Inocência em farpas de neblina
Ela já tem alguma idade
Menos de cem mais de quarenta
Com uma voz fina, falando miudezas
Coisinhas limpinhas como um absorvente novo
Sinto que ela não tem contato com a vida
Idealiza tudo num ranço de perfeição volátil
O nojo que sinto das secreções embaladas em papel celofane
Não sinto nada por ela
Nem ódio ou tão pouco amor
Uma ereção eventual quando silencia
É destas mulheres que tem sonhos de algodão doce
Onde tudo é amoroso
E a esperança brilha como um catarro estelar
Curiosamente ela me vê, mas não acredita no pior
Faço de proposito, envenenar suas percepções
Trucidando sua encanta visão
O verme engraxado deslizando da alma a xoxota
Ela quer que eu prometa uma vida inteira de amor
Um casamento talvez um dia
A fantasia desfraldada nos desejos errantes
Que eu diga que a amo às vezes
Mas nada disso eu posso oferecer
Trabalho paulatinamente para roubar-se a inocência vil
Como um vírus minando a alma lentamente
Arrancando as vísceras e catapultando-a para a vida real
A briga das sombras com o orvalho
Vejo suas lagrimas caírem com indiferença
Misturando-se a poeira do chão
Na indigna mistura de nossas essências perdidas o barro
Embalamo-nos em mundos separados
Entre prazeres presentes
No fluido dos miasmas compartilhados
Na doença que engendro nela
Nos sentimentos curtidos do tempo
O tempo
Como a pica do diabo
Arregaçando os anjinhos do Céu...
Luís Fabiano.
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