Trecho Solto...
“ O garoto e eu foi que sobrou da festinha lá em casa.
Estávamos ali sentado, quando alguém começou a buzinar na rua, com gana
insistente, BEM ALTO, ah, canta mais alto, mas parece que todo mundo perdeu
mesmo a cabeça. Não tem remedi, e a única solução é ficar ali sentado, de copo
na mão, fumando charutos, sem pensar em mais nada – os poetas já foram , os
poetas e suas companheiras. Estava agradável ,mesmo com aquela buzina, Cada um
acusou o outro de varias traições, de escrever mal, de não ser mais o mesmo, a
todas essas, cada um pretendia merecer mais consideração, pois escrevia melhor
que fulano e beltrano e assim por diante. Falei que todos precisavam passar 2
anos em minas de carvão ou usinas siderúrgicas, mas nem prestaram atenção, continuando
a conversar, traiçoeiros, convencidos, barulhentos e, na maioria, escritores de
meia tigela. Agora já se tinham ido. O charuto estava ótimo, o garoto ficou ali
sentado, eu acabava de escrever o prefacio pro seu segundo livro de poemas, ou
seria o primeiro? Sei lá.
-Olha aqui – disse o garoto – vamos lá fora pedir pra
esse cara para de encher, mandar ele enfiar a buzina no cu.
Até que não escrevia mal. Tinha a capacidade de rir de si
mesmo, o que as vezes é sinal de grandeza, ou pelo menos de que se pode
alimentar a esperança de que venha a ser algo mais que um simples e pretencioso
cagalhão intelectual. O mundo anda repleto de cagalhões intelectuais
pretenciosos que vivem se gabando de ter conhecido Pound em Sploleto, Edmundo
Wilson em Boston, Dali de cuecas ou Lowell cuidando o jardim; lá sentados em
seus minúsculos roupões de banho, a cagar sabedoria, e AGORA a gente estava
falando com ELES, ah, sabe como é, né?... a ultima vez que vi Burroughs,,,
Jimmy Baldwin, puta merda, estava caindo de bêbado, tivemos que ajuda-lo a
entrar no palco pra coloca-lo diante do microfone...”
Extraído do:
Fabulário geral do delírio cotidiano, EREÇÕES, EJACULAÇÕES,
EXIBICIONISMOS – PARTE II
Charles Bukowski.
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