Noite, tragos e fodidos soltos
Final
Creio ser exatamente isso. Todos temos uma historia, e
naturalmente, ela tem seus altos e baixos. Sendo um cara bacana ou um merda existencial, em algum
momento a fatalidade, a situação complexa e ruim vai nos encontra.
Não foram poucas vezes que cuspi pra cima, para tentar
acertar o olho de Deus, numa vingança fútil... Logicamente eu saia de baixo,
pra não pegar em mim. Isso é fé.
Fiquei tomando meu trago devagar observando a expressão
de Sujeira. Aquela seria uma boa cena para um filme, a pouca luz, olhos
distantes, mergulhados em pensamentos corrosivos. Era preciso dar um jeito.
-Seguinte Sujeira... Vamos sair daqui, isso aqui ta uma
merda, vamos dar uma volta por ai... Beber algo... Comer uma putas... Ou não
comer ninguém, vamos apenas passar a piroca nelas, sem comer ninguém... e
divertir-se...é isso... Em suma fazer alguma merda...
Depois que falei isso, achei meio sem noção. Não curto
vale de lagrimas... Talvez por ter cido exposto muito a isso. Você ficar
aprisionado, a vida torna-se amarga... É preciso viver intensamente tudo que
esta a volta...
-Falando sério Fabiano?
-Claro Sujeira... Sem duvida alguma... Vamos dar um
foda-se ao mundo... Aos conceitos chatos... e tudo mais... É preciso se
libertar amigo...
-Olha cara... “Vamo” mesmo... To dentro...
Seus olhos brilharam como uma criança querendo fazer
arte. Agora eu tinha que resolver aonde iria? Porque a merda da noite estava
fudida, até o osso. Mas azar, o importante era a coisa acontecer.
Sujeira começa a fechar o bar, vai ao banheiro, ouço o
som do desodorante, o cabelo ganhou um penteado pra trás e molhado, aquela
barba por fazer... Bem, estávamos ambos caracterizados de canalhas.
Entramos no kadett, o radio tocava uma musica
desconhecida, new age... Penso: as vezes a nova era pode ser muito chata. Vou
andando devagar, Sujeira acende um palheiro tornando o carro uma câmara de
gás... Vamos subindo pelo porto, Galpão
do Rock fechado... Porto do Shop trancado, butequinhos das imediações
lacrados... Digo:
-É Sujeira... parece que a vida não ta pra maré... Lembro-me
de uma minha amiga, Andréia Vermelha, e seu bar que não existe mais... Gostava
daquele lugar, gosto da sua gentileza e da pessoa sincera que é... Se existisse
o bar, certamente estaria aberto.
-É... é... Mas e vem cá...e o Navegantes?
-É... Umas... vamos arriscar...
Nada a perder, nada a ganhar, uma aposta errante ,viscosa
e repleta de sonhos. Sujeira parecia bem... Me dirigi para o Bar do Rei das Bucetas...
que momento, dois donos de bar se encontrarem? Será?
Chegamos ao bar, e estava aberto... Foi como um oásis de
felicidade. Mas nada é perfeito na vida. A coisa estava no final, alguns bebuns
nas mesas, Jussara não estava, Rei das Bucetas estava alguma de suas mulheres por ai.
Mas
Kátia, a anã estava lá. Katia é uma anã insaciável ao que dizem...
Entrei com Sujeira e eles se olharam como se fossem
antigos conhecidos... Pedimos uma cachaça com um gelinho, para quebrar a
temperatura, e nos sentamos a mesa... Katia veio para volta...é uma safadinha
ela.
Lembro que Jussara tem raiva eterna de Katia... Diz que
ela se se aproveita da sua altura para fazer boquete em pé, e enlouquecer os
homens... Uma vez eu estava lá... E Katia veio em minha direção... Já tirando o
meu pau pra fora... Então Jussara
apareceu e deu uma porrada nela... Tipo um peteleco na cabeça... Ia começar uma
briga feia... Mas o Rei estava lá... E tudo ficou assim mesmo. Saiu barato e eu
não provei o boquete de Katia.
Agora Katia atacava Sujeira... Ele sorria feliz. Acho que
gosta de bizarrice também. Quem não gosta? Neste mundo apenas ocultamos as
bizarrices, mas elas estão presentes. Confesso que naquela noite a pescaria
estava fraca... Mas a felicidade é um pendulo. Quando ela não esta com você,
ela esta com outro alguém.
A cachaça subiu rapidamente pra cabeça de Sujeira e
Katia, que agora gargalhavam alto fazendo escândalo... Pareciam estar se
divertindo. Fiquei olhando aquilo. Lembrei que Sujeira havia esquecido as
merdas existenciais... A sua mulher
doente... A filha que não procurava nunca. O álcool faz bem... Como qualquer
outra droga... Que faz esquecer por uns momentos e naquele instante você vive,
vive intensamente a vida sem pendores, sem culpas, sem medos, tudo o que existe
é vida. É isso que faço, tento fazer isso em sã consciência.
Para mim a noite já havia acabado, como um corpo
esperando o ultimo suspiro. Então como uma aparição ele adentra a porta. Seu
terno branco, chapéu , cigarro no canto da boca caminhando firme como se
tivesse nascido naquele instante.
-Boa noite senhores... Vejo que temos visita nobre em meu
estabelecimento...
-Salve Rei – eu disse levantando o copo.
Katia e Sujeira se assustaram... pararam a função e
ficaram olhando pra Rei...
-Fiquem a vontade... amigos...estou só de passagem...
-Que isso Rei, senta aqui conosco... Tem um amigo ai(apontei
pra Sujeira) que também é dono de bar...
Ambos riram.
-Opa... Que beleza... mas vejo que o teu amigo já achou a
nossa preciosa Katia...
-Acho que não... foi a Katia que achou ele...
Todos gargalhamos. Katia tentava tirar um pentelho
esquecido entre os dentes. Força do habito. Sentia-me bem, era como uma
profecia realizada.
Rei das Bucetas fica um pouco conosco. Disse que não
podia se demorar, pois tinha um compromisso inadiável. Mas antes de sair, já na
porta:
-O amor meus amigos... É uma libertação, mas estamos
acostumados a ser cativos... E pássaros presos, não entendem como vivem os que
estão soltos...
Aplausos para o Rei. Consulto o relógio, são quase cinco
da manhã. Daqui a pouco era hora dos vampiros se recolherem, antes que o olho
do sol brilhe.
-Sujeira, vais ficar por aí?
-Sim amigo... Com toda certeza... Ela é melhor coisa que Deus
podia me presentear hoje...
-Kátia, cuida dele... É gente boa...
-Fabiano... Fica tranquilo, ele vai pro meu cafofo, e lá
ele vai ser meu rei...
Não consegui entender muito bem isso. Mas afinal amor a
primeira vista existe então? Foda-se.
Sai rindo, e aquilo parecia uma noite feliz. Sujeira
sorria, Katia sorria. Eu estava dentro do carro e pensava em minha cama, adormecer
bêbado é a melhor coisa que existe, e talvez amanha pela manha, acordar com uma
leve ressaca, e bater uma punhetinha leve bem devagar como gosto, imaginando uma
mulher que romanticamente não existe, uma anja pentelhuda azul esfregando a
buceta rosada e carnuda em mim... Talvez mijando mel em minha boca... Mas isso
amanha...
Luís Fabiano.
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