Alguns Probleminhas
Nem tudo são flores a noite. Algumas destas apresentam
suas garras, dentes e emboscadas. Talvez não seja bonito, quase nunca é... Não
há tesouros raros, ou escaravelhos sagrados brilhando desmaiadas esperanças.
Confesso que por alguns momentos me sinto cansado disso... Mas como um
narcotizado sigo, a dor implementa o querer, o querer rasga a lógica e merdas
diáfanas chovem como orvalho preenchendo espaços.
Um dia, sempre é um dia. Não nada de interessante pra
fazer em casa, já havia bebido o suficiente, batido uma boa punheta, mas olhar
a vida do quinto andar me entediava agora. Isso era bom, devia sair sem
propósito, vagando no despenhadeiro a procura de qualquer coisa. Às vezes
revirando a lata de lixo que são alguns humanos. Nada a perder, nada a
ganhar... Fuder o tempo antes que o tempo nos foda!
A garrafa de rum estava no fim. Nem coloquei no copo de
costume, tinha uns três dedos de rum, fui virando lentamente, como se o mijo de
uma buceta estivesse escorrendo pela minha garganta, cheiro poderoso,
inspirador, a serpente escorregando pela goela em direção ao coração. Acabou.
Peguei o Kadett. Agora ele esta limpinho por fora... Ligo
o rádio e ouço Loreena Mackenitt – Raglan Road. Conheço bem essa musica, é
suave caricia aos ouvidos, Loreena é fantástica sempre. É daquelas mulheres que
desejamos casar hipoteticamente, um amor platônico pela arte, pela beleza.
Escutei a musica um pouco e fui saindo lentamente, o ronco do motor sereno, era
bem diferente de mim.
A cidade parecia morta domingo, ou seria eu? O rum fazia
seu efeito maravilhoso como todas as drogas liberadas pela sociedade. Não
lembrava de ninguém. Minha solidão é aceita como uma amante traidora, a puta
que fode com Deus e o diabo e depois vem a mim, querendo meus carinhos.
Gosto disso. Já fudi mulheres com cheiros de outros
caras, hoje tenho uma que gostaria de trepar comigo depois que eu tivesse
comido a outra. Ela disse outro dia: quero sentir o cheiro da buceta da outra
no teu pau... chupar e depois tu me comer. Eu tive uma ereção na hora.
Os bares estavam desertos, e naquela hora todos eram
iguais, catando o resíduo da madrugada.
Subi pela Deodoro, putas, travestis e michês faziam sua
ronda da esperança, tentavam pegar alguém, que por trinta reais usassem seu
corpo rapidamente e levantassem voo desocupando a pista de decolagem. Todos
pareciam sem graça.
Acabo parando no bar de sempre. Puta merda Fabiano, como
tu és repetitivo... Penso eu. Também, foda-se, não desejo conhecer a Índia, a
Espanha ou Inglaterra, não pretendo nada. Quando se conhece um pouco o ser
humano, sabe-se que todo mundo é quase a mesma coisa... Com raríssimas
exceções. Eu não sou exceção.
Chego ao bar do Sujeira. Apenas ele ancorado no balcão,
olhar distante naquele tampo de mesa sujo e engordurado, o bom e velho cheiro de esgoto na frente.
-Sujeira, Sujeira tu não deverias estar dormindo em um
domingo fudido destes?
Ele sorri (coisa rara) com um brilho de alento.
-Fabiano, porra... Que cara amassada? Mas parece bem... Meio
bêbado e triste... Mas bem.
-É Sujeira, a vida. Nem tudo precisa ser sempre bom e
cheio de tranquilidade. Somos um pendulo... Ora isso... Ora aquilo.
-Vai rum?
-Sempre... Uma pedra de gelo. Mas porque tão vazio aqui?
-Fim de mês... Ninguém tem dinheiro e tu sabes como eu
sou - apontado a placa que dizia: Fiado só amanhã.
Sorri.
Tomei um bom gole de rum e fui ao banheiro dar um mijada
no capricho. Não podemos chamar exatamente aquilo de banheiro. Cheiro forte de
urina e merda e um mictório. Antes de chegar você sente o aroma do local. Quando
chego lá dentro, tem um cara enorme, um gorila olhando o rosto no espelho velho.
Não sei o que ele procurava. Aquela cara cheia de pipocos, espinhas e outras
merdas que não sei exatamente o nome. Dei boa noite, tirei o pau pra fora, respirei tranquilo, é bom mijar.
Quando olho para o lado o negão também estava mijando e
me encarava com olhar estranho Então piscou o olho, e apontou para pica dele.
Puta que pariu. Não era uma pica, é um pedaço de um cavalo ali. Ficou me
olhando e sacudindo aquele muçum gigante. Senti o perigo. Tentei terminar de
mijar rapidamente. Então ele falou:
-O fraquinho... Tu até que é bem gostosinho, quem sabe tu
não queres dá uma pegadinha na minha piroquinha?(rindo)
-Vai te fude brother... Que porra é essa? Acho que tu
estas enganado... Sai fora meu...
-Que isso meu queridão... Chega aí... A piroquinha até
gostou de ti... Olha aí ta meio dura já...
Meus sentidos se aguçaram de raiva. Normalmente trato
estas coisas com um papo furado, meio coisa de embaixador. Já levei cantadas e
tentativas de sexo forçado, mas o rum talvez tivesse se tornando veneno em meu
sangue. Despertando o tigre do mal. Não gosto deste cara que há em mim, porque
ele perde o controle.
Me sentia frio, meu pensamento foi atacar o pescoço, a
jugular do gorila... Lembro que senti vontade de espicaçar aquela veia com os
próprios dentes fazendo jorrar o sangue como o chafariz do calçadão... Um
chafariz vermelho.
Então o Sujeira entrou no banheiro de-repente:
-O que tá acontecendo aqui? Que porra é essa aí?
-O cidadão aí... Ta se exibindo Sujeira – disse eu.
-Qual é, Pé de mesa? Vais começar com isso de novo aqui
no meu bar? Pode ir saindo...
-Oooo Sujeira... Calma aí... Gostei do gostosinho ai... Libera
o espaço...
-Gostou o caralho rapaz... Vai te fude, vai embora, vou
fechar esta merda por hoje... chega...
O cara foi saindo do banheiro, quando estava na porta virou
pra trás e largou:
-O gostosinho... Eu ainda vou te pegar com a minha
piroquinha...
Porra ,o Sujeira chegou na hora certa. Me sentia
congelado mas vivo. Voltamos para o balcão. Sujeira ria:
-E aí como é ser quase estuprado por um abobado?
-É, não é bacana... Aquele cara, qual é dele?
-Ele faz isso direto... É meio tonto da mente, tem neurônios
faltando, gosta de pegar caras que não são viados, gosta de comer cu deles... Sabes
como é, tem de tudo. Ja foi internado algumas vezes. Ele já andou apanhado de
um grupo de travestis também... Mas é daqueles que piora com o tempo.
-Acho que eu ia matar ele... Tava sentindo algo
estranho... Algo que não é legal. Da outra vez que isso aconteceu, custou
caro... Pra mim e o pro cara.
-Relaxa já passou. Quer saber, vai embora, vou fechar
estar merda. A noite não tá boa hoje... tu não ta legal, vai pra casa, vai
comer alguma buceta barata por aí... Boa noite Fabiano.
Dei o ultimo gole de rum, gosto de fel e vazio. Voltar
pra casa me pesava, como ser instalado em manicômio de quietude, por outro lado
eu não sabia o que queria... Talvez fosse melhor tentar rezar. Anjos, Deus ou alguém
poderia estar vendo. Mas nem tentei, liguei o motor encostei a cabeça no volante
e chorei.
Luís Fabiano.
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