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terça-feira, dezembro 04, 2012




Grelos Gigantes, Poodles e Muito mijo

Não há dúvidas, o ser humano na maior parte do tempo faz coisas ridículas. Talvez isso seja o nosso viver. Alguns se comportam, como autômatos programados para serem o que são, sem que precisem sequer pensar em nada. Não questionam, não mudam e são previsíveis como um Tic-Tac de um relógio da porra. Tenho cada vez menos apreciação por quem é assim. Mas foda-se, isso também é um direito, no fundo lamento que todos em algum momento sejamos tão engessados.

Termino sempre voltando para o melhor lugar do mundo, o Bar, foi lá que encontrei meus verdadeiros mestres de vida: putas, travestis, bêbados, viciados, ladrões, psicóticos, depressivos, doentes, tarados e loucos de toda sorte. Gente que parece ter um objetivo profundo e não estão entregues ao conveniente, ao fácil. Porra, sempre me pergunto, será que estes caras gostariam de uma vida de gesso? Normal ? Você sabe bem da merda que estou falando; um trabalho normal, ir para casa depois do expediente, jantar com a esposa e filhos e depois trepar entre lençóis alvos, e adormecer nos braços um do outro pacificamente e amanha, bem , amanha fazer tudo novamente? Uma maquina de felicidade. Já tive isso e confesso que achei uma merda, por isso me desfiz algumas vezes desta situação. E faria uma dezena de vezes.

Já me disseram varias coisas ruins, que talvez eu seja um cara problemático? Ok. E quem não é? Observe um ser humano bem de perto e perceberemos que o normal é a maluquice.
Poderia ficar ali por horas analisando aquelas pessoas no Bar. Na verdade pra mim todo o ser humano é um circo em potencial, as vezes você só precisa esperar, como uma pescaria macabra. O peixe certo ou errado. Na mesa, um copo caprichado de rum e muito gelo.

Desta vez a Francisca havia caprichado. Ela é conhecida como Fran. Gosto dela, é apaixonada por mulheres, e esta espera de um grande amor... Embora creia que isso seja bem difícil, se acha muito feia, gorda e fedida. Por vezes senta a mesa comigo e conversa, papo furado. Gosto do bar dela, não tem nome, fica na localidade do Simões Lopes, um lugar aprazível, simples e com um cheiro característico que a periferia tem a oferecer. Não é exatamente daqueles mais limpos. A própria Fran mesmo, tem um cheiro de sovaco forte. 

Ok, eu gosto. Gosto dos cheiros intensos, que sejam humanos, todos eles, do peito ao vomito, nada mais humano que a merda fresca.
Acho que as mulheres usam cremes e perfumes demais, o cheiro fêmea dela fica escondido por debaixo daquilo que ela não é. Tentam esconder sua animalidade, sua primitividade. Mas não posso dizer isso de Fran:

-Bah Fabiano... Acho que agora a coisa vai crescer mais...
-Do que tu estas falando Fran?
-Comecei a tomar outros hormônios masculinos... Medico disse que isso vai me ajudar muito...
-Legal e ai, como tá sentindo as coisas agora? Tipo como um macho mesmo?
-Porra cara, to ficando mais macho que tu...
-Sério? Legal.
-Me acordo todas as manhas de pau duro e tudo... Como tu dizes lá naquela merda de Fio da Navalha...

Comecei a rir. Ela tava meio chapada, e quando esta assim, vira uma coisa mística e andrógena. Não sei gosta mesmo de mulheres apenas, ou ela é bivolt, tipo, o que pintar tá valendo. Mas Fran tem problemas com sua própria imagem. Gostaria de ser magra e não é, gostaria de ser limpa e não é, gostaria que as coisas fossem mais fáceis e não são...

-Legal Fran, vamos fazer um negocio?(estava bastante bêbado...e ai já era...)
-Hummmm que foi Fabiano?
-Nada demais, não seja tão complexa, seja facinha, você me deixa ver o seu “pau” e deixo você ver o meu... que tal?
Ficou me olhando, e havia duvida no seu olhar. Mas depois que falei pensei: porra, e se essa vagabunda desenvolveu um pau de 30 centímetros? Agora já tinha falado.
-Que isso Fabiano, tais carente é? Querendo ver o meu grelão?
-É uma curiosidade médica... Nunca vi um grelão... Você sabe como é, as mulheres querem parecer mais normal possível... E um grelão é algo diferente, queria ver...

Ela levantou e não me respondeu nada. Foi atender uma cliente que havia chegado. Eu consulto as horas, duas e quarenta e sete da manhã. Este é um autentico final de noite. Meio bêbado ao lado de uma machorrona greluda. Que mais podia esperar? Naquela hora, no bar só entrariam, os seres da noite. Vampiros, lobisomem, o saci, a cuca... você precisa estar ligado.

Fui ao banheiro. A portinha não fechava, mas pra que? Aquele cheiro acre de mijo adormecido, mijo de toda humanidade, mijo de homens e mulheres, a descarga não funcionava. Relaxei, fiz lentamente, quando alguém subitamente segura meu pescoço por trás. Uma mão forte e me puxa enrolando uma espécie de laço ou garrote no meu pescoço. Reconheci a voz: Fran. Ela aperta o laço. Ainda não estava preocupado, mas qual seria ? Iria me matar por asfixia? Duvido muito. Que merda, é assim que as coisas acontecem, você duvida do poder de fogo da morte e do inesperado.

Quando finalmente caí no chão, meio sem ar, pude ver a cara de Fran, ela estava meio transtornada. Tentei falar

-Ei Fran... que isso...tu...
-Cala boca Fabiano... Quietinho, agora tu és meu bichinho de estimação...
Fran resolveu se mostrar quem era aquela noite. E eu tava pensando em ir pra casa, bater uma punheta lentamente quase romântica e dormir, tive que adiar meus planos.
-Mas Fran... Que tu queres, porra?
-Nada de falar... Cara... chega... Agora tu vais ter latir gostoso... tu vai ser meu poodle preto e femea...minha cadelinha poodle...

Fran pesa meia tonelada. É meia tonelada de paixão insana e sexo bizarro. Nada tenho contra sexo bizarro, mas tinha que ser naquela noite? Porra Deus, tinha que me armar essa?

-Tudo bem Fran... Eu agora sou um poodle... E vou latir...

Vocês lembram sobre o que falei do ser humano ser ridículo? Puta que pariu...
Comecei a latir. Era preciso fazer o jogo, a ideia era aliviar aquela coleira no meu pescoço, e depois...

-Rola para a direita -  ela diz
Eu rolava e latia, quase feliz, colocando a língua pra fora e tudo
-Rola para a esquerda...
E la ia eu... Eu pensava: mas que bela merda.

Ela parecia em êxtase.
Estas fantasias do ser humano, já fiz cosias muito estranhas, a grande maioria eu gostei, entendo como um terreno sem limites. Basta ser criativo e ter disposição. A coleira deu uma aliviada. Fran sorria feliz pelo domínio. Esse é os ser humano, você tendo a oportunidade de ficar no domínio de algo... bem...você abusa.

-Agora senta...
-Au, Au, Au...au, au...

Fran estava vestindo uma saia colorida, ela usa cabelo muito curto no estilo militar. Não parece uma mulher. Então ergueu um pouco a saia, enfiando a mão em direção a buceta, fazia movimentos em pé, e dava os comandos gemendo grosso:

-Agora finge de morto...
-Au, au,au...au, au, au....

Eu fingindo de morto abri os olhos de debaixo daquela saia imensa, Fran expunha um grelo respeitoso, talvez cinco centímetros, era uma mulher com um pequeno cacete. Por fim a coleira estava completamente frouxa, era hora de dar fim naquela palhaçada.

Quando ela fechou os olhos naquilo que parecia ser uma gozada, eu me ergui rapidamente... e minha mão foi no pescoço dela. Hora do troco puta. Ela se assustou, achei que seria bom dar uma apertadinha a mais. Isso é um autentico brinquedo de gente grande. Acho que interrompi a gozada dela... Mas não a mijada... Ela se mijou todinha, inclusive em mim...  Soltei-a.

-Tu és meu cachorrinho... Luís Fabiano...há,há,há...
-Ok, baby... Posso ser... Mas era só falar...
-E o elemento surpresa cara?
-To ligado, belo grelo hein Fran...
-Te falei...
-Uma cerveja agora?
-Tudo bem, é por conta da casa... Cachorrinho da Fran.

Ambos estávamos em um estado lamentável. Sujos e mijados. Acho que é disso que gosto, a surpresa do ser humano, o ridículo incidental que reside em nós eclode como uma ferida de encantos.
Foi uma noite boa.

Luís Fabiano.


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