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sexta-feira, julho 20, 2012




Ilusões Viscosas, Glenda e uma promessa falsa
Parte - I

As vezes se é um rato numa ratoeira. Você acha que tá dando as cartas, mas a real que não é bem assim. E por mais nítidas que as coisas sejam, certeza absoluta nunca existe.


Não é possível penetrar tão fundo na mente humana, e saber a exaustão o que anima esta ou aquela emoção. Talvez melhor assim. Mente impenetrável, os buracos de minhoca lacrados nos protegem, e nós tateando em uma semiescuridão, um entre todos os tolos viscerais.
Essa é a nossa relação com os outros.


Eu estava prestes a terminar meu expediente de trabalho... Pensava no que viria a seguir... Um depois, cheio de esperanças ou ruinas, nunca se sabe... O próximo capitulo se desenhando sempre a cada passo... Gosto disso, talvez horizontes calmos, talvez felicidade. Uma bebedeira capaz de converter a dor, o estresse em sementes pacificas do sempre.
Nem tão puro assim... Nem tão mal assim, uma mutação perene.


O maldito telefone toca. O nome de Renê brilha no celular. Acho que o único lugar que Renê brilha.
-Fala Renê... A que devo a honra?


Renê esta feliz demais, falante demais, chapada demais. Gosto dela com alguma distancia, como gosto da maioria das pessoas que conheço. Ela é destas putas convictas... Uma quarentona inteira e maluca. As vezes da umas festinhas na sua casa. Reúne varias tribos. Ela gosta disso. Gosta do espetáculo, gosta de ver o circo pegar fogo... Fica de camarote vip assistindo as coisas acontecerem, enquanto a sua volta tudo caminha para o caos. A incendiaria tarada. Uma meditante indiana às avessas, concentrando suas forças para o pior. Gosto da autenticidade seja no que for.


-Fabiano... Meu amor, meu lindo, meu tesão... que saudade de ti... Me diz já, tu tá livre pra mim hoje?
-Que isso Renê... To com cara de taxi?... Porra... Bem, se tiver bebida, to dentro...
-É claro que tem a que tu gostas e outras... E tem outras coisitas também...
-Hum, hum Interessante...
-Que resposta comportada Fabiano... Ta todo certinho hoje? Tu és bipolar cara... Tudo bem... Que se foda... Vem pra o pessoal tá chegando.
-Tudo bem... até mais.


Desliguei o telefone e me sentia tranquilo. Sou assim, não tenho assaltos emocionais, arroubos de euforia extrema. Fiquei pensando se iria ou não. Lancei os dados pra cima, e fui até o estacionamento e peguei o Kadett, fui pra casa de Renê.


Quando chego ao local, aquilo parecia um Vesúvio em erupção. Rene havia transformado seu cafofo num festa grande. Gente para todos os lados, rindo vazio e bebendo. O lugar era bem formado, a casa era grande. Uma herança de pais que um dia tiveram grana, agora estavam jogados em um asilo, Rene a “super-foderosa”, tomou conta daquilo. Ela é rápida, sempre foi. Por isso nossa relação não envolve confiança. 


Usamo-nos um ao outro, como seringas sujas descartáveis, injetamos veneno puro, e deixamos a coisa acontecer e depois... Bem, nunca existe depois. Neste mundo... É preciso saber com quem se pode contar, e uma noticia das melhores... Não podemos contar com quase ninguém.


Uma coisa era inegável, eu gostava do estilo dela. Cuidava-se, vestia-se bem e era completamente desequilibrada, cabelos bem alinhados muito pelo na xoxota descolorida. Como já disse suas festinhas, terminavam sempre com gente trepando na sua sala, quarto, banheiro... Bêbados, drogados, adormecidos estuprados e coisas assim... Ela ria.


Rene me recebe na porta:
-Então seu Luís Fabiano... Tu veio né... A casa é tua, o teu rum esta guardado... eu busco pra ti... uma pedrinha de gelo né?
-É... Existem coisas que não mudam...
-Eu sei... Que bom, só vou te trazer o rum, mas de calcinha branca e camiseta não dá, porque ta muito frio... Mas é isso que tu gostas... eu sei... só eu sei...
-É... Tudo bem, relaxa, o fato de ter rum na casa já é um carinho.


Ela sorriu e foi buscar a bebida. A musica estava alta, aquilo iria dar merda com os vizinhos. Na ultima vez a policia veio duas vezes. Em, foda-se a casa não é minha. Alguns dançavam, dança estranha, mexiam o corpo em um ritmo que nada tinha haver com a musica... Coisas modernas.


O rum chegou, um copo grande cheio e uma pedra boiava ali. Rene estava mais alterada. Sentei-me em um canto vago e fiquei fazendo o que faço de melhor. É um jogo de pôquer...


Todas as tribos presentes... Um hare-Krishna , metaleiros, punks e eu. A meia noite chegou rápida. O rum me relaxou e tava achando que nada demais iria acontecer. Então uma loira muito alta passou e ficou me olhando. Ela sorriu fácil... e ficou parada um instante me encarando. Porra amor a primeira vista... é assim.


Olhei bem para ela... Realmente era das fortes. Sapatos prateados de salto alto, peitos enormes, olhos claros... sorte grande é assim. O rum fez um efeito, eu estava em jejum... Beber é mais importante que comer... a bebida desceu como uma explosão atômica. Rum é assim comigo. Ficou relaxado ou maluco excitado. Com uma vontade de fazer merda... levantei e fui nela:
-Então... tu sabes né... No final do mundo... Todos vão se ferrar... E fim, acabou esta porra..
Ela riu, bom sinal.
-É mesmo, tens razão, o tempo parece esta passando mais rápido...


Olhei ao longe de esguelha, Renê discutia com alguém... a coisa estava se encaminhando para um briga... 


Deixei assim, brigas fazem parte de lugares em que  as coisas acontecem...
-Sim, o tempo rápido mesmo... ontem eu tinha quinze anos e acreditava no amor... Hoje..
-É um cara sem amor no coração?
-No coração talvez... Mas o coração é um órgão do corpo... o resto do corpo também ama...
-Tais parecendo bem romântico pra mim...
-Não se iluda...? Nome...?
-Glenda... o senhor?
-Fabiano... prazer Glenda... Alias muito prazer...


Ficamos rindo como tolos... idiotas a fim de fuder. Creio que é isso mesmo... 

Continua...

Luís Fabiano

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