Cadeiras vazias sem promessa – Oração sem templo
Existem desgraçados e desgraçados. Uns por escolha própria, outros a natureza da uma força as avessas. Seja como for, nas ruas de frio e pó eles e nós andamos solitários por ai... como um clamor silencioso de esperanças assaltadas. O instante fugas de um olhar esquecido, a nascente das certezas é a busca de todos...
Eu sou mais um deles... andando por estas mesmas ruas que abraçam filhos da puta e santos. Prefiro os primeiros. Caminho em busca, ironicamente do “sangue de Cristo”... Bom sangue... pregue e repregue-o inúmeras vezes... pode ser chileno, argentino ou uruguaio, alguns nacionais são bons também.
Então nas proximidades do Mercado Guanabara avisto uma igreja... Evangélica pela aparência. Lá dentro imbuído de uma missão solitária, aos gritos inflamados de uma fé real, um pastor de terno e gravata, sacolejava os braços em direção aos pecadores ausentes.
Exatamente isso, ele estava complemente só. O púlpito pegando fogo, como um inferno sem demônios.
Eu parei a porta, pelo lado de fora do vidro, olhando a cena. O cara era bom... as cadeiras ocas de plástico, baixavam suas cabeças em arrependimento, as baratas corriam afugentadas pela voz pungente, medo ou consciência pesada.
Confesso que por um breve instante eu senti pena do cara. Tive que me segurar para não entrar e sentar. Mas aquela ladainha é foda... então fiquei na minha. Ele sequer me percebeu... talvez estivesse ausente também, mãos erguidas para o alto tentando agarrar os bagos de Jesus.
Lembrei um pouco de mim. Teve um tempo que quis ser santo. Que minhas esperanças não estavam castigadas, e que de certa forma tinha mais fé... hoje não é bem assim. Não é tão barato assim. Lembro que cheguei a dar palestras espiritualistas... tentava fazer um estilo bacana, com um ideal frágil de ser boa pessoa. Acho que nunca me adequei a isso. Não sou bom ideias prontas dos outros... prefiro as minhas merdas concebidas no reto de meu coração.
Em pouco tempo, alguns casamentos falidos depois, tudo viraria uma cascata de vomito, a ideologia se converteu em um soco que eu recebia... Eu fui me tornando um bom saco de pancadas.
No fundo tentando ser o melhor da luta. Bater é importante, mas saber aguentar as porradas é mais... o cara que aguenta, é capaz de virar o jogo... é capaz de dar o troco, é capaz de estuprar dinossauros ao amanhecer.
O tempo passou. Para a grande maioria dos que me conhecem, dizem que me tornei pior. Acho que sim. Mas as vezes me sinto em paz comigo mesmo. Nem tão certo, nem tão errado eu acho. A contramão acaricia o que a justeza beija com indiferença.
Aquele cara continuava firme, talvez não tenha se fudido o suficiente ainda. Agora com um discurso final, agradecia a presença de todos... de quem? Do espirito santo... do vazio da imobilidade no ar. Gostei dele... era um filho da puta esforçado, um trem carregado de merda, dando merda fresca aos que tem fome e sede de justiça...
Certamente alguém vai gostar dele. Sempre alguém gosta. Nestes dias desfiados e miseráveis que hoje vivemos, as esperanças estão abaladas, ter alguma certeza pode ser bom...
Segui meu caminho em direção ao super.
Comprei três garrafas de vinho. E naquela noite, bebi uma inteira, me esqueci do pastor... e como um descontrole vivo, o pau subiu um pouco e bati um punheta lenta relaxando, inflado pelo o sangue de cristo.
Tudo mudou num piscar de olhos. Acho que se visse aquele pastor novamente, acho que bateria nele, e me apresentaria como Judas Cuzão. Gozei uma boa quantidade de porra, imaginando uma orgia no céu... homens, mulheres, animais, as plantas, as almas penadas... todos tentando asfixiar o Supremo... entre risadas sarcásticas.
Veio um silencio depois disso, eu estava sozinho, a minha frente um sofá vazio, minha serenata foi pra ninguém... então pensei... todos temos algo em comum.
Luís Fabiano.
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