Val, Pânico, fodas e Claustrofobia.
Parte 2 Final
-Valdinho... Para de loucura meu... Abre isso...
-Não é loucura não... É o que eu vejo com meus olhos de
Deus, eu estou vendo agora as sete cabeças na beira do apocalipse... Há, há, há
o dragão esta preso agora... O dragão é meu...
-Xiiiii, o Valtinho tá com alucinação novamente - disse
Val - ele se droga demais, frita o cérebro, e depois fica sem noção do que é
real e do que é verdadeiro... Isso deve passar um dia...
-Passar algum dia? Porra nenhuma... Quem esse cara pensa
que é?
-Sei, lá... Mas voltando ao assunto... e o meu cuzinho?
-Puta que me pariu Val... Tu não tá percebendo? A gente tá
preso aqui caralho... O cara tá doidão...
Do outro lado da porta Valdinho fala entre risos:
-Doidão porra nenhuma rapaz! Estou consciente total... Os dragões devem ser presos... Quem me disse
foi o Merlin, há ,há, há...
Encostei a cabeça na porta, a claustrofobia me atacava
ferozmente... A necessidade de fugir, respirar o ar da rua... Naquele instante
lamentei não ser uma formiga, um verme, uma barata, uma bactéria que pudesse
circular fora dali... Tive uma ideia luminosa, fui para as janelas. Novamente
uma merda. Elas tinham grades de ferro, tal qual um cárcere as avessas. Então não
havia escolha.
Comecei a chutar a porta. Pedaços da madeira nobre
começaram a voar para todos os lados. Eram aquelas portas desenhadas,
entalhadas, daquelas que são caras. Val estava horrorizada e num acesso doentio
disse: Fabiano... Acho que o Valdinho tem razão... Tu pareces um bicho cara...
-Vá se fuder Val... Não torra os culhões...
Do outro lado da porta, gritos com uma voz mais ou menos
afeminada de Valdinho.
-O dragão vai escapar, huhuhui... Ele vai fugir... Chamem
todos...
Então num estrepito raivoso, consegui destruir a porta. Uma
lufada de ar puro entrou no quarto abafado, como os braços de uma puta amada...
Respirei aliviado. Valdinho corria nu dentro daquela casa imensa... Como se ele
fosse uma multidão... Estava surtado, chapado sei lá... Seja como for eu já o
detestava profundamente.
Ele veio correndo em minha direção, exibindo e balançando
aquela piroca murcha, como se fora uma linguiça cozida apodrecendo.
-Valdinho... Sai fora, chega cara, chega! Tu já passou da conta...
Ele parou como se fora uma estátua. Ficou me olhando nos
olhos, olhar ciente da própria idiotice, ou talvez a ancora tivesse chegado ao
fundo do rio.
Então disse para si em voz alta :
-Valdinho sempre passa da conta... Valdinho... não é
mau... Valdinho esta sozinho só isso... Fiquem com Valdinho hoje... Não vão
embora...
Estranho como a sensatez tece suas grades em nossas
emoções, o machucado e a ferida, explode de nós, lançando nossas farpas de
desespero. Todos carregamos alguma coisa assim, mas raramente desejamos pensar
nisso.
A cena era terrível. E por um momento me tornei humano.
Lamentei o estado de Valdinho. Era um pesadelo vivo, feito de carne e osso. Essa
pena, fez acordar em mim situações que passei. E aquela solidão infalível que
me levou muitas vezes estar mais bêbado que são, uma companhia estranha, o
desejo que o mundo esteja diferente, mais receptivo talvez. Valdinho agora
chorava.
Val estava enrolada em um lençol, tentava consola-lo.
Olho para a porta arrebentada e não gosto. Às vezes me
falta jogo de cintura. Mas não tinha nada a fazer ali.
Comecei a procurar as chaves do carro, as encontrei numa
mesa próxima. Juntei minhas coisas e fui embora, sem despedidas, sem adeus, por
hoje chega.
Quando entrei no carro, a memória veio, como um vomito de
um anjo. Eu escutava ontem um bom Celso Blues Boi, Val havia me telefonado, sendo
razoavelmente discreta e leve:
-Fabiano, hoje tu me come?
-Que isso Val, ta facinha hoje?
-Eu sou facinha sempre cara... To com o cuzinho piscando
de amor por ti, como se fosse a sirene da Samu!!
-Tá tranquilo Val, hoje a noite vai ser fácil então...
-Ok, me pega aqui e vamos na casa do Valdinho... tem uma
festinha daquelas...
Essas de não saber o futuro é foda.
Liguei o radio do carro... Era preciso voltar a realidade,
antes que alguém arrombasse as portas de minha alma.
Luís Fabiano.
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