Calor, solidão homeopática, e uns "pipocos" na bunda
Aqueles caras vinham piorando a cada dia. Gosto de ver a
evolução das pessoas, quando a inocência mergulha no abismo. Isso sempre me faz
pensar, em que momento perdemos nossa inocência? Não posso dizer que lamento. A
natureza e a vida nos pedem isso, eventualmente nos esfolamos com a existência.
Talvez criando nossas próprias marcas na pele e no coração.
Conhecia-os todos desde a infância. Embora não tivéssemos
proximidade, eles eram os caras. Eu tinha um perfil mais de perdedor ou
diferente. Bem, existem pessoas que estão sempre querendo ser melhor que
outros. Houve um tempo que isso me perturbava. Então você vive e, e percebe que
não precisa lutar com estes caras no mesmo nível, você sai da pista de conflito,
na zona da briga, sobrevoa o mundo, e fica em paz. É isso que todos queremos no
fundo.
Porra, talvez envelhecer seja isso: você poder olhar as
coisas e dar os devidos descontos e acréscimos assim peneirando a verdade.
Isso.
Segui na boa. Como uma espécie de escravidão prazerosa,
estava de volta ao bar. Entregue nos consolos desta noite. As ruas de Pelotas,
acalorada, pessoas demais andando para todos os lados, barulho excessivo,
musica péssima para todos os cantos.
Pego o carro no estacionamento. A rua esta lotada por
três ou quatro festas, meninas da faculdade estão no meio da rua, expõe um
pouco sua beleza, um bom estimulo, mas não passa disto nunca... As vezes penso
que observar de longe é sempre melhor.
Você tem uma idéia de como seja, e esta ideia é sempre
melhor que a realidade.
Olhar aquele corpo lindo, e imediatamente vem o
pensamento: porra, esta mina deve fuder muito!
Besteira, um corpo é apenas um corpo. Conheci desdentadas
que eram Ferraris na cama, conheci mulheres lindíssimas, que eram frescas e sem
a pegada humana que gosto, estavam perdidas em mundo feito de beleza vazia,
como se fossem namoradas de si mesmas.
Sorri amarelo para as meninas com garrafas de uísque na
mão.
Meu destino: Bar do Sujeira. Aquele é o lugar, distante
da balburdia, no porto, onde perdedores e ganhadores se misturam, onde
valentões não tentam se mostrar, trabalhadores braçais, estudantes da
Universidade, fazem seus ensaios tentando absorver a cultura. Tudo uma
tentativa feliz.
Chego lá, e as coisas estavam exatamente como imaginei.
Algumas almas penadas bebendo cachaça ou cerveja, outros tentavam fazer um som
com um violão, moscas voando, o bom e velho balcão ensebado, e o vidro cheio de
ovos cozidos, pareciam meio verdes. Tais coisas são como um grito feliz. O
sujeira, proprietário do estabelecimento, mantem firme seu senso de humor
horrível, com o guardanapo sujo no ombro esquerdo, mãos escoradas no balcão
olhando a porta...
-Então Sujeira... Esperando-me?
-Tenho coisas mais importantes para esperar!
-Que beleza Sujeira... Que fico feliz que estejas bem...
-Tá feliz por quê?
-Ei brother... Relaxa ok... Vim aqui beber um pouco, e
ouvir alguma coisa de ti...
-Rum?
-Yes... Rum e uma pedra de gelo.
-Fabiano, tu és um babaca de primeira...
-E qual a novidade? Cada um é como é...
O rum veio, bebi o primeiro gole... Puta merda, era de
péssima qualidade, desce arranhando a garganta, como engolir um gato com as
unhas afiadas...
-Bah Sujeira, tem o que aqui? Acido sulfúrico?
-Deveria ter arsênico pra ti...
Relaxei.
Sujeira estava naqueles dias... Dias que uma saudade
oculta dentro de si o fustigava por dentro. Ele fazia o tipo durão, alias como
todos os durões. Um eles se entregam é natural, já vi lagrimas de Sujeira.
Nisso da entrada o Cristian. Um bom amigo de noite. Um
responsável gerente de dia. Mas carrega consigo a essência do porra-loca
noturno, disposto a fazer merda a rodo.
-Fabiano, o rei da noite aqui? Ele disse
-Sou rei de coisa alguma... Mas conheço um cara que é o
Rei das Bucetas la no Navegantes...
-Porra, com um nome destes... E ai cara tudo tranquilo?
-Sim sim, aqui com um papo afiado com o Sujeira, que esta
muito feliz hoje...
Cristian sorri e diz pro Sujeira:
-Uma cervejinha meu mestre...
Quando Sujeira traz a tal cerveja, ela não esta muito
gelada e percebi outra coisa. Aquele guardanapo sujo no ombro, exalava um
cheiro horrível, algo meio podre, ou seria o cheiro natural de Sujeira? O banho
as vezes não é um aliado.
Eu e Cristian no olhamos... E tratamos de esquece o
cheiro. Afinal, já colocamos a cara em lugares que até Deus duvida, um cheiro
ruim... Bem, as vezes é o preço.
-E então Cristian, me conta algo interessante ai...
Ele gargalha como se que se lembrasse de uma pérola da
vida.
-Vomita cara...
-Tudo bem... é tranquilo. Na semana passada, eu tava
voltando pra casa. Uma noite braba cara... Tinha levado o fora de toda as
mulheres do planeta. Estava escutando a mesma merda de sempre... Ladainha. Eu
já estava convencido que deveria ir para casa. Fui, mas antes decidi passar ali
pela Barão, dar uma olhada nas “moças”. Elas estavam ali... E eu pensei, porque
não?
-Tu comeu uma traveca?
-Calma porra... To contando a historia. Dei uma volta ali...
e escolhi uma que estava com um vestido curtinho cara... Que merda... Olhei
aquelas pernas lindas... E os peitão? Umas tetas de fazer inveja a qualquer
mulher. Ela meio loira, meio morena e meio japonesa, um bocão... Na hora fiquei
de pau duro. E pensei novamente: e porque não? Afinal né, cu é cu...
Eu dou uma olhada pro Sujeira, que estava com uma
sobrancelha em pé olhando Cristian com muita desconfiança. Cristian segue:
- A chamou ela no carro, ela vem rebolando aquele “popozão”...
E diz: boa noite bonito. Meu cérebro já havia fritado, pergunto pra ela,
quanto? Ela responde: trinta reais pra ser passiva e cinquenta pra fazer tudo.
Passiva? Pensei. Trinta pila tá ótimo. Disse pra ela:
sobe aí. Dirigi-me para meu Ap, levando a princesa.
-O Cristian, levando para o Ap? Não é por nada não
brother... E se o cara não era apenas travesti?E se fosse um criminoso? Ou se fosse uma puta noiada, fosse uma
assaltante? Tremenda vacilada cara.
-Bem, agora foda-se, já era... Quando entramos em casa,
me dirigi o templo do amor. Ela então se apresentou...
-Porra, nome de travesti é sempre algo...
-E era, Bianca Redeford Star Bionda...
-Puta merda...
-Eu não queria papo aquela hora da madrugada... Era dar
uma comida básica e dispensar o mais rápido possível. Ela entrou numas de
mulher... Queria papinho, queria beijinho e carinho. Cortei o esquema, e já fui
dizendo pra tirar o vestido.
Cara, quando a Bianca Star tirou o vestido... Puta que
pariu... Se arrependimento matasse... Tava morto...
-Que foi? A pica dela era maior que a tua?
-Antes fosse isso... Maluco, a “bixa” tinha umas perebas
violentas nas costas e na bunda, que era muito desagradável, na hora broxei...
era uma sequencia de espinha meio inchadas e parecia que iam estourar... E
aquilo entrava pelo meio da bunda e se ia...
-Bah... Já me aconteceu isso com uma puta... Pedi pra ela
se vestir e paguei... fiquei no zero a zero.
-Pois foi isso que fiz... mas o drama agora era como
dizer isso pra ela? Mas não pensei muito e disse: meu amorzinho... Assim não
vai rolar... Estes teus “pipocos “ ai me assustaram...
-Não é nada não-ela disse- é alergia a malha...
-Porra Bianca, que coisa braba essa malha hein... Bah... Mas
assim... vamos deixar assim de boa.
-Eu te bato uma punhetinha, que tal? Só pra não perder a
viagem...
-Não, não... Deixa assim... O bixo ate murchou.
Eu por minha vez, não agüentava de tanto rir. Pois as
vezes é exatamente assim, a noite é uma derrota... Percebi até um meio riso em
Sujeira... Historias de pura poesia. Me sentia bem como estava. Peguei meu copo,
e fui até porta do bar.
A lua estava bonita, e tinha estrelas também, existia uma
calma como uma comunhão de desejos. Ergui o copo em direção ao céu, e brindei.
Luís Fabiano.
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