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segunda-feira, outubro 03, 2011


Transtornos flácidos da manhã


Esta manhã acordei algo transtornado. Não tenho problema alguns com transtornos, até gosto deles às vezes, são sempre mais intensos, profundos e me dão a sensação de estar vivo. É raro sentir isso. Levantei como um chumbo alado, pelado e sem ereção.

Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Não gosto muito de me olhar. Não creio muito no que vejo, apenas gosto de mim como seja. Creio que deve ser assim, você precisa se gostar muito para suportar esse mundo, precisa gostar muito de algo, precisa de algo que lhe muito tesão de viver, para seguir em frente.

Seja o que for, apegue-se ao que gosta, é a chance de tudo que nos cerca não converter-se em bosta. Mas saiba como se apegar, não afogue o que gosta num querer egoísta, como um pássaro numa gaiola.

A vida é uma merda a maior parte do tempo, é tranquilo, é só aceitar. Isso é o esperado, você precisa lutar, precisa trabalhar, precisa sobreviver, precisa fazer algo para matar a modorra e evitar ser morto por ela também.

Então recorremos à salvação que é possível. De nobreza ao amor, seja lá ele qual for, apegue-se a ele, como um verme as tripas de Deus, tente fazer o melhor que pode onde for que esteja, e de vez em quando, tente sentir algo novo. Isso é sangue para o espirito. O querer translúcido que poreja do encantamento, ao que é simples e preenche toda a vida, transformando mil nadas em fagulhas do universo que se cria. Onde orvalho e as lágrimas se encontram, e a beleza pode ser parida do coração, um útero no peito, pervertendo a ordem de tudo, a procura da nascente do etéreo.

Terminei de mijar. Pensava o porquê não havia me masturbado hoje pela manha... uma vez que é uma satisfação que faço todas as manhas, dormindo acompanhado ou não. Lembro-me de todas as vezes que fui casado, mesmo quando fazia sexo pela manha, eu fazia o movimento com glande lentamente, depois do ato, depois da gozada. É bom, suave. Balançava o pau como se fosse um chocalho de borracha, meio flácido e meio duro, talvez isso não me levasse a lugar algum, mas era divertido.

Lembro que uma das minhas últimas mulheres, me pegou masturbando, e ficou perguntando o que era aquilo? Comecei a rir na hora. E respondi:

-Olha bem... o que isso te parece ?
-Tu tá batendo punheta?
-Lógico!!!
-Mas por quê? A gente acabou de transar...
-Isso não tem haver com satisfação, é um bom movimento, gostoso apenas isso, não precisa sair porra o tempo todo...

Mas as mulheres são inseguras por natureza, quase tudo se transforma em uma ameaça. Naturalmente não parei de fazer, mas sabia que aquele gesto romântico, a deixava irritada, ainda mais porque se sentia satisfeita, e eu ali, sacodindo a linguiça de creme.

Tentava pelo pensamento procurar alguma preocupação inconsciente, um ferro emperrado e enferrujado abandonado nas dobras do peito... talvez arrependimentos não digeridos... talvez medo do futuro... talvez saudade... quem sabe as feridas que abri ao longo de minha vida em tantos corações... poderia ser qualquer porra destas.

Nada, eu não sentia nada. Então relaxei a guarda. Disse pra mim mesmo diante do espelho sujo: Fabiano, Fabiano... a puta que pariu com o mundo, ta tudo bem, seu merda!

Sorri feito um idiota. Essa busca por deixar a armadura da alma mais brilhante, mas sem tira-la, nos terminamos nos acostumando a ser duro demais com tudo. Nem espadas, facas ou navalhas me penetram, e isso dá um certo orgulho.

Detesto lagrimas funestas, choro apenas por boas emoções. Tratei de esquecer o transtorno seja ele qual fosse. As vezes na vida é preciso apenas fazer isso, relaxar o pensamento, parar de dar atenção a evocações fantasmagorias de nossa alma, e lembrar que todos temos sombras. Você pensa, se der para iluminar a sombra tudo bem, se não der, relaxe porque ainda não chegou o momento, e na vida tudo é uma questão de momento.




Luís Fabiano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hoje acordei bem, o sol brilhando na janela com a promessa que o dia seria lindo, nada disso, geralmente não devemos crer muito nas aparências, é preciso ter cautela, porque nem sempre as coisas são como parecem ser. Lendo teu texto recordei de uma época, em que a vida tinha um encantamento por si só, não precisava de um motivo especial, viver era esse motivo e com certeza se vivia melhor... Hoje as coisas mudaram,minha vida ganhou tons acinzentados, muita correria, compromissos e nenhum prazer, é tudo meio que automático. O tempo passa rápido demais e quando nos damos conta, já foi. Como dizia o poeta, o tempo não pára e não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, ele segue adiante, implacável... sempre tive para comigo que as pessoas são insubstituíveis e há um tempo atrás vi que não, a realidade me assolou como um ladrão no meio da noite, veio, furtou meus sonhos,minhas crenças e convicções, quando acordei pela manhã me vi assim, vazia, sem rumo e sem destino...As vezes a gente morre mesmo estando viva, o que era antes não existe mais e por mais que essa ferida não seja aparente, só quem a sente pode entender do que falo. Quando nos roubam os sonhos e aquilo que fielmente acreditamos, é como se amputassem-nos a alma e mortos vivos nascem disso, aparentemente não nos falta nada, mas espiritualmente tua essência não está mais ali. Um bom texto, me fez concluir algumas coisas.
Maria da Conceição