Navalhadas Curtas: Cacos de vidro e uma ativista
Antes fosse pacifista.
Para as coisas se distorcerem, nunca precisa muito esforço. É da natureza brutal do homem, o bicho, a coisa, o animal... Nunca imaginamos, mas estamos sempre a um passo do abismo.
Minha noite estava ganha. Lili havia me ligado, a meia noite e pouco. A voz rouca ,bêbada e chapada, era uma avalanche de promessas vazias de descontrole e paixão. Isso é lindo.
Quando a peguei naquele “muquifo” de bar, já estava o demônio. Dentro do carro a observei, era um peixe meio morto, fora do aquário. Caída na calçada, vomitada, bunda imensa aparecendo, calcinha de renda branca exposta, como a alma estuprada. Dia de sorte o meu.
-Ei Lili, noite pesada hein?
-Filho da puta, tu vais me ajudar ou não?
-Tudo bem, mas tente não mijar ou vomitar no carro.
-Ok.
Lili é bonita às vezes, mas sua alma é volátil. Comecei a dirigir devagar. Então Lili viu uma viatura de policia, e atirou uma garrafa vazia pela janela, a mesma espatifou próxima a viatura. Fui parado na hora. Aí todo o ritual, documentos, bafômetro, bebeu ou não? Eu ainda não estava bêbado. Lili agitada demais não parava de falar:
-Que vocês querem... Autoridades de merda... Cumplices do sistema, restos rotos da ditadura... Poder ofensivo contra o povo... E mais um monte de merda.
-Moça –disse o guarda - queira se acalmar, ou teremos que leva-la por desacato... Contenha-se...
-To no meu direito democrático... Eu sei meus direitos...
Confesso que naquele momento estava do lado do guarda. Toda aquela merda era gratuita, e a xoxota de Lili estava cada vez mais longe. Tudo é tão simples.
Por fim, o guarda me olhou sério e disse:
-Seu Luís Fabiano, com o senhor tudo em ordem, mas tome conta aí da sua “amiguinha” porque ela esta muito alterada... fazendo desordem.
-Ela é doente... Tenta dar um desconto ai... não sabe das coisas.
-Sei qual a doença dela senhor !
-Tudo bem?
-Pode ir, boa noite.
Lili agora gritava palavras de ordem, como se tivesse numa passeata pelos direitos humanos... Que merda a mais essa mulher tinha tomado? Normalmente sou tranquilo e tenho paciência com a loucura do todos... Mas hoje não. Não gosto de bêbados que não sabem beber, drogados que não sabem se drogar e putas que não sabem fuder. Na primeira esquina parei e disse:
-Lili chegamos...
-A é? É aqui...?
-Claro que é, desce aí...
Ela desceu, e eu me arranquei... Ouvi apenas a pedra na lataria do carro.
Luís Fabiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário