Trecho Solto...
“ Estendi a mão e comei a pedir a todos que passavam por
mim. Mal balbuciava alguma coisa.
Para pedir esmolas não se pode falar com
clareza, nem argumentar, nem nada. Você é um animal miserável, um micróbio pedindo
umas moedas pelo amor de Deus. Um pesteado. Assim foi desde que o mundo é
mundo. É toda uma arte de pedir esmola e aparentar imbecilidade, cretinismo,
embriaguez crônica, burrice. Só um imbecil pede esmola. Se o cara esta um
pouquinho acima da imbecilidade é porque pode fazer alguma outra coisa. Assim
é. É preciso fazer cara de imbecil para convencer. Mas nem assim. Ninguém me
deu nada! Andei muitos quarteirões, lentamente. Esfarrapado. Sem rumo.Com cara
de louco e imbecil , estendendo as mão abertas diante de todos e balbuciando. Ninguém
me deu nem uma moeda!
Que horror! Nada. Naquela noite eu podia ter morrido de
fome. Percorri a Carlos III. Duas ou três horas. Não sei por quanto tempo. Pedindo
pelo amor de Deus. E todos viravam a cara . Olhavam para outro lado. Ou fingiam
que era um fantasma. Eu nunca tinha pedido esmola antes. Mas é terrível pedir
esmola quando as pessoa são tão miseráveis. Estão todos no fundo do poço e
detestam quando outro vem se queixar. Muitos me disseram: ”não enche o saco,
velho, que eu até gostaria que alguém me desse esmola”.
Extraído de:
Trilogia Suja em Havana -
Pedro Juan Gutierrez
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