Navalhadas Curta: Lagrimas do Lixo
As pessoas gostam dos estereótipos. A pose que moldura o
que se sente. A lágrima com as mãos na cara, o ranho escorrendo do nariz, o
dedo em riste para parecer autoritário... Tem varias.
Ontem encontrei um cara encostado numa lixeira e chorava.
Porra, tanto lugar pra chorar o cara vai chorar em cima de um lixão? Era uma lágrima
que de longe parecia falsa, embora se diga toda a lágrima é verdadeira? Mentira.
Bem, a merda que se caga também é, e nem por isso...
Eu ia passar batido, como sempre. Mas o cara com aspecto trágico
da miséria, sujo, pés no chão, as lágrimas misturam-se a chuva e a chuva ao
lodo.
-Ei brother... que há?
Ele me olhou meio assustado... Eu disse: Ei brother... Calma,
tranquilo... Que tá havendo?
-To na merda cara...
-Relaxa, sei como é, vida de quase todo mundo é uma... É
que as coisas estão mais camufladas nos outros, e contigo é evidente...
-É, é, é...e aí?
-Então, qual é a tua: Fuma, bebe ou cheira?
-Fumo... Esse é o problema, não tenho grana pra pedra
cara... to fudido...fudido...
Agora chorava convulsivamente, num desespero que somente
viciados entendem...
-Tu pretendes parar de usar um dia?
-Claro que não...
-Ok...
Dei pra ele cinco pila, e como se fosse um nascer do sol
num dia ranhento, o sorriso do cara se iluminou... Saiu correndo feliz.
Pensei: que merda...
Depois disso fui votar.
Luís Fabiano.
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