Navalhadas Curtas: “Crackero” da porra
Noite sempre noite. Almas vagam a procura de um
encontro... Talvez de encontrar-se. Por vezes não importa, tudo que você quer é
um abraço... Um abraço qualquer, até de um cão doente.
Nunca paro nas sinaleiras de madrugada. Prefiro multa que
assalto. Nesta noite em questão eu parei. Por quê? Sei-la... Talvez isso
fizesse eu me sentir um “cidadão” de bem.
Então surgiu do nada, um cara muito magro, um esqueleto
meio vivo meio morto, roupas sujas e puídas,
fedia todas as sujeiras deste mundo... O cara estava nervoso, louco e
agitado... Agarra meu braço:
-Me da dinheiro cara... Me da grana meu... eu
preciso...me dá...me dá...me dá...
Me assustei... Mas avaliei a situação. Ele estava muito
fraco... Não apertava o meu braço... Não tinha forças pra isso.. Não estava
armado. Considerei algumas alternativas: descer do carro e dar umas porradas no
cara... Passar com o carro pro cima dele... Ou dar a grana. Quem iria se
importar?
-Cara solta o meu braço... ok? Solta ai de boa... se
não...
Aquele cheiro era horrível... uma mistura de merda, suor,
sebo, mijo e sovaco poderoso. Vejam como são os meus valores... Uma mulher
fedendo desta forma, eu consideraria qualidade... ele solta meu braço:
-Me da então... me da grana... Me dá, me dá...
Entrei em um raciocínio sócio-político às três da manhã...
O Estado não cuida de seus filhos loucos, drogados, alcoolizados ou famintos...
O cara não era culpado, ele é parte do sistema que é perfeito.
O mundo estava dando o foda-se para ele. Tudo que ele
precisava era uma pedra, uma pedrinha só... Que merda... eu o Fabiano o redutor
de danos.Foda-se. Mexi nos bolso e achei cinco reais. Dei a ele.
O maluco olhou para aquela grana, como uma mãe que
consegue leite para seus filhos com fome... A felicidade brilhou em seus olhos.
Me senti bem...
Todos nos sentimos bem. A agonia tem preço, o amor tem preço, a
beleza tem preço. Nem sempre é grana.
O cara sumiu na fumaça... o sinal abriu.
Luís Fabiano.
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