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sábado, maio 05, 2012





Rei das Bucetas – O coração bate no caralho...


Gostaria de ter filmado. Mas como vocês sabem, a oportunidade nem sempre esta em consonância com o fato cru... real e exposto o qual me proponho. Preciso de uma câmera urgente. E tanto quanto a memória fizer seu viés nítido, lembrando as sobras de uma conversa, irei expondo... aos poucos...

O Rei das Bucetas é ó cara... não tenho nada mais a dizer além disso.

Cerveja na mesa de plástico em um bar enfiado no intestino do Navegante Dois... lá estava eu, três horas da manhã... um navegante sem nau... a mesa ele, fazendo sua cena, chapéu panamá, aguardente pura em um copo generoso, o cheiro de perfume barato, cigarros, e um pouco de esgoto... no ar.

A beleza do encanto, das damas belas que tornam a nossa merda de noite algo maravilhoso: um brinde carinhoso a todas as putas declaradas e monas, risonhas e tristes deste mundo, berço onde reclinamos nossa cabeça, entre tetas esperançosas.
O boteco cheio... pagode no ar e alguns dançavam... eu pergunto:

-E ai Rei, quantas mulheres tu tens?
-Tenho todas que adentram meu coração verdadeiramente... aí o numero não é importante... e sim o que eu sinto por elas... sou o homem delas, eu sei e elas sabem.
-Porra Rei, que excesso de confiança hein... isso costuma dar merda... o pecado da soberba... cuidado com a rasteira...

Ele sorriu, tranquilo, não parecia se importar com isso, deu uma longa tragada em um cigarro muito vagabundo... e largou:

-Filho, nada de soberba... não tenho relações mentirosas com essas pessoas, tenho uma relação de verdade... homem-macho, macho-amor, homem carinho, macho-tesão... tendeu? Eu trepo com elas de corpo e alma... pura e simplesmente. Não é um mero fato de comer buceta... se assim fosse, buceta por buceta...realmente tanto faz... o que muda tudo... é a batida do coração, no ritmar da estocada, com uma longa dose de atenção-carinho... Fabiano, tu não sabes porra nenhuma... pode escrever isso também...

Fiquei quieto analisando tudo. O Rei foi dançar um pagode... dançava enfiando suas pernas entre as pernas de Telma, estava lá com aquela minissaia estonteante, pernas grossas, sorriso fácil, esfregando-se no Rei... não sei se foi pela bebida, os percebi felizes. Mas não uma felicidade flácida... não.

Havia intensidade feita de desejos... desejos feitos de prazer... prazer feito de emoção...e emoção alimentando mais emoção. Gosto disso, talvez um dia eu ame assim...

O Rei e Telma voltam a mesinha. Telma me pega a mão convidando pra dançar:

-Telma, melhor não... eu tenho dois pés esquerdos meu bem...

O Rei diz:

-Não te falei... esse cara aí é estranho... negro que não dança... muito estranho...
-Qual é Rei – disse eu – de dança eu não sou bom... mas tudo tem outro lado...

Todos gargalhamos. Telma bêbada... Telma feliz...Telma tarada, Telma sentou no meu colo, provocante e...

-Então tu és bom de que Fabiano? Hein... gostoso meu...diz aí...

Olhei pro Rei, ele diz: Eu não tenho nada haver com isso...

-Rei, tu comerias a mulher de um amigo?
-Tentaria evitar fazer isso na frente dele...

O boteco incendeia... com a chegada do cantor... palmas vibrantes copos de cachaça se erguem. Aquele pessoal sabe se divertir. Fiquei pensando em festas que fui... que tinham uma superestrutura e eu achei uma merda.

Talvez fosse eu, faltava alguma conexão com as coisas. Mas gosto de gente de verdade... eles não tinham nada a esconder... a diversão dos que aguardam na semana aquele momento.

O cantor Dorô Pagodeiro chegou... camisa branca impecável, um pandeiro na mão. Derrubou meio copo de cachaça pra esquentar a voz... e o show começou. Telma foi dançar, rebolar aquela bunda linda e feliz... o encanto da serpente hipnotizando o rato... a presa morrendo feliz. Sinceramente não precisava nem fode-la... só de vê-la assim... era bom.

Queria seguir o papo com o Rei, mas a fatalidade do desejo o levou... para os braços de Jociara. Uma loira oxigenada, com espinhas na cara, e um perfume muito barato... perfume de alfazema rampeira talvez... a idade dela era indefinida. Uma blusa sem sutiã, os bicos duros sorrindo para o Rei.

Ela era a Monalisa dos desencantados, o pesadelo de bafo asqueroso... a agonia do amor não realizado.
Achei que hora de ir... nem Telma ou Jociara... olho o relógio, são quatro e quarenta e nove da manhã. Fui caminhando pra casa, sentindo uma boa paz. Queria ouvir mais o que Rei tinha a dizer... mas a coisas que se vive... deve-se vive-las lentamente... sem pressa, mas com toda a intensidade possível... acho que isso eu estava fazendo.

As estrelas estavam belas aquela noite... pingos de luz no meu caminho...é bom...


Luís Fabiano

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