Porrador Alucinado, Vaca e um pouco de sangue
Detesto definitivamente drogados que não sabem se drogar.
Esses caras se tornam um problema rápido. Terminam com a diversão alheia, fodem
a paciência de qualquer santo pecador.
A festa até que estava boa, então um cara, alucinado com achaques de violência, sentia-se o mais fodão desta galáxia. Macheza excessiva, sabem como é? Fazia o papel do macho “porrador” mas não comia ninguém. Distribuía porradas gratuitas. Que merda.
A festa até que estava boa, então um cara, alucinado com achaques de violência, sentia-se o mais fodão desta galáxia. Macheza excessiva, sabem como é? Fazia o papel do macho “porrador” mas não comia ninguém. Distribuía porradas gratuitas. Que merda.
Explico melhor. Um amigo meu chamado Sebastian, um havido
frequentador da noite forte, havia me telefonado: Cara tem uma boa pra nós...
coisa quente, bebida e comida liberada, putas sobrando... a porra do planeta
tem mais mulher que homem... ta ligado?? E então?
-Ok Sebastian... to dentro por não ter nada melhor pra
fazer, mas isso não deve ser assim...
-Esse teu animo que contagia...
-Vai se fude, até mais.
Desligamos o telefone e quando sai depois do trabalho, lá
estava Sebastian, com um sorriso que parecia um piano recém lavado. Entramos no
kadett e fomos em direção ao aeroporto, numa daquelas ruas que não sei o nome.
Não sou bom com nome de ruas. Prefiro referencias. É isso. Em um casa
bacana...com uma vasta entrada...com portões abertos.
A festa já andava pesada quando chegamos lá. Eu era um
estranho no ninho. Musica alta, pessoas de todos os naipes, vestidas da maneira
mais inesperada, gente muito bem vestida, misturada a outros vestidos com
trapos. Qual seria o sentido?
Sebastian conhecia muitas pessoas e a coisa rolou pra ele
naturalmente.
Tratei de ficar a vontade. Ao lado do bar, o whisky era
como uma distribuição de agua a etíopes. Pedi uma dose caprichada uma pedra de
gelo. Tomei de gut-gut. Pedi outra, e depois outra e outra. Rapidamente as
linhas mestras que norteiam a existência começaram a se distorcer, como uma
passagem do tempo. Esse é o poder do álcool. Todos pareciam boas pessoas de
longe, anjos fudidos de merda, sorrindo enquanto a morte não vem. Como é
natural, Sebastian desapareceu na turba. Mas agora tanto fazia. A boa musica
fazia o ambiente, o tecno e luzes. Relaxei e dei o foda-se a vida.
Fiquei onde é melhor, ao lado do bar. Pessoas chegam,
pessoas saem com bebidas. Eu era uma espécie de pescador alucinado. A isca
estava na agua, agora era esperar. Um ser não exigente como eu, porra, isso
facilita as coisas. O que precisa existir nem é aparência boa, mas uma sintonia
energética. Esse é o milagre. Eu prefiro a feiura vulgar com intensidade, que a
beleza esnobe da solidão.
Aquilo passou um tempo. Vi pessoas dando uma calibrada no
nariz... muitas linhas e nenhum trem, o cheiro de cabelo queimado. Então ela
apareceu. Tinha um ar de tristeza nos olhos. Uma vaca com olhar distante, um
pouco antes do abate. Você já viu os olhos de uma vaca, antes da morte? Faça a
experiência se tiver culhões.
Ela pediu uma vodka. Eu disse olhando direto naqueles
olhos:
-Os russos sabem das coisas né? Isso daí, ajuda a ter
amnesia completa se for da boa...
-É?
-Sim, vodca boa faz passar os piores pesadelos e nos da
sonhos... amanha você tem o pesadelo e mais uma dor de cabeça... mas por um
instante hoje você esquece. E digo mais, Deus tem um espaço especial no céu
para bêbados e fumantes.
Ela riu. Uma morena, o cabelo muito lindo, aparelho nos
dentes e um vestido curto. Os peitos eram mais lindos que os olhos. Gosto
disso... sabe nem sabia ou queria come-la. Geralmente penso sempre em comer
para quem eu olho com mais intensidade.
Mas já estava tranquilo. Bebidas, musica um papo e se
nada acontecesse, eu chegaria em casa muito tranquilo. Bateria uma punhetinha
devagar, dando uma boa cuspida encorpada na cabeça do pau, para deslizar
melhor, curtindo lentamente até a ejaculação suprema. Depois dormiria o sono
dos justos. Vida fácil, vida simples.
Então como uma merda que cai do céu, a confusão começou.
Um maluco lá havia tomado alguma droga...e pirou, torrou os neurônios. Criou
uma tremenda confusão. Batendo em mulheres, em nos caras. Parecia estar
turbinado e com grande força. Já vi estas coisas. A festa não tinha
seguranças... e onde estaria do dono da festa??Que porra é essa? Nem dono, nem
Sebastian, nem nada.
Então o cara foi pra cima de um outro maluco...?
Bah o maluco era o Sebastian, o cara montou e a porrada
tava descendo pesado na cara de Sebastian. Fiquei avaliando se faria algo...
vocês sabem como eu sou... frio. Mas acho que com aquele cara não dava
filosofar muito...
Olhei pra cara da moça com olhos vaca e pedi licença... e
fui correndo. Coisa impulsiva. Não pensei duas vezes voei com o pé nas costas
do cara, que rolou no chão dando um grito... e acho que eu fui o estopim da
coisa toda, então vários caras vieram pra cima dele... e ficaram chutando.
Aquilo não era bonito, mas o puto bem que merecia. Sebastian
sangrava do nariz... estava bêbado e ainda sim engraçado:
-Fabiano...Fabiano... o que foi que me atropelou? Um
carro ou caminhão?
-Um cara... mas relaxa. E esse nariz, quebrou?
-É acho que sim... acho que vou ter que ir ao hospital
agora... to fudido
-Cara tu vais ficar parecendo uma múmia... a cara
enfaixada...
Levantamos e fomos embora, enquanto ouvíamos os gritos do
cara no chão.
Era a musica da dor. Confesso que me senti meio herói... o herói
das desgraças, afinal alguém tem dar o pontapé inicial.
A moça olhos de vaca triste, veio até nós:
-Tudo bem aí ?
-Sim... talvez um nariz quebrado, mas antes de casar
passa...
-Puxa... o cara tava louco... e quem esse aí?
-Meu nome é Sebastian... e estou precisando de uma
enfermeira urgente...
-Ohh que bonitininho... eu sou médica, quer que eu cuide
de ti?
-Cuida...cuida... eu vou contigo...agora...tá? Me leva...
o Fabiano é maluco...
-Claro, com todo prazer.
Simpatia a primeira vista. Relaxei, entreguei Sebastian a
doutora. O Cara "porrador" ainda tava levando porradas lá atrás. Não sei o que me
deu. Mas não fiz nada pra, ele que se foda.
Entrei no Kadett. Meu rádio não pegava nenhuma estação.
Fui devagar pra casa ao som do chiado do radio. Olhei no espelho retrovisor,
sorri. Afinal depois disso, aquela punhetinha com cuspida era a melhor coisa da
noite.
Luís Fabiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário