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quarta-feira, janeiro 11, 2012



Tentando não ser pior.

Existiram momentos em que minha brutalidade descansou. Em que vivi uma vida mais tranquila ensebado nas particularidades de uma normalidade idealizada e pratica. Mas eu gostava, era uma vida diferente, a casca do padrão adormecendo um verme nas dobras uterinas da vida.

Mas o comum, com todos os seus encantos me causa tédio, depois de um certo tempo. Pode existir merda maior? Hoje fujo do tédio como o diabo da cruz. Os massacrantes dentes que com sua mandíbula ferina... vai fulminando os bons momentos... transformando-os em coisas simples e sem graça do dia a dia. Poderia achar uma magia em meio a isso... mas não quero.

Neste período eu queria isso. Ficar afogado em tédio. Contentava-me até mesmo com um papai e mamãe bem sem graça. Agarrava-me a isso, a ancora da felicidade... feita de emoção e convivência. Neste sentindo sempre fui uma barata... altamente adaptável. Então me envolvi com alguém que tinha filhos. Não foram poucas vezes... fui pai emprestado diversas vezes, mas por uma fatalidade da vida... algo sempre marca mais.

Adorava meu paraíso de modorra. Trabalho... casa... trepadinha com a mulher a noite... dormir abraçado as vezes... acordar pela manha trepar novamente... antes do café e ir trabalhar, dar beijo de tchau para a criança.

Uma boa vida. Mas a menina se apegou a mim como não se apegou ao pai legitimo. E acho que isso me tornou ao menos naquele momento, uma pessoa melhor. Talvez tenha feito meu salto quântico, acho que primeira vez na vida... senti algo puro. Eu queria apenas que ela fosse feliz, que seu sorriso sempre apontasse para as nossas manhas tranquilas, quando ela fingia dormir e me olhava escondida... e debochava do meu ronco... e tentava puxar meu cabelo inexistente. Então as gargalhadas eu fingia ser um urso... um leão... sou bom de imitações sabem... faço excelentes animais, e alguns poucos humanos.

Então o verme maldito eclodiu do ovo, uma inquietação afiada. E começou a carcomer a minha relação com a minha mulher. Começamos a viver o tédio. E mesmo que eu mentisse pra mim que não me incomodava... aquilo me destruía lentamente.

Já não mais existiam o brilho nos olhos, não mais sorrisos espontâneos, eu comecei a broxar sem tesão literalmente e isso sempre é um sinal, e ambos percebemos que não estávamos bem. Diga-se de passagem... eu teria a opção de aceitar isso, que as relações são assim mesmo, casamentos são assim, eles se transformam em uma boa amizade com o tempo... acompanhando ou não sexo... companheirismo, mas o empuxo inicial, a paixão declina é fatal. É isso.

Uma nova faceta do amor. Sempre tive dificuldade de aceitar essa faceta. Talvez um dia eu me abrace ao tédio e o chame de amor como a maioria faz, mas até lá... eu sigo disparando. Não me venham com colocações de “maturidade emocional”... explicações baratas para quem tem como ponto de apreciação da vida, aquilo que é estático. Cada cachorro que lamba sua caceta... alguém disse.

Encurralados ao termo... fizemos o que era melhor. A mulher sempre tem resistências ao término neste casos. Mesmo eu sendo um imprestável, sempre encontrei pessoas que queriam manter o tédio e chamar isso de felicidade eternamente. Comigo isso não é possível.

Foi então que a merda veio a rodo. Não tenho como esquecer os olhos da pequena me fitando. Havia um véu de lagrimas ali... não me importo com lagrimas de adultos... mas crianças me causam uma culpa dilacerante. E com seus seis aninhos... eu expliquei a ela o que estava acontecendo. Porque minhas malas estavam na porta... e falei dos laços que nos unem, como teias luminosas de aranha brilhando em um amanhecer:

-Sabe... eu preciso ir... as vezes precisamos ir, mesmo que pareça algo ruim... triste... mas é uma verdade... é o melhor.
-Tu não precisa ir - disse a pequena.
-Eu vou, mas uma coisa eu digo... nossos corações estarão emaranhados como as teias de uma pequena aranha... quando sentir saudade vamos nos falar... e nossas teias serão luminosas... a saudade é uma armadilha... que não podemos deixar que nos pegue...tá...
-Tu gosta de mim né?
-Eu te amo muito... e de uma forma ou de outra eu estarei próximo... ninguém ira romper nossas teias luminosas.

Ela me abraça forte, com uma lagrima silenciosa... e mais uma vez eu me sentia um demônio... que arderia num inferno eterno em minhas vísceras...senti náuseas.

Quando ganhei a rua, a mãe dela veio atrás de mim. Não havia hostilidade desta vez... como mentir , fingir... emular uma felicidade que não existe? Ela me olha nos olhos, esse é um daqueles momentos que você sabe o que esta certo... mas este certo é dilacerando... e tem dentes de aço que cravam em seu coração.

Quando subi no carro, minhas certezas oscilavam em um terremoto da alma.
Mas é neste momento que se precisa agarrar-se a certezas, endurecer as tripas e seguir em frente. Não sei quantas vezes isso me ocorreu. Uma coisa eu sei... sempre quis acertar, porem os erros me perseguem... creio ser isso a minha vida... uma busca eterna, as vezes não se sabe exatamente de que... mas segue-se em frente. Eu ainda espero a resposta.

Luís Fabiano.

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