Assalto, Ressaca e os fodas de porra alguma...
Estávamos eu, Maciel, Rogério, Júlio e Alan. O maldito
túnel estava muito escuro, vestíamos preto...
e nos arrastávamos por aquele buraco... Mas essa a vida, tentando fugir da lama,
você precisa se arrastar um pouco por ai...
Quanto maior o risco, maior o
lucro... É assim com tudo... Você que fica na tangente, de fazer algo
simples... Sem riscos... na linha dos medos possíveis, foda-se, você nunca vai
fazer nada realmente relevante... Mesmo serve para abrir uma lata de
sardinhas... É preciso arriscar, se arriscar. Diz Rogério:
-Silencio porra... Agora estamos quase chegando lá... Sem
vacilação pessoal... Hein... Sem vacilo... Porra!
Todos concordamos em silencio cúmplice Diante de mim uma
placa negra, bem aparafusada, mas eu estava com o equipamento em cima. Fiz com
jeito e a placa pesada foi se soltando. Júlio sorria com plena convicção, era
isso... Grana... Caralho, grana... talvez Júlio estivesse rindo de nervoso? Não...
acho que não Júlio...é frio.
Tenho um temperamento gelado... Aquilo era um erro imenso...
Mas todos sabíamos... Estávamos ali pela
grana... grana brohter. Entre culpados não existe inocência, Alan estava
assustado... Começou a questionar:
-Cara... E se nos pegam? Hein? Que merda vai dar isso?
Não quero ir pras grade meu...
Maciel sorriu um riso nervoso talvez:
-Nada não meu... Se a gente cair... Vai cair todo
mundo... Tendeu? E vai ser lindo.. ai´...
Eu:
-É isso... Se cairmos todos estamos fudidos... Então
foda-se, vamos fazer isso bem feito... e desaparecer daqui...
Abri a placa de boa, o Rogério foi o primeiro a entrar...
Acendeu a luz... e puta merda... Era o lugar certo, havíamos acertado a sorte
grande. A sala da grana agora era nossa, era pegar só as notas de cem... Você
já sentiu o cheiro de uma quantidade grande de dinheiro? Porra é bom pra
caralho...
Júlio não conseguiu esconder os dentes:
-“Tamo” feito... Acabou a miséria...
Maciel:
-Porra... E agora,
que nos vamos produzir com esta grana toda hein? Vão ter que nos engolir... hein...
Rogério:
-Nada de comemoração pessoal... Nada... Só se ganha... Quando
sairmos daqui lisos... O pessoal do banco pode chegar a qualquer momento... Então
pressa porra... Pressa...
Que merda... Eu fiquei em duvida ai... Quem era o
Diretor?...
O Alan... estava muito preocupado, mas colocava a grana
nas sacolas...eu tinha certeza que tudo ia dar certo. Já estávamos ali... A uns
sete minutos... Então do nada a porra do alarme disparou...
Respirei fundo... Já senti o gosto das grades na boca...
Rogério aos gritos:
-Bora, bora... bora...bora...porra...bora...porra...
Juntamos o que pudemos, entramos no túnel novamente... Agora
éramos lesmas turbinadas nos arrastando no óleo quente... Conseguiríamos?
Nunca se tem todas as respostas. Nem pretendo tê-las... Quem
pensa que tem... Não passa de um idiota. Os segundos converteram-se em horas,
em nossa consciência. Mas eram segundos...
Por fim conseguimos sair do túnel... E agora olhávamos
por um bueiro, nada de viaturas, policia ou coisa parecia.
Sacos de lixo cheio de dinheiro. Havíamos fudido o banco.
Quando saímos do bueiro, saímos andando até o carro... Entramos no carro, e
então arrancamos, sem pressa, sem culpa. Então quer dizer... Que é possível vencer
o sistema?
Claro que é... E a vitória é de quem vence o sistema... Se você vence... Você tem méritos para não ir
preso ou ser punido...
Os pensamentos eram uma torrente... Quando... Uma viatura
bate em nosso carro... No virando de ponta cabeça... Um estrondo próximo da
morte... Puta que pariu... olhei para o pessoal... Estava todo mundo inteiro...
Sangrando um pouco aqui e ali... Maciel o motora... Estava machucado... Saímos do
carro... Arrastando-nos novamente... Os caros da viatura também estavam
machucados que se fodam... ao que parece era um acidente totalmente
ocasional... Que merda...
Fomos saindo... O dinheiro meio espalhado na rua... Então
na esquina... outro carro de policia... Armas apontadas desta vez... todo mundo
no chão! Devagar caralho...
Meu coração dispara... A ultima coisa que escutei: tá
todo mundo fudido hein!!! A casa caiu seu bando de filho da puta... Se
fuderam...
Abro os olhos em sobressalto. Estou em uma cama. Puta
merda era um sonho... ou melhor um pesadelo...beleza. Estávamos a salvo, todo
mundo eu acho.
Gosto de acordar de ressaca. Cabeça pesada, o corpo lento
a vida arrastada. Instantes fantásticos em que você mandaria qualquer pessoa
desta humanidade, a puta que pariu sem hesitar.
É liberdade?
Talvez... Existe uma liberdade que é conferida aos
doentes, aos terminais, aos loucos... Uma liberdade cheia de consentimento,
como um respeito devido a agonia alheia... Você já olhou nos olhos de alguém em estado
terminal? Faça o teste... É uma experiência relevante. Respiração difícil,
olhar semifechado, um brilho lento que se termina... Ual ...realmente não é
bonito.
Eu estava bem...tinha dormido naquela cama
desconhecida... Cama desconhecida? Mais uma.
Puta merda... Bebidas, boa noite cinderela, ressaca e
quem era a vadia que estava ao meu lado? Tive medo de tocar nela... Ela roncava
forte, uma porca leitosa... Eu trepei com ela? Quem era? Como era? E que lugar
era aquele? Inúmeras perguntas e nenhuma resposta. Eu preciso parar com isso.
Tive medo de toca-la e de-repente encontrar ali quem sabe uma ereção? Não... beleza...
Toquei sem olhar mesmo, e ali estava uma bucetinha... Bucetinha não, nada de
eufemismos... Aquilo era um bucetão imenso. Graças a Deus.
Ela parecia esta muito drogada, bêbada... Ótimo não iria
acordar tão fácil... mas quem era ela mesmo? Não interessa... Eu a conheci no
bar... Ela estava no cio... eu também... Muitas bebidas depois e o resultado
desta equação é sexo! Nada mais a esperar... alias, apenas que ela não
acordasse agora. O quarto não estava muito iluminado, então eu não lembrava se
ela era bonita, feia... mas se me conheço bem... Topei...
Fui levantando devagar... E havia um cheiro no ar que
estava me incomodando... Um cheiro forte de mijo... Talvez mijo de gato?Humano?
Vou caminhando... Tropeço em um penico velho... Que vira não
chão todo... derramando uma boa quantidade de xixi e coco... Jesus... Que
pessoa era aquela que fazia suas necessidades em um penico ainda?? Existem
criaturas mais doentes que eu por ai... Isso era um consolo.
Me visto e vou até o banheiro... A casa esta muito zoada... O banheiro
quebrado... Isso explica o penico... O vaso é apenas um cano aberto... Pra cima
e sem o vaso... O espelho quebrado, a pia com umas calcinhas enormes de
molho... Peguei uma das calcinhas... Por que eu fiz isso? Eram calçolas horríveis...
Acho que nem minha vó as usaria...
Era melhor ir embora o mais rápido possível... Minhas
roupas estavam sujas... Com um cheiro típico de sexo rasgado... Xoxota suja e
um pouco de merda. Ela continuava roncando forte. Qual era o nome dela mesmo?
Rita? Andria?Tereza? Sei lá. Fui saindo de fininho. Tudo certo. Seja como for,
eu estava em uma vila. O Kadett completamente embarrado... Ainda estava ali me
esperando. Ótimo.
Dei a partida... Fui embora. Por vezes é melhor você não
saber das coisas em detalhes... A ignorância pode ser uma benção... Eu apenas
queria e ir embora... O dia claro agora... ruas conhecidas, uma paz existencial
advinda do esperado... Uma puta a mais, uma puta a menos... é isso... Vou
sorvendo a vida lentamente... E amanha? Amanha a gente vê.
Nisso olho para o assoalho do carro, no lado do carona...
Me assusto, paro o carro: que porra era essa?
Ali... Amassadas... Perdidas, jogadas três notas de cem
reais... Três notas? De onde vieram? Achei que deveria dar uma olhada na mala
do carro... Mas não agora... Agora não.
Luís Fabiano.
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