Pesquisar este blog

quarta-feira, outubro 03, 2012




O silencio é uma voz

Gosto que a vida aconteça com naturalidade. Uma leveza perene, como asas que batem sem força, um vento acariciando a alma nas dobras suaves de um bem querer. Gostaria que a existência deslizasse em tonel de óleo novo e morno ou nas banhas do destino, sem atrito apenas fazendo fluir.

No fundo, essa é a nossa luta. Fazer com que nos entendamos com a natureza, sem conflitos de toda sorte. A luta, a guerra, a disputa não deveriam existir. Lados opostos, são como uma ilusão dançante, nos fomentando um inimigo que não existe fora de nós. O maior inimigo de você, é você mesmo.

Porra do caralho, tenho todas as soluções, e ainda continuo me fudendo. Não basta este vomitório barato de filosofia do entendimento... É preciso bem mais que isso. Mas agora chega. Dessa merda.

Sentando no bar, olhando aqueles malditos hippies dos anos dois mil... Tudo era natureza, orientalismo, maconha e papo furado. No fundo eles se enturmaram comigo, porque eu estava sentado ali sozinho, e eles eram um bando. Tenho uma boa apreciação pela minha solidão. Foram conversando, e vez por outra me perguntam alguma coisa, eu apenas respondia:
-Hum, hum... É isso brother...
Fodam-se, eu não tinha nada pra dizer.

Os novos hippies falam e escutam as mesmas musicas dos velhos hippies, falam de Janis Joplin como se ela estivesse na esquina. Esperei para ser algo iria acontecer. Esse é o meu ponto forte. Estou sempre esperando que algo aconteça ou surpreenda... Mas isso é raro. As pessoas não são surpreendentes na sua maioria, elas não fazem a coisa valer a pena.

Mas as vezes acontece. Em um bar eu sempre espero que alguma buceta apareça, que faça a felicidade de meu membro ou fale algo que aqueça a minha alma, espero que a bebida seja boa, um bom papo afiado ou uma briga, de preferencia não seja comigo.
Então como o cometa Halley, uma das ripongas, a que parecia mais suja e algo fedida me olhou serenamente nos olhos. Sorri como um idiota. Não estava a fim de falar. Mas aquela magrinha de tetas miúdas e meio suja, tinha um olhar penetrante. Talvez pelo efeito das drogas que estavam usando.

Nada é exatamente o que é.
Como tolos enrodilhados num encantamento mudo, ficamos naquilo. Os ruídos do bar eram um fundo denso e vazio, copos que brindavam, conversas em voz alta, um Led Zeppelin baixo, e nada disso tinha importância.

Acho que sou algo inocente, aquela putinha de olhos bonitos estava viajando, e eu simplesmente não dei bola pra isso. Ficamos nos encarando, porque eu não tinha nada melhor pra fazer, nem pretensão de coisa alguma. Um naufrago nadando a esmo, o que acha é sempre lucro.

Levantei, precisava mijar.
Fui pedindo licença aos que ocupavam o corredor do banheiro, quando fui entrar, alguém me bate no ombro. Era a magrelinha, cara de maconheira e com poucos dentes. Apenas aqueles olhos, que agora pude ver, eram claros azuis ou verdes?

Não falou nada, e nem eu. Abri a porta do banheiro, e ela entrou junto comigo, diante dos aplausos de alguns caras que estavam ali. O banheiro apertado e nauseabundo, o chão estava mijado e nos esprememos ali sem palavras.

Porra, como eu gosto que as coisas sejam assim, simples, fáceis, instintivas boas ou más, mas que fluam. Éramos animais, ela uma vaca e eu um touro reprodutor, a quinta sinfonia de Beethoven, um quadro de Picasso, a Capela Sistina inundada de porra, mijo e amor.
Ela baixou com delicadeza, abriu meu zíper expôs a ferramenta pra fora, que já estava meio duro com a cabeça rosada com leves pingos de lubrificação. 

Sou muito lubrificado quando gosto da mulher. Ela se apoiou no vaso sanitário, e como se sugasse as bênçãos do céu, fez com carinho, devagar.
Aquilo durou um pouco, pessoas batiam na porta, nem por uma bomba atômica eu interromperia aquela obra de arte. Não toquei nela em nenhum momento, nenhuma palavra...

Por fim gozei forte, três jorros fortes, que ela sorveu tudo. Acabou.
Então foi levantando lentamente, colocou meu pau de volta no zíper. E ficou me olhando em um semi-riso. Por fim me abraçou, abriu a porta e se foi.
Tudo que ficou foi o silencio. Quando sai do banheiro, tentei localiza-la, mas as ripongas haviam desaparecido.

Ainda não tinha nada a dizer, me restavam a bebida e tornar pra casa. O que teria significado aquilo? Não sei, talvez nada, acho que vou ficar como fiquei exatamente este dia.
Em silencio.

Luís Fabiano.


Nenhum comentário: