Homicida carinhoso e taras descontroladas...
O ser humano é capaz de coisas terríveis, é apenas
preciso apertar os botões certos. As grades estavam diante de mim, uma forma
inesperada de tudo, num desfecho brutal. Porra e isso agora? Minha perplexidade
e assombro só não eram maiores que o fedor daquele lugar. A principio pensei
estar sozinho, mas isso rapidamente se revelou um engano. No canto mais escuro,
como chacais espreitando a presa, eles sorriam.
Aquele sorriso eivado de
maldade, o sorriso criminoso, dentes sujos, hálito pesado e alma de chumbo.
Então três deles vieram pra cima de mim... Não tinha para
onde fugir, tudo me sobrava era morrer passivamente ou... Eu preferi o ou. Como
é natural de minha personalidade, em momentos cruciais, me torno frio. Sim,
busquei em minhas entranhas o pior que tenho. Minha merda, fúria e atrocidade
desmedida.
Certamente não conseguiria pegar os três, mas um, certamente um eu
mataria... Como um animal que cresce dilacerando o espirito... Quando o
primeiro cara encostou em mim falando: E então novato... Chega ai... Aqui temos
uma lei... O cu mais novo sempre dá... (o cara colocando a mão em meu ombro).
Deixei a coisa naturalmente... ele me trouxe para perto
de si...um outro cara segurou meus braços... E esse primeiro seguia me falando
coisas que ignorei... o que vi e o que
apenas via era a sua jugular... Ele riu e eu pulei em sua garganta afundando
meus dentes na carótida, apertei com toda a força que pude, eu ia arrancar a
sua vida e não soltaria jamais, até o que o fim... Senti a pele dele rasgando...
os borbotões de sague quente, o cheiro típico de sangue escorrendo... Os outros
dois tentaram me tirar de cima dele... Mas nem Deus conseguiria isso... o
sangue escorria forte...minha boca inundada dele... A gloria de uma fúria indomada
como a sinfonia de Beethoven... eu o Fabiano vampiro, eu louco... Foda-se filho
da puta... Aqui poço das piedades secou... queria me fuder... Eu te fodi primeiro...
eu sentia orgulho.
Acordei tossindo... engasgado com o sangue...o corpo
tenso, coração disparado... Eu estava vivo... e sentia ainda as impressões de
ter matado alguém, você já sentiu isso? Aquele cara merecia. Sentei na cama
pensando, estava suando e tinha sede. Você sabe quando algo esta dentro de
ti... Algo que você é realmente capaz de fazer. Maldito sonho filho da puta. Eu
seria capaz disso... Mas espero jamais ter de estar em uma situação destas.
Inegavelmente lembrei-me de todas as pessoas que me perturbaram a vida, de
todas as vezes pensei em fazer isso, com algumas ex-mulheres. Será que elas
sabem do que escaparam? Comecei a rir de mim mesmo.
Agora com mais de quarenta anos, eu iria começar a
cultivar pensamentos homicidas? É, foda-se.
Deveria parar de beber? Ou simplesmente beber o dobro?
Vou jogar uma moeda para decidir isso. Olho o relógio, três da manhã. O sono já
era. Vou até o banheiro dou uma boa mijada de rei. Vou na cozinha bebo um copo
d’água gelada. Estou pelado na cozinha, e dou uma olhada para meu pau, ele esta
flácido e não creio que iria se animar.
E a rua como estará?
É isso que digo, porque fui deitar cedo? Deitar cedo dá
merda. Ter uma vida saudável é uma merda. Boa alimentação, exercícios corretos,
nada de álcool, fumo ou drogas, procurar uma vida tranquila... Bem no meu
entender estas pessoas já morreram, apenas não se deram conta. Acho que ainda
não quero isso, não quero a vida do velho.
Vou ate o quarto abro a janela, a noite tá linda e seu
fosse até o Pássaro azul, caminhando? É isso. Coloquei uma bermuda, uma
camiseta e um tênis e fui. Sabe quando se esta disposto a tudo? Peguei uns
trocados para bebida e o resto é o resto.
À noite esta realmente linda, quente, algumas pessoas
circulam na rua, a Pelotas dorme e alguns de nós andamos por aí. Eu dentre os
do bem, e os do mal. À noite dinheiro, à noite putas, à noite drogas, a noite
ladrões e assassinos... Essa é à noite.
O Pássaro azul aberto. A catedral dos malditos. Que
beleza, minha poesia sem final, sorrindo com dentes cariados. A atendente me
enxerga e sorri, sorri pra ela também.
-Há essa hora... Rum ou cerveja Fabiano – Ela diz.
-Essa, hora é cerveja... A hora do aquecimento já passou.
Porra a vida é boa.
O bar estava mediamente cheio. Os bons clientes fieis de
sempre. Moradores informais do Blue Bird. Me sentei a mesa que fica na rua. São
aqueles momentos raros que você realmente não precisa de nada para ser feliz.
Estar ali era abismo e céu, glória e desencanto, nada poderia ser melhor.
Nestes horários, vez por outra entra alguém pela porta, atrás
de combustível, cerveja, cigarros, vodca essas coisas. Entram pegam suas coisas
e saem felizes. Encontrar um bar aberto de madrugada é como ter um PS só pra
você.
Fiquei mamando minha gelada e nada precisava acontecer. Resquícios
do maldito pesadelo em mim... A cerveja com gosto de sangue. Sorri e lembrei: o
maldito filho da puta teve o que mereceu. A atendente coloca um Gonzaguinha em DVD.
Porra aquilo coroava o momento... Mas não por muito tempo.
Então um C3 prata para na frente do bar. Estou tranquilo
na mesa, entregue a mim mesmo. Vidros escuros, silencioso, a porta se abre e
desce uma mulher absolutamente linda. Sozinha... aquela hora... É estranho.
Talvez
não, afinal o gesto nobre pode vir até de lugares onde não esperamos...
Ela passa por mim com aquele vestidinho curto, em um tom
floral rosado, salto alto, cabelos negros e passando dos ombros, seios soltos
de um tamanho bom, bem maquiada e absolutamente leve. Tenho certeza que muitos
dos que estavam lá, sentiram-se como um catarro cuspido a metros de
distancia... Ela batia asas entre nós, um anjo voando entres os fudidos
existenciais, nós os merdas cagados pelo demônio.
Olhei bem pra ela... Nos
olhos. Ela entrou comprou cigarros e sentou a beira do balcão, olhando
Gonzaguinha.
Segue.
Luís Fabiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário