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quinta-feira, novembro 08, 2012




Calor, solidão homeopática, e uns "pipocos" na bunda

Aqueles caras vinham piorando a cada dia. Gosto de ver a evolução das pessoas, quando a inocência mergulha no abismo. Isso sempre me faz pensar, em que momento perdemos nossa inocência? Não posso dizer que lamento. A natureza e a vida nos pedem isso, eventualmente nos esfolamos com a existência. Talvez criando nossas próprias marcas na pele e no coração.

Conhecia-os todos desde a infância. Embora não tivéssemos proximidade, eles eram os caras. Eu tinha um perfil mais de perdedor ou diferente. Bem, existem pessoas que estão sempre querendo ser melhor que outros. Houve um tempo que isso me perturbava. Então você vive e, e percebe que não precisa lutar com estes caras no mesmo nível, você sai da pista de conflito, na zona da briga, sobrevoa o mundo, e fica em paz. É isso que todos queremos no fundo.
Porra, talvez envelhecer seja isso: você poder olhar as coisas e dar os devidos descontos e acréscimos assim peneirando a verdade. Isso.

Segui na boa. Como uma espécie de escravidão prazerosa, estava de volta ao bar. Entregue nos consolos desta noite. As ruas de Pelotas, acalorada, pessoas demais andando para todos os lados, barulho excessivo, musica péssima para todos os cantos.
Pego o carro no estacionamento. A rua esta lotada por três ou quatro festas, meninas da faculdade estão no meio da rua, expõe um pouco sua beleza, um bom estimulo, mas não passa disto nunca... As vezes penso que observar de longe é sempre melhor.
Você tem uma idéia de como seja, e esta ideia é sempre melhor que a realidade.
Olhar aquele corpo lindo, e imediatamente vem o pensamento: porra, esta mina deve fuder muito!
Besteira, um corpo é apenas um corpo. Conheci desdentadas que eram Ferraris na cama, conheci mulheres lindíssimas, que eram frescas e sem a pegada humana que gosto, estavam perdidas em mundo feito de beleza vazia, como se fossem namoradas de si mesmas.
Sorri amarelo para as meninas com garrafas de uísque na mão.

Meu destino: Bar do Sujeira. Aquele é o lugar, distante da balburdia, no porto, onde perdedores e ganhadores se misturam, onde valentões não tentam se mostrar, trabalhadores braçais, estudantes da Universidade, fazem seus ensaios tentando absorver a cultura. Tudo uma tentativa feliz.
Chego lá, e as coisas estavam exatamente como imaginei. Algumas almas penadas bebendo cachaça ou cerveja, outros tentavam fazer um som com um violão, moscas voando, o bom e velho balcão ensebado, e o vidro cheio de ovos cozidos, pareciam meio verdes. Tais coisas são como um grito feliz. O sujeira, proprietário do estabelecimento, mantem firme seu senso de humor horrível, com o guardanapo sujo no ombro esquerdo, mãos escoradas no balcão olhando a porta...

-Então Sujeira... Esperando-me?
-Tenho coisas mais importantes para esperar!
-Que beleza Sujeira... Que fico feliz que estejas bem...
-Tá feliz por quê?
-Ei brother... Relaxa ok... Vim aqui beber um pouco, e ouvir alguma coisa de ti...
-Rum?
-Yes... Rum e uma pedra de gelo.
-Fabiano, tu és um babaca de primeira...
-E qual a novidade? Cada um é como é...

O rum veio, bebi o primeiro gole... Puta merda, era de péssima qualidade, desce arranhando a garganta, como engolir um gato com as unhas afiadas...

-Bah Sujeira, tem o que aqui? Acido sulfúrico?
-Deveria ter arsênico pra ti...

Relaxei.
Sujeira estava naqueles dias... Dias que uma saudade oculta dentro de si o fustigava por dentro. Ele fazia o tipo durão, alias como todos os durões. Um eles se entregam é natural, já vi lagrimas de Sujeira.
Nisso da entrada o Cristian. Um bom amigo de noite. Um responsável gerente de dia. Mas carrega consigo a essência do porra-loca noturno, disposto a fazer merda a rodo.

-Fabiano, o rei da noite aqui? Ele disse
-Sou rei de coisa alguma... Mas conheço um cara que é o Rei das Bucetas la no Navegantes...
-Porra, com um nome destes... E ai cara tudo tranquilo?
-Sim sim, aqui com um papo afiado com o Sujeira, que esta muito feliz hoje...

Cristian sorri e diz pro Sujeira:

-Uma cervejinha meu mestre...
Quando Sujeira traz a tal cerveja, ela não esta muito gelada e percebi outra coisa. Aquele guardanapo sujo no ombro, exalava um cheiro horrível, algo meio podre, ou seria o cheiro natural de Sujeira? O banho as vezes não é um aliado.

Eu e Cristian no olhamos... E tratamos de esquece o cheiro. Afinal, já colocamos a cara em lugares que até Deus duvida, um cheiro ruim... Bem, as vezes é o preço.
-E então Cristian, me conta algo interessante ai...

Ele gargalha como se que se lembrasse de uma pérola da vida.
-Vomita cara...
-Tudo bem... é tranquilo. Na semana passada, eu tava voltando pra casa. Uma noite braba cara... Tinha levado o fora de toda as mulheres do planeta. Estava escutando a mesma merda de sempre... Ladainha. Eu já estava convencido que deveria ir para casa. Fui, mas antes decidi passar ali pela Barão, dar uma olhada nas “moças”. Elas estavam ali... E eu pensei, porque não?
-Tu comeu uma traveca?
-Calma porra... To contando a historia. Dei uma volta ali... e escolhi uma que estava com um vestido curtinho cara... Que merda... Olhei aquelas pernas lindas... E os peitão? Umas tetas de fazer inveja a qualquer mulher. Ela meio loira, meio morena e meio japonesa, um bocão... Na hora fiquei de pau duro. E pensei novamente: e porque não? Afinal né, cu é cu...

Eu dou uma olhada pro Sujeira, que estava com uma sobrancelha em pé olhando Cristian com muita desconfiança. Cristian segue:

- A chamou ela no carro, ela vem rebolando aquele “popozão”... E diz: boa noite bonito. Meu cérebro já havia fritado, pergunto pra ela, quanto? Ela responde: trinta reais pra ser passiva e cinquenta pra fazer tudo.
Passiva? Pensei. Trinta pila tá ótimo. Disse pra ela: sobe aí. Dirigi-me para meu Ap, levando a princesa.
-O Cristian, levando para o Ap? Não é por nada não brother... E se o cara não era apenas travesti?E se fosse um criminoso?  Ou se fosse uma puta noiada, fosse uma assaltante?  Tremenda vacilada cara.
-Bem, agora foda-se, já era... Quando entramos em casa, me dirigi o templo do amor. Ela então se apresentou...
-Porra, nome de travesti é sempre algo...
-E era, Bianca Redeford Star Bionda...
-Puta merda...
-Eu não queria papo aquela hora da madrugada... Era dar uma comida básica e dispensar o mais rápido possível. Ela entrou numas de mulher... Queria papinho, queria beijinho e carinho. Cortei o esquema, e já fui dizendo pra tirar o vestido.

Cara, quando a Bianca Star tirou o vestido... Puta que pariu... Se arrependimento matasse... Tava morto...

-Que foi? A pica dela era maior que a tua?
-Antes fosse isso... Maluco, a “bixa” tinha umas perebas violentas nas costas e na bunda, que era muito desagradável, na hora broxei... era uma sequencia de espinha meio inchadas e parecia que iam estourar... E aquilo entrava pelo meio da bunda e se ia...
-Bah... Já me aconteceu isso com uma puta... Pedi pra ela se vestir e paguei... fiquei no zero a zero.
-Pois foi isso que fiz... mas o drama agora era como dizer isso pra ela? Mas não pensei muito e disse: meu amorzinho... Assim não vai rolar... Estes teus “pipocos “ ai me assustaram...
-Não é nada não-ela disse- é alergia a malha...
-Porra Bianca, que coisa braba essa malha hein... Bah... Mas assim... vamos deixar assim de boa.
-Eu te bato uma punhetinha, que tal? Só pra não perder a viagem...
-Não, não... Deixa assim... O bixo ate murchou.

Eu por minha vez, não agüentava de tanto rir. Pois as vezes é exatamente assim, a noite é uma derrota... Percebi até um meio riso em Sujeira... Historias de pura poesia. Me sentia bem como estava. Peguei meu copo, e fui até porta do bar.

A lua estava bonita, e tinha estrelas também, existia uma calma como uma comunhão de desejos. Ergui o copo em direção ao céu, e brindei.

Luís Fabiano.


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