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domingo, abril 07, 2013





Navalhadas Curtas: “Crackero” da porra

Noite sempre noite. Almas vagam a procura de um encontro... Talvez de encontrar-se. Por vezes não importa, tudo que você quer é um abraço... Um abraço qualquer, até de um cão doente.

Nunca paro nas sinaleiras de madrugada. Prefiro multa que assalto. Nesta noite em questão eu parei. Por quê? Sei-la... Talvez isso fizesse eu me sentir um “cidadão” de bem.

Então surgiu do nada, um cara muito magro, um esqueleto meio vivo meio morto, roupas  sujas e puídas, fedia todas as sujeiras deste mundo... O cara estava nervoso, louco e agitado... Agarra meu braço:

-Me da dinheiro cara... Me da grana meu... eu preciso...me dá...me dá...me dá...

Me assustei... Mas avaliei a situação. Ele estava muito fraco... Não apertava o meu braço... Não tinha forças pra isso.. Não estava armado. Considerei algumas alternativas: descer do carro e dar umas porradas no cara... Passar com o carro pro cima dele... Ou dar a grana. Quem iria se importar?

-Cara solta o meu braço... ok? Solta ai de boa... se não...
Aquele cheiro era horrível... uma mistura de merda, suor, sebo, mijo e sovaco poderoso. Vejam como são os meus valores... Uma mulher fedendo desta forma, eu consideraria qualidade... ele solta meu braço:

-Me da então... me da grana... Me dá, me dá...
Entrei em um raciocínio sócio-político às três da manhã... O Estado não cuida de seus filhos loucos, drogados, alcoolizados ou famintos... O cara não era culpado, ele é parte do sistema que é perfeito.

O mundo estava dando o foda-se para ele. Tudo que ele precisava era uma pedra, uma pedrinha só... Que merda... eu o Fabiano o redutor de danos.Foda-se. Mexi nos bolso e achei cinco reais. Dei a ele.

O maluco olhou para aquela grana, como uma mãe que consegue leite para seus filhos com fome... A felicidade brilhou em seus olhos. Me senti bem... 

Todos nos sentimos bem. A agonia tem preço, o amor tem preço, a beleza tem preço. Nem sempre é grana.
O cara sumiu na fumaça... o sinal abriu.

Luís Fabiano.


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