Grelos Gigantes, Poodles e Muito mijo
Não há dúvidas, o ser humano na maior parte do tempo faz
coisas ridículas. Talvez isso seja o nosso viver. Alguns se comportam, como autômatos
programados para serem o que são, sem que precisem sequer pensar em nada. Não
questionam, não mudam e são previsíveis como um Tic-Tac de um relógio da porra.
Tenho cada vez menos apreciação por quem é assim. Mas foda-se, isso também é um
direito, no fundo lamento que todos em algum momento sejamos tão engessados.
Termino sempre voltando para o melhor lugar do mundo, o
Bar, foi lá que encontrei meus verdadeiros mestres de vida: putas, travestis, bêbados,
viciados, ladrões, psicóticos, depressivos, doentes, tarados e loucos de toda
sorte. Gente que parece ter um objetivo profundo e não estão entregues ao
conveniente, ao fácil. Porra, sempre me pergunto, será que estes caras gostariam
de uma vida de gesso? Normal ? Você sabe bem da merda que estou falando; um
trabalho normal, ir para casa depois do expediente, jantar com a esposa e
filhos e depois trepar entre lençóis alvos, e adormecer nos braços um do outro
pacificamente e amanha, bem , amanha fazer tudo novamente? Uma maquina de
felicidade. Já tive isso e confesso que achei uma merda, por isso me desfiz
algumas vezes desta situação. E faria uma dezena de vezes.
Já me disseram varias coisas ruins, que talvez eu seja um
cara problemático? Ok. E quem não é? Observe um ser humano bem de perto e
perceberemos que o normal é a maluquice.
Poderia ficar ali por horas analisando aquelas pessoas no
Bar. Na verdade pra mim todo o ser humano é um circo em potencial, as vezes
você só precisa esperar, como uma pescaria macabra. O peixe certo ou errado. Na
mesa, um copo caprichado de rum e muito gelo.
Desta vez a Francisca havia caprichado. Ela é conhecida
como Fran. Gosto dela, é apaixonada por mulheres, e esta espera de um grande
amor... Embora creia que isso seja bem difícil, se acha muito feia, gorda e
fedida. Por vezes senta a mesa comigo e conversa, papo furado. Gosto do bar
dela, não tem nome, fica na localidade do Simões Lopes, um lugar aprazível,
simples e com um cheiro característico que a periferia tem a oferecer. Não é
exatamente daqueles mais limpos. A própria Fran mesmo, tem um cheiro de sovaco
forte.
Ok, eu gosto. Gosto dos cheiros intensos, que sejam humanos, todos eles,
do peito ao vomito, nada mais humano que a merda fresca.
Acho que as mulheres usam cremes e perfumes demais, o
cheiro fêmea dela fica escondido por debaixo daquilo que ela não é. Tentam
esconder sua animalidade, sua primitividade. Mas não posso dizer isso de Fran:
-Bah Fabiano... Acho que agora a coisa vai crescer mais...
-Do que tu estas falando Fran?
-Comecei a tomar outros hormônios masculinos... Medico
disse que isso vai me ajudar muito...
-Legal e ai, como tá sentindo as coisas agora? Tipo como
um macho mesmo?
-Porra cara, to ficando mais macho que tu...
-Sério? Legal.
-Me acordo todas as manhas de pau duro e tudo... Como tu
dizes lá naquela merda de Fio da Navalha...
Comecei a rir. Ela tava meio chapada, e quando esta
assim, vira uma coisa mística e andrógena. Não sei gosta mesmo de mulheres
apenas, ou ela é bivolt, tipo, o que pintar tá valendo. Mas Fran tem problemas
com sua própria imagem. Gostaria de ser magra e não é, gostaria de ser limpa e
não é, gostaria que as coisas fossem mais fáceis e não são...
-Legal Fran, vamos fazer um negocio?(estava bastante bêbado...e
ai já era...)
-Hummmm que foi Fabiano?
-Nada demais, não seja tão complexa, seja facinha, você me
deixa ver o seu “pau” e deixo você ver o meu... que tal?
Ficou me olhando, e havia duvida no seu olhar. Mas depois
que falei pensei: porra, e se essa vagabunda desenvolveu um pau de 30 centímetros?
Agora já tinha falado.
-Que isso Fabiano, tais carente é? Querendo ver o meu
grelão?
-É uma curiosidade médica... Nunca vi um grelão... Você
sabe como é, as mulheres querem parecer mais normal possível... E um grelão é
algo diferente, queria ver...
Ela levantou e não me respondeu nada. Foi atender uma
cliente que havia chegado. Eu consulto as horas, duas e quarenta e sete da
manhã. Este é um autentico final de noite. Meio bêbado ao lado de uma
machorrona greluda. Que mais podia esperar? Naquela hora, no bar só entrariam,
os seres da noite. Vampiros, lobisomem, o saci, a cuca... você precisa estar
ligado.
Fui ao banheiro. A portinha não fechava, mas pra que?
Aquele cheiro acre de mijo adormecido, mijo de toda humanidade, mijo de homens
e mulheres, a descarga não funcionava. Relaxei, fiz lentamente, quando alguém subitamente
segura meu pescoço por trás. Uma mão forte e me puxa enrolando uma espécie de
laço ou garrote no meu pescoço. Reconheci a voz: Fran. Ela aperta o laço. Ainda
não estava preocupado, mas qual seria ? Iria me matar por asfixia? Duvido
muito. Que merda, é assim que as coisas acontecem, você duvida do poder de fogo
da morte e do inesperado.
Quando finalmente caí no chão, meio sem ar, pude ver a
cara de Fran, ela estava meio transtornada. Tentei falar
-Ei Fran... que isso...tu...
-Cala boca Fabiano... Quietinho, agora tu és meu bichinho
de estimação...
Fran resolveu se mostrar quem era aquela noite. E eu tava
pensando em ir pra casa, bater uma punheta lentamente quase romântica e dormir,
tive que adiar meus planos.
-Mas Fran... Que tu queres, porra?
-Nada de falar... Cara... chega... Agora tu vais ter
latir gostoso... tu vai ser meu poodle preto e femea...minha cadelinha
poodle...
Fran pesa meia tonelada. É meia tonelada de paixão insana
e sexo bizarro. Nada tenho contra sexo bizarro, mas tinha que ser naquela
noite? Porra Deus, tinha que me armar essa?
-Tudo bem Fran... Eu agora sou um poodle... E vou
latir...
Vocês lembram sobre o que falei do ser humano ser ridículo?
Puta que pariu...
Comecei a latir. Era preciso fazer o jogo, a ideia era
aliviar aquela coleira no meu pescoço, e depois...
-Rola para a direita -
ela diz
Eu rolava e latia, quase feliz, colocando a língua pra
fora e tudo
-Rola para a esquerda...
E la ia eu... Eu pensava: mas que bela merda.
Ela parecia em êxtase.
Estas fantasias do ser humano, já fiz cosias muito
estranhas, a grande maioria eu gostei, entendo como um terreno sem limites. Basta
ser criativo e ter disposição. A coleira deu uma aliviada. Fran sorria feliz
pelo domínio. Esse é os ser humano, você tendo a oportunidade de ficar no domínio
de algo... bem...você abusa.
-Agora senta...
-Au, Au, Au...au, au...
Fran estava vestindo uma saia colorida, ela usa cabelo
muito curto no estilo militar. Não parece uma mulher. Então ergueu um pouco a
saia, enfiando a mão em direção a buceta, fazia movimentos em pé, e dava os
comandos gemendo grosso:
-Agora finge de morto...
-Au, au,au...au, au, au....
Eu fingindo de morto abri os olhos de debaixo daquela
saia imensa, Fran expunha um grelo respeitoso, talvez cinco centímetros, era
uma mulher com um pequeno cacete. Por fim a coleira estava completamente
frouxa, era hora de dar fim naquela palhaçada.
Quando ela fechou os olhos naquilo que parecia ser uma
gozada, eu me ergui rapidamente... e minha mão foi no pescoço dela. Hora do
troco puta. Ela se assustou, achei que seria bom dar uma apertadinha a mais. Isso
é um autentico brinquedo de gente grande. Acho que interrompi a gozada dela... Mas
não a mijada... Ela se mijou todinha, inclusive em mim... Soltei-a.
-Tu és meu cachorrinho... Luís Fabiano...há,há,há...
-Ok, baby... Posso ser... Mas era só falar...
-E o elemento surpresa cara?
-To ligado, belo grelo hein Fran...
-Te falei...
-Uma cerveja agora?
-Tudo bem, é por conta da casa... Cachorrinho da Fran.
Ambos estávamos em um estado lamentável. Sujos e mijados.
Acho que é disso que gosto, a surpresa do ser humano, o ridículo incidental que
reside em nós eclode como uma ferida de encantos.
Foi uma noite boa.
Luís Fabiano.
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