Paz vacilante, Marião e uma ratoeira
Parte final.
Aquele semblante era um lamento aberto, um arrependimento
tardio e por outro lado, a sensação que havia curtido o que queria. Sim... A
vida tem um preço e por vezes este preço é alto:
-Porra Marião... Festinha? Os caras te roubaram e tu chamas
de festinha...
-Era um casal... Sabes como é... Gosto de ver uns shows eróticos...
Tava muito bom... Eles colocaram musica, e foram se despindo... E me
despindo... O cara era meio gay, um negro muito lindo, e a mulher muito alta,
loira peituda, com uma xoxota com lábios enormes, muito ativa ela, garota é de
programa. Eles aumentaram a musica... E tudo foi esquentando...
Fiquei imaginando a cena. Nada contra... cada um fode com
quem quer... Mas eu chamaria se fosse possível, uma negra e uma loira... Creio que coisa seria bem interessante... Gosto
de contrapontos, gosto de misturas. Sorri e Marião seguiu:
-É... Ai vieram as bebidas... Eles pegaram meus whiskies,
e foram bebendo na garrafa... E chegavam e mim... Se esfregavam... e abriam
minha boca...e a bebida foi entrando e me entorpecendo...
-Vais me dizer que não estavas sentindo as pernas?!
-Não tava sentindo era mais nada... Então eles me deram
um comprimido azul... Disseram que era viagra... eu sentia sensibilidade em
todo o corpo... Então vieram e tiraram minha roupa disseram que precisava de um banho... A loira estava
agitada... Começou a cheirar cocaína... Ela vinha até mim... me beijava...e
depois me dava tapas na cara... Nesta altura...
eu estava na banheira... O negro disse que iria me fazer... Mas antes ele e a loira transaram enquanto eu
estava na banheira... Ela pegava meu saco murcho e dizia: olha só parece de plástico
o saquinho dele...
-Deus... É que ela te considera sexo bizarro...
-É creio que sim... Mas a coisa não ficou por ai... Então
não sei bem por que... ele começaram a brigar... O cara dizia pra ela que
aquilo não era direito... se aproveitar e roubar de um aleijado... Que Deus... Iria punir... Que iriam para o
inferno... Mas a loira não tava nem ai... Foi até a cozinha e trouxe uma faca
enorme... Nesta altura do campeonato eu estava tonto... sonolento...e não
percebia exatamente o que estava acontecendo. Mas achava que eu havia feito uma
merda...
-Porra... tu achava? Benza Deus... Mas Marião, como é que
estes “anjos” descaídos vieram aportar aqui no teu cafofo? Eles não caíram do
céu né?
-Não... claro que não... Eu os chamei... Há horas tinha
visto no jornal local... nos anúncios de sexo... Casal que faz tudo o que você
quiser... Eu tava com medo... Mas eu tinha uma grana... então disse pra mim
mesmo: porque não?
-Sei...
-Mas eu achei que eram profissionais... Que chegariam... Fariam
o trabalho... e tentaria gozar... Eu tomo um remédio muito forte... sabe como
é...o pau sobe, mas eu não sinto nadinha...
-Cara era isso que ia te perguntar: tu ficas de pau duro.
-Sim... Mas não sinto nada, as pessoas que estão comigo adoram...
ele vai amolecer umas duas horas depois...
Aquela conversa estava interessante. Pessoas fio da navalha...
podem ter certeza. Era estranho... Mas por um momento, achei que Marião gostou
de ser roubado.
-Marião... eles levaram tudo... Roupas... carteira, o som,
o computador lamentável...
-Mas eram gostosos...
-Marião... Me conta uma... Tu és gay?
Ele olha para o chão como se sentisse vergonha disso. Não
tenho preconceitos, com nada. Seja feliz...apena seja feliz.
-Bem Fabiano... Não sei exatamente o que sou. Gosto de
tudo... Gostei da loira e gostei do cara... Que era dotado... Eu não lembro
muito bem... Porque tava chapado e também não sinto nada lá embaixo... Mas acho
que ele me comeu...
-Sei... Tudo bem Marião, relaxa. Não vou dizer nada pra ninguém.
-Minha família não faz ideia disso.
Ele parecia melhor ou pior, não sei dizer exatamente. Não
morreria pelo menos, creio que isso já é um inicio... Creio que ele estava com
uma ressaca moral, um lugar de solidão aonde as palavras dos outros não chegam,
tudo que se pode fazer é observar.
-Bem Marião... Nem sempre as pessoas precisam saber tudo
sobre as outras pessoas. Sabes muito bem... Todos tem algo a esconder... E o
cara que diz... Que a vida é um livro
aberto, podes ter certeza que ele apagou algumas linhas de dizer isso. Não se
preocupe com tanta franqueza.
-Pô Fabiano... Eu sabia que tu ias me ajudar cara... Sabes
como é... eu não tinha ninguém mais que pudesse me dar uma força, tava com medo
de morrer aqui sozinho...
-Não sou bom samaritano Marião... Mas vou movido pelo momento...
tudo o que existe é o momento.
Acontecimentos fantásticos acontecem no obscuro de olhos
não podem ver. Somos as coisas mais fascinantes e estranhas que caminham sobre
a terra. O caos estava de volta aos trilhos, me sentia cansado, eu era o super herói
sem fantasias, o anti-herói de uma noite de perdedores, gargalhando diante da
vida. O silencio criminoso da casa de Marião me incomodava agora.
-Marião, então mais alguma coisa?
-Nada não Fabiano... Agora eu me viro... minha cadeira ta
ai...vou telefonar para o banco...porque os putos vão fazer coisas com meus
cartões...
-Ok Marião... Boa noite então...
Vou saindo... sobre a mesa uma meia metade de whisky esquecida.
Consultei o rotulo, porra... Vinte quatro anos? Acho que Marião não iria dar
falta... Sai bebendo ele no gargalo... Caiu suave como musica. Eu já estava na
porta então dei volta.
No quarto Marião estava olhando para o vazio:
-Marião... Eu me esqueci de te perguntar uma coisa...
-Diga-la Fabiano...
-O negão eu dispenso... Mas qual o telefone da loira mesmo?
Porra... loira, louca, puta e com lábios enormes...
Luís Fabiano.
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