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quarta-feira, agosto 15, 2012




Porrador Alucinado, Vaca e um pouco de sangue

Detesto definitivamente drogados que não sabem se drogar. Esses caras se tornam um problema rápido. Terminam com a diversão alheia, fodem a paciência de qualquer santo pecador. 

A festa até que estava boa, então um cara, alucinado com achaques de violência, sentia-se o mais fodão desta galáxia. Macheza excessiva, sabem como é? Fazia o papel do macho “porrador” mas não comia ninguém. Distribuía porradas gratuitas. Que merda.

Explico melhor. Um amigo meu chamado Sebastian, um havido frequentador da noite forte, havia me telefonado: Cara tem uma boa pra nós... coisa quente, bebida e comida liberada, putas sobrando... a porra do planeta tem mais mulher que homem... ta ligado?? E então?

-Ok Sebastian... to dentro por não ter nada melhor pra fazer, mas isso não deve ser assim...
-Esse teu animo que contagia...
-Vai se fude, até mais.

Desligamos o telefone e quando sai depois do trabalho, lá estava Sebastian, com um sorriso que parecia um piano recém lavado. Entramos no kadett e fomos em direção ao aeroporto, numa daquelas ruas que não sei o nome. Não sou bom com nome de ruas. Prefiro referencias. É isso. Em um casa bacana...com uma vasta entrada...com portões abertos.

A festa já andava pesada quando chegamos lá. Eu era um estranho no ninho. Musica alta, pessoas de todos os naipes, vestidas da maneira mais inesperada, gente muito bem vestida, misturada a outros vestidos com trapos. Qual seria o sentido?

Sebastian conhecia muitas pessoas e a coisa rolou pra ele naturalmente.
Tratei de ficar a vontade. Ao lado do bar, o whisky era como uma distribuição de agua a etíopes. Pedi uma dose caprichada uma pedra de gelo. Tomei de gut-gut. Pedi outra, e depois outra e outra. Rapidamente as linhas mestras que norteiam a existência começaram a se distorcer, como uma passagem do tempo. Esse é o poder do álcool. Todos pareciam boas pessoas de longe, anjos fudidos de merda, sorrindo enquanto a morte não vem. Como é natural, Sebastian desapareceu na turba. Mas agora tanto fazia. A boa musica fazia o ambiente, o tecno e luzes. Relaxei e dei o foda-se a vida.

Fiquei onde é melhor, ao lado do bar. Pessoas chegam, pessoas saem com bebidas. Eu era uma espécie de pescador alucinado. A isca estava na agua, agora era esperar. Um ser não exigente como eu, porra, isso facilita as coisas. O que precisa existir nem é aparência boa, mas uma sintonia energética. Esse é o milagre. Eu prefiro a feiura vulgar com intensidade, que a beleza esnobe da solidão.

Aquilo passou um tempo. Vi pessoas dando uma calibrada no nariz... muitas linhas e nenhum trem, o cheiro de cabelo queimado. Então ela apareceu. Tinha um ar de tristeza nos olhos. Uma vaca com olhar distante, um pouco antes do abate. Você já viu os olhos de uma vaca, antes da morte? Faça a experiência se tiver culhões.

Ela pediu uma vodka. Eu disse olhando direto naqueles olhos:
-Os russos sabem das coisas né? Isso daí, ajuda a ter amnesia completa se for da boa...
-É?
-Sim, vodca boa faz passar os piores pesadelos e nos da sonhos... amanha você tem o pesadelo e mais uma dor de cabeça... mas por um instante hoje você esquece. E digo mais, Deus tem um espaço especial no céu para bêbados e fumantes.

Ela riu. Uma morena, o cabelo muito lindo, aparelho nos dentes e um vestido curto. Os peitos eram mais lindos que os olhos. Gosto disso... sabe nem sabia ou queria come-la. Geralmente penso sempre em comer para quem eu olho com mais intensidade.

Mas já estava tranquilo. Bebidas, musica um papo e se nada acontecesse, eu chegaria em casa muito tranquilo. Bateria uma punhetinha devagar, dando uma boa cuspida encorpada na cabeça do pau, para deslizar melhor, curtindo lentamente até a ejaculação suprema. Depois dormiria o sono dos justos. Vida fácil, vida simples.

Então como uma merda que cai do céu, a confusão começou. Um maluco lá havia tomado alguma droga...e pirou, torrou os neurônios. Criou uma tremenda confusão. Batendo em mulheres, em nos caras. Parecia estar turbinado e com grande força. Já vi estas coisas. A festa não tinha seguranças... e onde estaria do dono da festa??Que porra é essa? Nem dono, nem Sebastian, nem nada.

Então o cara foi pra cima de um outro maluco...?
Bah o maluco era o Sebastian, o cara montou e a porrada tava descendo pesado na cara de Sebastian. Fiquei avaliando se faria algo... vocês sabem como eu sou... frio. Mas acho que com aquele cara não dava filosofar muito... 

Olhei pra cara da moça com olhos vaca e pedi licença... e fui correndo. Coisa impulsiva. Não pensei duas vezes voei com o pé nas costas do cara, que rolou no chão dando um grito... e acho que eu fui o estopim da coisa toda, então vários caras vieram pra cima dele... e ficaram chutando.

Aquilo não era bonito, mas o puto bem que merecia. Sebastian sangrava do nariz... estava bêbado e ainda sim engraçado:
-Fabiano...Fabiano... o que foi que me atropelou? Um carro ou caminhão?
-Um cara... mas relaxa. E esse nariz, quebrou?
-É acho que sim... acho que vou ter que ir ao hospital agora... to fudido
-Cara tu vais ficar parecendo uma múmia... a cara enfaixada...
Levantamos e fomos embora, enquanto ouvíamos os gritos do cara no chão. 

Era a musica da dor. Confesso que me senti meio herói... o herói das desgraças, afinal alguém tem dar o pontapé inicial.
A moça olhos de vaca triste, veio até nós:
-Tudo bem aí ?
-Sim... talvez um nariz quebrado, mas antes de casar passa...
-Puxa... o cara tava louco... e quem esse aí?
-Meu nome é Sebastian... e estou precisando de uma enfermeira urgente...
-Ohh que bonitininho... eu sou médica, quer que eu cuide de ti?
-Cuida...cuida... eu vou contigo...agora...tá? Me leva... o Fabiano é maluco...
-Claro, com todo prazer.

Simpatia a primeira vista. Relaxei, entreguei Sebastian a doutora. O Cara "porrador" ainda tava levando porradas lá atrás. Não sei o que me deu. Mas não fiz nada pra, ele que se foda.

Entrei no Kadett. Meu rádio não pegava nenhuma estação. Fui devagar pra casa ao som do chiado do radio. Olhei no espelho retrovisor, sorri. Afinal depois disso, aquela punhetinha com cuspida era a melhor coisa da noite.

Luís Fabiano.


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