Navalhadas Curtas: Um entre tantos
Vinha caminhando, pensando em nada. Gosto disso, é um
estado meditativo de aflições ausentes, sem preocupações... Tudo que se tem e
precisa é o caminhar. Não me importo com o ambiente a minha volta. Um estado
profundo de egoísmo existencial, onde e nada ou ninguém importam? Já sentiu
isso? Creio que sim... Mas dificilmente você admitiria.
Então ele me olhou... Estava no chão, magro, sujo, com
pelos faltando e meio assustado. Um cão de rua. Mas aquele olhar era quase
humano. Não me entendam mal, não sou
sócio dos defensores dos animais ou mesmo carrego comigo uma placa de Salve as
Baleias... Fodam-se baleias.
Cheguei perto dele... ele quis fugir...me abaixei e
disse: ei amigo calma...tudo bem...fique tranquilo. Passei a mão sobre sua cabeça...
e aqueles olhos sorriram. Ele parecia entender algo... E disse pra ele: ei
cara, você esta precisando de uma comida... hein... Esta pele e osso...
Na esquina tinha uma padaria... Fui ate ali e comprei uns
pães... Pensei comigo: porra Fabiano o que estas fazendo... Existem seres
humanos morrendo por ai.
Mas eu fui meu próprio advogado: Fabiano... Neste momento
não existe ninguém morrendo que estejas vendo ou que possas fazer algo... Mas o
vira-lata esta aí...
Comprei três pães e dei ao cão, ele comeu animado... Feliz
mesmo. Eu levantei para deixa-lo ele entregue aos pães... Então curiosamente o
cão pulou sobre mim... Me lambeu o braço, a cara, numa animação extrema. Eu
disse: ei amigo... Tudo certo... tudo certo...vá devagar...ok...
Consegui me levantar... e ele ficou me olhando... Então
voltou aos pães... e eu segui meu caminho. Mas creio que o foda de tudo isso...
E não ter a lembrança de alguém tenha me abraçado com este entusiasmo todo...
Luís Fabiano
ok.
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