Lágrimas, Marião em surto e putas de fogo
Bom estar de volta a noite. Andei ocupado muito tempo com
tantas atividades, que por vezes pensava: porra, tornarei a mim mesmo, um dia?
Tinha saudade do que sou... Por mais imprestável que pareça, gosto de cheirar a
minha própria merda fresca.
Foda isso, terrível você se perder de si mesmo, não
recomendo. O mundo pode dar voltas, as horas podem passar, e as tempestades
darem lugar a coisas melhores... Mas
nunca perda-se de si. Vemos isso toda
hora, todos os dias... As pessoas abrindo mão de si mesmas... E depois o
natural resultado. Merda e decepção, nada além de você mesmo, é capaz de dar
felicidade e paz para você.
Não tenho planos traçados... Gosto assim... Não presto
para planos metodicamente calculados no futuro, vivo do improviso, gosto que a inteligência
fale, isso me excita muito... Tanto quanto o rum.
Estava abrindo uma garrafa novinha de rum... É ótimo, é como lamber o cu de uma mulher
quando ela deseja, e você lambe lentamente, lentamente e enfia a língua lá
dentro e depois torna a lamber. Dei o primeiro gole direto no bico... Deus... isso
é muito bom. Eu estava apenas esquentando as turbinas... A próxima escala? Os
braços do diabo direto no inferno de Pelotas...
Coloquei um blues maldito... BB King castigando Lucy... Puta
que pariu... a vida não poderia ser melhor, não é mesmo? Solidão, musica e
bebidas... Nada e ninguém nesta vida, poderiam me dar isso neste instante. La
estava eu, o equilibrista da navalha... Vivendo, me ferindo e sendo e sendo
feliz dentro do possível. Isso seria paz? Não sei, não tenho as respostas... Mas
neste segundo eu diria que sim... e no próximo...
Minha disposição ganhou asas. A noite é um abismo negro,
um tornado devastando o universo, o cu de um deus chamando para uma trepada
santificada... Começo a gargalhar sozinho... Eu e meus pensamentos loucos.
Calibrei o rum mais um pouco.
E agora ouvia minha vizinha do andar de cima, brigar com
a filha... Ambas tem idade... a mãe é uma sessentona...e a filha tem trinta e
poucos. Elas sempre discutem muito, dizem coisas terríveis, se ofendem... E
depois tudo vira silencio. Arrependimento? Sei-la .Fiquei na minha...
-Tu não passas de uma vagabunda – disse a mãe...
Eu não posso discordar dela de todo... Aquela mulher
gostava da função... já a havia visto no elevador...e nos corredores escuros do
prédio, eu mesmo rocei as mãos naquelas tetas no elevador... E sorriu
consentindo... Ela ganhou o meu respeito ali.
-Para de me controlar, mãe... Vai viver... vai dar a tua
buceta...vai dar o cu
pro diabo coçar...tu precisa é de um macho de verdade, e
não daquele broxa que tu chamas de companheiro...
Gosto da minha vizinhança. Eu moro no centro... E mesmo aqui, as pessoas se comportam como na
periferia... É isso, é do ser humano... O amor, o ódio e a trepada são os mesmos...
não há diferença em nenhum lugar do mundo...
Quanto ao velho broxa... a filha tinha razão... O cara era
muito devagar, vivia com o cão poodle no colo, chimarrão e andava de um lado
para o outro no prédio? Que vou dizer a respeito? Nada. De qualquer forma a
filha era interessante. Fazia o estilo mulher grandalhona, cabelos compridos,
tetas imensas, coxas vastas e sempre vestia roupas mais curtas. Perfeita.
Desconectei da briga. Que se fodam, daqui a pouco elas
voltariam as boas... Sempre voltam. Eu tinha um copo de rum para administrar.
Não tinham o perfil de se matarem. Tudo bem. O rum fazia a dança macabra em meu
peito, atiçando a voracidade, escabelando desejos... Deus... Me torne o mais
filho da puta possível hoje? Hein... E você Demônio, me torne o mais santo possível?
Eles jogam conosco, agora eu jogaria com eles também.
Não perco tempo, quero a rua... Olho as horas, uma e trinta e sete da manha...
Coloco a camiseta e saio. Não vou de elevador, vou pelas escadas, encontro a
vizinha chorando no escuro. Muito típico, dou uma breve parada:
-Boa noite, Kátia, tudo bem?
-Não... Não muito... Briguei com a mãe...
-Sei como é... Tem dias que a noite é foda... ( sempre
digo isso)
Ela ensaiou um sorriso.
-Posso ajudar?
-Não creio... Problemas e mais problemas... Fabiano... Mas
um dia passa...
-Não sou psicólogo ou terapeuta Katia... Mas olha ai... uma
bebida eu posso te pagar... As coisas se
aliviam... E depois você dorme... E amanha é outro dia... É assim que se fazem
as coisas...
A tristeza dela mexeu comigo... Mas não pense que sou solidário...
Nada disso, aquelas lagrimas caindo nas tetas, no decote profundo e nas pernas
expostas da minissaia... eram diamantes falsificados despertando desejos. Ela
sorri...
-Mas onde iriamos beber?
-Por ai... Faz diferença? Fudido... fudido e meio...
Ela sorriu o sorriso das putas felizes, e minha noite
estava começando. Gostei disso, tem dias que tenho sorte... E tudo cai de bandeja
no meu colo. Peguei a mão dela e saímos para rua. Entramos no kadett (fudet),
ligo o radio, uma musica tecno tocava. E naquele instante parecia que ela não
tinha mais problemas. Arranco o carro, lentamente... Vamos andando pela
avenida... Ela olhava a rua, acendeu um cigarro, fumava e parecia descansada.
Faço a volta pela Bento, e na frente do Pássaro Azul, quem eu vejo? Em sua
cadeira de rodas turbinada... yes, o Marião.
Da ultima que nos vimos, ele estava com problemas, com
uma puta de rua e um michê , que ele levou para casa... E o pessoal fez um show
erótico, e depois o roubou. Deixou ele fudido sem roupas, molhado e no chão. E
agora ele estava ali... Feliz... e bêbado pelo jeito.
-Kátia eu vou parar ali no Pássaro que achas? Tem um
amigo que vais gostar de conhecer...
-Claro Fabiano... hoje eu to entregue a ti...( piscou o
olho)
Era isso, nada melhor que brigar com a mãe no dia das mães...
E sair para rua pra “putiar”... Essa é a Katia, este sou eu. Estacionei e
chegamos ao Bar. Marião estava com duas mulheres... Do melhor estilo vulgar... Lindas
e bagaceiras, eu gostei de ambas. Apresentei Katia a ele... E ele estava feliz,
chapado e disposto a fazer a sua cadeira decolar para lua.
-E ai Marião... Tudo tranquilo depois daquele dia?
-É... tranquilo umas porra... Aquele casal me roubou
cara... E não ia ficar assim barato, falei com o Negro Nelson... Dei a ficha
pra ele... ele achou os dois... E digamos resolveu a coisa “tranquilamente”...
Não queria saber mais... O Nelson é um cara violento, sempre foi, e
mesmo na escola já dava sinais de loucura e fascinação por porrada. Quanto mais
se batia nele... pior ele ficava... Nas fora isso é um cara bacana... é
importante ter estes amigos.
Marião não perde tempo, estica mais duas carreiras... E
manda pra dentro... Katia sorria fácil, a bebida veio... E agora tudo era uma
festa imensa naquela mesa. Não demorou muito para a coisa descambar para
putaria nefasta. As duas moças que estavam ali... Já estavam chapadas e afim...
a Katia bebeu... E seus peitos quase pulando para fora da blusa... o Marião,
fazia encenação como se tivesse batendo punheta por cima da calça. A proprietária
do Blue Bird, nos olhava de canto de olho... e por vezes sorria... Ela nos
conhece... E uma fogueira no inferno já havia começado.
Agora Marião, estava louco... Acelerado demais, e gritava
a plenos pulmões:
-Vamos fuder... Humanidade.... vamos fuder...prefeito... Vamos
fuder Hitler... Vamos fuder as estrelas...
Todos riamos... A vida estava melhorando. Todos estávamos
bêbados... e alterados... Aonde isso iria nos levar? Eu sabia... E todos sabíamos,
éramos cumplices em um crime futuro... o maremoto batendo no rochedo, as
lagrimas atômicas gotejando no deserto, pássaros voando para além da gaiola...
Continua:
Luís Fabiano.
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