das minhas melhores memórias...
tenho saudade daquela época...
Sorri e disse:
-Lamento Vivi... eu não causo boas memórias pra ninguém...
Você deve estar muito mal mesmo hein?
Ambos rimos...
E por um breve instante ela pareceu ser a Vivi de
ontem... Puta que pariu... o que somos capazes de fazer conosco mesmo?
Conversei mais um pouco e fui. Vivi agora é prostituta.
Luís Fabiano.
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