Trecho Solto...
-Você devia procurar trabalho.
-Tá, Haymé, me deixe em paz e não encha o saco.
-Se a gente continuar trepando assim...
-O que?
-Acho que estou gravida.
-Não encha.
-Eu quero ter o filho.
-Haymé, por favor. Estou quase louco e você com essa
historia.
Puxei-a pela mão e fomos ao hospital. Estava. De seis
semanas. Doei sangue e no dia seguinte fizeram o aborto.
Isso fodeu muito com a gente. Ela queria ter três ou
quatro filhos. Continuamos com as bebedeiras e a loucura, mas não era mais a
mesma coisa. Uma noite, de madrugada , esvaziamos uma garrafa e ficamos em silencio.
Naquela casa eram tão pobres que não tinham nem um radio de merda. Olhei bem a
garrafa .Não sobrara nada. Coloquei-a sobre a mesa suavemente e resolvi ir
embora. Era fevereiro de 71 e fazia frio...vesti minha jaqueta de couro e disse
a Haymé:
-Estou indo.
-Buscar outra garrafa? Não, já chega.
-Não vou buscar nada. Vou embora.
-Para onde?
-Não sei.
-Mas...
-Mas nada. Você e eu... isto esta uma merda.
-É normal. É o que todo mundo faz,
-Eu não quero fazer o que todo mundo faz.
-Pelo menos procure um trabalho, nós...
-Não organize a minha vida e não me ordens. Adeus.
Ela ficou sentada. Entre bêbada e estupefata. Eu sai para
a rua, andando sem pressa. Tinha acabado de completar vinte e um anos. Nas
costas tinha aquela frase: Born to be free. Ao longe, viam-se luzes de Havana. Eu
me sentia bêbado, desorientado e aturdido. Não sabia o que fazer. Não sabia o
que queria, nem para onde ia. Mas não podia parar. Acho que era a única coisa
que entendia com clareza: não podia parar. Tinha de continuar caminhando e
atravessar a fúria e o horror.
Extraído da obra: O ninho da Serpente - Pedro Juan
Gutierrez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário