Navalhadas de um Mundo Deformado:
A louca
O descontrole é pra mim, uma nota musical que me excita. Vendedor de drogas que não usa do próprio produto, é o santo imune. Confortável, sarcástico e placidamente doentio. Eu estava com o cigarro entre os dedos, quando ela pulverizava cinzas por todos os lados. Aquilo era melhor/pior que ver um balé.
Um dado instante me arremessou um quadro afiado, que por pouco não me acerta, então cuspiu na minha cara com nojo e assombro. Permaneci bovinamente parado enquanto engolia um pouco de sua saliva salgada e fétida.
Quando a noite cai em sereno frio
Clamores surdos ecoam em desesperos sem fim
O pedido doente que fere acidentalmente as pétalas das emoções
Deitando em ruina o que nobre brilha e nos refina
Então a noite se faz mais noite
As estrelas se perdem
Raspando lembranças das paredes do Eu
Apegando-nos a fragmentos de esperanças sem vida
Enquanto a vida toca-nos nas espaduas chamando...
Ao que eternamente muda no jogo do viver
Mas pra isso
É preciso deixar as misérias em pele que muda ontem
Afinal acontecia o de sempre. Drama encenado, sofrimento simulado, dor em forma de mote, desagrado cheio de inspiração, mas de essência vazia, um ator representando o que não entende.
Depois que errou o alvo (eu), tudo era arrependimento e lagrimas. Um choro enjoativo, com muito muco e voz anasalada. Uma viciada em emoções baratas. Provocava-me um asco elegante, como a lamina de um bisturi abandonado.
Por fim ficou cansada e abriu a porta. Paraíso. A chave estava na sua calcinha, entre a xoxota e o absorvente muito sujo, adorei, a chave ensanguentada de um coração machucado, uma chave crucificada.
Combinações venenosas de paixão e loucura, não consegui ficar bravo, gosto de circo dos horrores, o palhaço pegando fogo, os animais ferozes a solta, o trapezista que cai...
Quando no fundo a verdade bate
Sussurrando pesar
Espremendo a alma as lagrimas
Gotas de verdade mesclam-se ao sangue
Ilusões que se desfazem docemente
Nascimento a cada momento em sorriso oculto
Ainda em que intrínsecas linhas
O molde aspiração converte-se em vida
A paz respira uma vez mais
O amor ave sublime pousa sereno em afagos ternos
Libertando-se inclusive de querer ser livre.
Luís Fabiano.
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