Rei das Bucetas, noites medonhas
e putaria desenfreada
Por vezes você tem certeza
que a vida vai ser absolutamente tranquila. Isso ao mesmo tempo em que é
reconfortante, é desprezível também. Pois um excesso de paz de espirito, nos
conduz a nada. Com muita paz, o ser humano não faz nada que preste, o contrario
também é verdadeiro.
Com tormentas intermináveis
na alma... Viramos merda. Esse é o ponto... Você precisa de algum equilíbrio, e
tudo ficará bem... seja nem tão mal e nem tão bom... Ai as coisas funcionam.
Ninguém entende exatamente o eu seja equilíbrio... Eu digo então: se você fode
muito... Tente ler algo, ou pintar um quadro... Se você pinta demais... Experimente
trepar muito e ficar bêbado por muito tempo, ai sim... equilíbrio.
Agora eu me ocupava em estar
bêbado.
Sobrecarregado de afazeres,
eu precisava de um tempo pra mim. Então lá estava eu em casa. Uma garrafa de
rum cheia, de cueca na sala, colocando um bom som no micro... Isso “Fabianito”,
cumpra-se a tua profecia maldita.
Coloquei um jazz suave a
rolar. A noite pedia Duke Ellington... Um sax arrastado, puta que pariu, isso
sim é bom, isto é um grelo molhado no ouvido.
Gelo no copo e rum... E depois
mais rum... E depois mais rum... Eu já gargalhava pleno em minha solidão, é
assim a minha felicidade. Lembrando o super homem: ei seu merda... Aqui esta a
tua kriptonita... Essa é a sacada... Todos temos a nossa kriptonita, o super-homem
se fode... Você se fode e o mundo se fode também.
Agora sim estava pronto.
Vou até a janela olhar a
rua do quinto andar. Uma das melhores sensações que se pode ter. Bêbado você
tem vontade de voar dali... Olhar a rua e não bater as asas. Na parada de
ônibus uma mulher muito gostosa esperava o ônibus... com uma calça muito justo,
fiquei olhando pra ela como um idiota, captei a sua energia no ar, meu pau deu
sinais, porra eu realmente estava rock in roll... Dei uma alisada no bixo... Ele
cresceu na minha mão, a cabeça rosada bem estufada... Pedido uma xoxota
imediatamente, bati uma breve punhetinha para a desconhecida... Até que ela
subiu no ônibus. Me deixando de pau na mão.
Fiquei naquela... Então
como um cometa feito de tesão, desespero e rancor, decidi ir pra rua... as
melhores decisões eu tomo assim, nas madrugadas perdidas, me perdendo e me
achando... Depois que o relógio passa da meia noite. Eu não era um artista, mas
tava afim de fazer o meu show.
Visto uma jeans... Não
escovo os dentes, coloco uns tênis e eu estava pronto. Mato o último gole de
rum que estava no copo. Eu não me sentia em mim... Tanta disposição é um gatilho
engatilhado...
Entro no carro... Ligo o
radio... Um jazz medonho tocava... Desconhecia quem executava a merda... Mas estava
no embalo. Para onde eu iria naquele horário?
Para o melhor local um
pouco antes da ultima parada do inferno... Sim... Rei da Bucetas, sem duvida.
Eu era um canhão de inquietações. Uma felicidade plena advinda não sei de
onde... Mas também, por vezes a vida não necessita de explicações.
Temos essa mania com tudo,
tudo deve ter uma explicação... Se você ta feliz tem que ter explicação... se
esta triste também, se o teu rabo esta doendo... E digo, tanta explicação é uma
merda. Vivemos ali a beira do infortúnio e perdemos de viver, porque tudo tem
que ter alguma explicação: fodam-se as explicações. Eu nunca explico nada, e
nem justifico nada... essa é a minha essência, e gostar de mim assim não é fácil.
Diga-se de passagem, e nunca peço explicação para ninguém... Eu aceito tudo que
você é como você é e tudo bem.
A rua deserta, calma,
noite linda e mesmo com uma lua minguante... Tudo parecia uma promessa bela.
Vou deslizando para o bairro Navegantes. Algumas poucas almas na rua, vou me
ambientando com o cheiro de esgoto a céu aberto, cheiro de miséria também, o
aroma das ruas. De longe se escuta o samba sendo tocado. O bom samba de raiz.
O pandeiro de Dedéco dando
o tom, o cavaquinho de João sem dedos afinando, a cubana de Negro Aço... Puta
que pariu... Eu estava em casa novamente. O local esta como eu gosto. Não tão
cheio e nem tão vazio.
Equilíbrio é a chave... é a luz e a doença. Estaciono o
“Fudett”tranquilamente, cumprimento uns poucos transeuntes que ali estavam... Que
já me conhecem e sabem um pouco de minhas historias naquele estabelecimento, de
muito respeito. Vou entrando devagar, as mesinhas de plástico meio sujas
estavam quase todas tomadas. Mulheres e muitas mulheres ali... Dançavam, o
pessoal estava feliz. Casais dançavam tranquilos, ao tom da musica e cachaça. É
isso, felicidade simples, se coxavam, beijavam e deixavam se excitar... lentamente
e tudo isso muito bom.
Vou até o balcão perguntar
pelo Rei... E uma mão pesada bate em minhas costas... me assustei, viro para
trás, é o Rei:
-Meu negro! Seja benvindo
filho... Quanto tempo hein?
O Rei das Bucetas é um
clássico, advindo de uma obra perdida no espaço tempo... O mesmo olhar firme, a
roupa branca, o chapéu branco, os traços grisalhos de uma barba... E o brilho
no olhar... Este é o Rei das Bucetas a quem todas as bucetas se curvam... e
creio que a humanidade se curva pra esse cara!
-Grande Rei... O prazer é
sempre meu voltar aqui...
Nos abraçamos, amigos de
um tempo. É isso, existem energias que te influenciam para o bem... e outras
são apenas gastura vivencial.
-Filho, vamos sentar... E
beber... Hoje estou feliz, e tu ainda apareces por aqui... Excelente... Tem
alguém morrendo de saudade de ti... por aí...
Estranha a minha
personalidade. Eu sabia de quem ele estava falando... Mas ao mesmo tempo,
quando não vejo alguém durante muito tempo... Simplesmente a pessoa parece
deixar de existir... Transforma-se em um vapor rarefeito em um estado
flutuante... Até que então, eu tornando a vê-la, abraça-la, venha a
converter-se em verdade novamente...
-Ótimo Rei... Ei Rei vamos
beber...
-Certamente filho... esta
é a minha mesa de sempre...
Sentamos a mesa e dois
copos grandes s de cachaça vieram, copos de massa de tomate... Purificados pelo
álcool que mata tudo. Brindamos a vida...
-Rei... Tua vida vai ser
sempre isso aqui, né?
Depois de um logo gole,
Rei me olha e diz:
-Filho a vida é um
constante aprimorar-se... Se você deixa de afiar a mente e o coração... A vida
te cortará como uma navalha...
Eu ri... lá estava a
navalha novamente...sempre a navalha... Alguém de-repente encobre meus olhos
por cima dos óculos... Tocando nas lentes... Puta merda eu detesto isso...
Segue...
Luís Fabiano.
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