Rei das Bucetas, muvuca
e cachaça
Parte final
-Creio que sempre fui, mas te digo que venho melhorando
com o tempo.
Gargalha o Rei das Bucetas, como se tivesse contado uma
piada macabra.
-Somos como o vinho Fabiano, viramos vinagre ou nos
tornamos algo de boa qualidade, não há meio termo em nada na vida. O meio termo
é a morte.
Nesse meio tempo, meu olhar vagabundo passeava naquele
ambiente pouco limpo, os “grã-finos” estavam animados demais, dançavam como se
tivessem em um forró universitário de merda. Não sou dançarino, aliás, eu tenho
dois pés esquerdos, minha falta de ginga é gigantesca. Mas não importa, eu
nunca gostei também de dança. Sou um voyeur profissional, prefiro olhar, existe
mais satisfação e menos força.
Aquela cachaça desceu rasgando a garganta, dando um toque
especial ao rum que havia bebido. Sensação maravilhosa essa, torpor de uma câmera
lenta, a realidade não tão real, os pensamentos em uma vaga sem freios.
Uma mulher chega-se ao Rei das Bucetas, fala algo em seu
ouvido e senta-se em seu colo. Ele acaricia-lhe os seios por cima da blusa a
principio, ela sorria feliz, satisfeita como uma vagabunda plena de amor.
Porque todas as mulheres querem dar para este cara? Eu penso. Ele parecendo ler
meus pensamentos sorri, expondo todos os dentes:
-Filho... o segredo é ser um leão, eu as como um Leão, e
depois as acaricio como um anjo quase bom... Anjo maldito as vezes, sou o braço
firme e o desejo que voa.
Então uma mulher veio para minha frente. Rebolava gostoso
dançando, mexendo os quadris como uma serpente árabe no deserto. Uma bunda
maravilhosa. Era lindo ver aquilo, quem dera tudo fosse assim, uma sedução, ser
seduzido pela vida. Meu pau gostou daquilo também. A ferramenta estava viva,
vida boa, bucetas do encanto, sorrindo distantes e próximas como meteoros de
amor.
As tetas da moça no colo de Rei das Bucetas, estavam
expostas agora e ninguém parecia se importar. Tive vontade de tirar meu pau pra
fora também e bater uma punheta lenta, carinhosa, romântica vendo aquela cena.
Mas tudo tem limites. Eu já bati muitas punhetas na rua, me viram três vezes,
mas quem viu parece que não se importou, ou pensou que era maluco. Em banheiros
podres também, outros mais limpos, um prazer solitário e feliz, esporrar com
abundancia é bom, semeando o azulejo, a calçada e o céu.
Quando olho novamente, Rei das Bucetas não estava mais na
mesa. Tive duvidas que ele estivesse ali? Porra, estar bêbado e ter duvidas. A
bunda ainda dançava a minha frente. Tive vontade toca-la.
Nisso, Jussara surge na minha frente. Negra linda, meio
misturada, insana, doida com uma fome de fuder eterna e de cara.
-Gostou da bunda desta branca aí Fabiano? - Ela diz.
As coisas começaram mal. Por que precisa ser assim? Eu
sempre pergunto isso.
-Relaxa Jussara... A Monalisa esta lá no Louvre e todos
gostam de olhar, a Capela Sistina também, olhar não significa desejar... coisas
bonitas de olhar...
-Não sei quem é essa tal de Monalisa, é outra branca? A Igreja
eu respeito... Onde fica essa merda?
-Pertinho daqui, na Itália...
Estava aborrecida e nem me escutou.
Ela não perde tempo, da um empurrão na mulher de bunda
linda que dançava na minha frente. Era o show de Jussara começando, sempre
assim, uma dinamite acesa para onde quer que se vire. Deus, porque você não me
dá bucetas calmas?
Ninguém gosta de perder viagem, é ida e volta. A bunda
linda, se sentiu ofendida e começou a confusão. “Bateção” de boca, gritos e
depois os tapas. Tudo acontecia a um metro de mim, eu de camarote. Não me
levantei, não fiz força e nem tentei pensar em impedir.
-Esse negro é meu – disse Jussara - vai saindo vagabunda...
teu lugar não é aqui...
-Teu? Ele tá sozinho ai a horas, e pelo jeito tava
gostando do que estava vendo, há,há,há
Pensei eu: porra eu era pra ter tocado naquela bunda,
tava facinha mesmo. Gosto disso.
Jussara não perdeu tempo, e deu a primeira porrada. Briga
de mulher você sabe como é, nunca é limpa, tapas, cabelos, unhas e o chão, cada
um com suas armas.
A musica para repentinamente, e a voz grave e rouca de
Rei das Bucetas se faz ouvir:
-Paremmmm já com essa porra, ou vocês duas, suas
merdinhas da porra, estarão expulsas definitivamente do estabelecimento, aqui
não tem isso... Eu digo, e minha palavra
é uma só...
Todos as olhavam, sujas do chão e envergonhadas, olhavam
para o chão. O cara é o Rei mesmo, e seu reino era aquele bar. As pessoas não o
temiam, o respeitavam, coisa complexa de se impor hoje em dia por ai.
Elas se erguem, tentam se limpar um pouco. Rei as olha
fixamente, parecem crianças mal criadas, sendo castigadas.
-Desculpe Rei – diz Jussara.
-É seu Rei, desculpas – diz a bunda linda.
Então o Rei me olha, estou bêbado e me divirto com o
caos. Talvez eu seja mesmo meio malévolo, sabe-se lá. Ou eu seja apenas um
idiota. A musica recomeça, e Rei senta-se novamente a mesa:
-Porra Fabiano... tu não fez nada?
-Não... Achei que não devia.
-Não quero confusão no meu estabelecimento filho... Leva
a Jussara daqui, come ela... E sejam felizes, ela tá no cio... Precisa fuder,
sinto o cheiro nela.
Não respondi nada.
É fato, as mulheres exalam o cheiro forte quando estão férteis
e com muito desejo sexual. Normalmente isso passa batido porque elas se enchem
de perfumes e cosméticos. O artificialismo de merda, escondendo o animal que
existem em todos nós.
Chamei Jussara, mas ela estava aborrecida completamente. Ela
tem uma bunda ótima, mas sua vaidade feminina estava arranhada, deu de ombros e
se foi. Eu não tava afim de discussão aquela noite, e nem tão pouco contar
historias para alcançar a sagrada buceta. Não. Achei que deveria ficar ali como
um verme sebento, feliz como uma lesma no esgoto, deixando a noite passar, agarrando-me
aos momentos realmente felizes. É isso, agarre-os sempre.
Olho para Rei das Bucetas ,e como num momento místico de
um Rei e seu súdito, comungando o melhor que a vida pode nos oferecer.
Gargalhamos. Porra... Talvez um dia eu também seja Rei. Não sei.
Puta que pariu.
Luís Fabiano.
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