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segunda-feira, dezembro 17, 2012




Noite, tragos e fodidos soltos
Final

Creio ser exatamente isso. Todos temos uma historia, e naturalmente, ela tem seus altos e baixos. Sendo um cara  bacana ou um merda existencial, em algum momento a fatalidade, a situação complexa e ruim vai nos encontra.

Não foram poucas vezes que cuspi pra cima, para tentar acertar o olho de Deus, numa vingança fútil... Logicamente eu saia de baixo, pra não pegar em mim. Isso é fé.

Fiquei tomando meu trago devagar observando a expressão de Sujeira. Aquela seria uma boa cena para um filme, a pouca luz, olhos distantes, mergulhados em pensamentos corrosivos. Era preciso dar um jeito.

-Seguinte Sujeira... Vamos sair daqui, isso aqui ta uma merda, vamos dar uma volta por ai... Beber algo... Comer uma putas... Ou não comer ninguém, vamos apenas passar a piroca nelas, sem comer ninguém... e divertir-se...é isso... Em suma fazer alguma merda...

Depois que falei isso, achei meio sem noção. Não curto vale de lagrimas... Talvez por ter cido exposto muito a isso. Você ficar aprisionado, a vida torna-se amarga... É preciso viver intensamente tudo que esta a volta...

-Falando sério Fabiano?
-Claro Sujeira... Sem duvida alguma... Vamos dar um foda-se ao mundo... Aos conceitos chatos... e tudo mais... É preciso se libertar amigo...
-Olha cara... “Vamo” mesmo... To dentro...

Seus olhos brilharam como uma criança querendo fazer arte. Agora eu tinha que resolver aonde iria? Porque a merda da noite estava fudida, até o osso. Mas azar, o importante era a coisa acontecer.
Sujeira começa a fechar o bar, vai ao banheiro, ouço o som do desodorante, o cabelo ganhou um penteado pra trás e molhado, aquela barba por fazer... Bem, estávamos ambos caracterizados de canalhas.

Entramos no kadett, o radio tocava uma musica desconhecida, new age... Penso: as vezes a nova era pode ser muito chata. Vou andando devagar, Sujeira acende um palheiro tornando o carro uma câmara de gás...  Vamos subindo pelo porto, Galpão do Rock fechado... Porto do Shop trancado, butequinhos das imediações lacrados... Digo:

-É Sujeira... parece que a vida não ta pra maré... Lembro-me de uma minha amiga, Andréia Vermelha, e seu bar que não existe mais... Gostava daquele lugar, gosto da sua gentileza e da pessoa sincera que é... Se existisse o bar, certamente estaria aberto.
-É... é... Mas e vem cá...e o Navegantes?
-É... Umas... vamos arriscar...

Nada a perder, nada a ganhar, uma aposta errante ,viscosa e repleta de sonhos. Sujeira parecia bem... Me dirigi para o Bar do Rei das Bucetas... que momento, dois donos de bar se encontrarem? Será?
Chegamos ao bar, e estava aberto... Foi como um oásis de felicidade. Mas nada é perfeito na vida. A coisa estava no final, alguns bebuns nas mesas, Jussara não estava, Rei das Bucetas  estava alguma de suas mulheres por ai. 

Mas Kátia, a anã estava lá. Katia é uma anã insaciável ao que dizem...
Entrei com Sujeira e eles se olharam como se fossem antigos conhecidos... Pedimos uma cachaça com um gelinho, para quebrar a temperatura, e nos sentamos a mesa... Katia veio para volta...é uma safadinha ela.

Lembro que Jussara tem raiva eterna de Katia... Diz que ela se se aproveita da sua altura para fazer boquete em pé, e enlouquecer os homens... Uma vez eu estava lá... E Katia veio em minha direção... Já tirando o meu  pau pra fora... Então Jussara apareceu e deu uma porrada nela... Tipo um peteleco na cabeça... Ia começar uma briga feia... Mas o Rei estava lá... E tudo ficou assim mesmo. Saiu barato e eu não provei o boquete de Katia.

Agora Katia atacava Sujeira... Ele sorria feliz. Acho que gosta de bizarrice também. Quem não gosta? Neste mundo apenas ocultamos as bizarrices, mas elas estão presentes. Confesso que naquela noite a pescaria estava fraca... Mas a felicidade é um pendulo. Quando ela não esta com você, ela esta com outro alguém.

A cachaça subiu rapidamente pra cabeça de Sujeira e Katia, que agora gargalhavam alto fazendo escândalo... Pareciam estar se divertindo. Fiquei olhando aquilo. Lembrei que Sujeira havia esquecido as merdas existenciais...  A sua mulher doente... A filha que não procurava nunca. O álcool faz bem... Como qualquer outra droga... Que faz esquecer por uns momentos e naquele instante você vive, vive intensamente a vida sem pendores, sem culpas, sem medos, tudo o que existe é vida. É isso que faço, tento fazer isso em sã consciência.

Para mim a noite já havia acabado, como um corpo esperando o ultimo suspiro. Então como uma aparição ele adentra a porta. Seu terno branco, chapéu , cigarro no canto da boca caminhando firme como se tivesse nascido naquele instante.

-Boa noite senhores... Vejo que temos visita nobre em meu estabelecimento...
-Salve Rei – eu disse levantando o copo.

Katia e Sujeira se assustaram... pararam a função e ficaram olhando pra Rei...

-Fiquem a vontade... amigos...estou só de passagem...
-Que isso Rei, senta aqui conosco... Tem um amigo ai(apontei pra Sujeira) que também é dono de bar...

Ambos riram.

-Opa... Que beleza... mas vejo que o teu amigo já achou a nossa preciosa Katia...
-Acho que não... foi a Katia que achou ele...

Todos gargalhamos. Katia tentava tirar um pentelho esquecido entre os dentes. Força do habito. Sentia-me bem, era como uma profecia realizada.
Rei das Bucetas fica um pouco conosco. Disse que não podia se demorar, pois tinha um compromisso inadiável. Mas antes de sair, já na porta:

-O amor meus amigos... É uma libertação, mas estamos acostumados a ser cativos... E pássaros presos, não entendem como vivem os que estão soltos...
Aplausos para o Rei. Consulto o relógio, são quase cinco da manhã. Daqui a pouco era hora dos vampiros se recolherem, antes que o olho do sol brilhe.
-Sujeira, vais ficar por aí?
-Sim amigo... Com toda certeza... Ela é melhor coisa que Deus podia me presentear hoje...
-Kátia, cuida dele... É gente boa...
-Fabiano... Fica tranquilo, ele vai pro meu cafofo, e lá ele vai ser meu rei...

Não consegui entender muito bem isso. Mas afinal amor a primeira vista existe então? Foda-se.
Sai rindo, e aquilo parecia uma noite feliz. Sujeira sorria, Katia sorria. Eu estava dentro do carro e pensava em minha cama, adormecer bêbado é a melhor coisa que existe, e talvez amanha pela manha, acordar com uma leve ressaca, e bater uma punhetinha leve bem devagar como gosto, imaginando uma mulher que romanticamente não existe, uma anja pentelhuda azul esfregando a buceta rosada e carnuda em mim... Talvez mijando mel em minha boca... Mas isso amanha...

Luís Fabiano.



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