Carinhosa destruição
Gosto que minha consciência seja um campo de batalhas. Creio que a de todos é. Por vezes não tomo partido para lado algum, nem bem ou mal. Alias, pra mim tais posições são extremamente relativas.
Certa vez me disseram que devemos fazer ao outro o que gostaríamos que os outro nos fizessem. Isso seria amor sem escalas. Bonito. Tudo bem, eu gostaria que outros fizessem comigo exatamente o que faço com os outros... uns bons tapas, gritos selváticos e descontrole prazeroso e um pouco de violência... eu gosto disso. Isso pra mim é o bem, mas raramente alguém se habilita assim.
De um modo geral, todos anseiam por coisas sensatas, certinhas, bonitinhas e porque não dizer fiapos de perfeição a qual tentam espelhar suas vidas. Sempre achei isso uma merda. Jamais quis minha vida perfeita, tenho apreciação pelo caos, sua disforme maneira de conduzir-nos adiante.
Assim sendo não entendendo o bem como bem, ou mal como mal, entendendo como intercambiantes, facetas da natureza a qual bebemos um pouco aqui e ali, sem que tenhamos muita consciência disso. Sombras subconscientes, nossa cegueira.
Dias atrás me chamaram de perverso e destruidor de emoções. Fiquei olhando para o semblante dela, tentei buscar em mim a perversidade maior, tentei mergulhar em minhas sombras e beijar meus fantasmas, mas nada, apenas ecos de um pássaro voando na escuridão.
Não me sentia perverso. Sorri pra ela e disparei:
- Quando as aguas invadem as casas das pessoas, no laranjal , quando enchentes destroem tudo a nossa volta, quando a merda entra a rodo em nossa vida, isso é perverso? Isso é mal? Isso é errado?
Isso não é nada. Isso apenas é a voz da natureza fazendo sua parte, levando-nos, nos agredindo com uma indiferença pacifica, nem bom e nem mal. As vezes sinto-me assim, não ajo com segundas intenções, sou minha natureza inquieta, um besouro sonhando com estrelas do infinito e doutras, rolando minha bola de bosta daqui para lá, feliz.
Trocamos aquele olhar silencioso, por alguns minutos, um silencio feito de cobranças, de dor, de frustração, abandono e asco. Eu era uma enchente maldita, que havia levado seus moveis para lama, ou simplesmente ela fosse também culpada por suas necessidades. Uma fome de amor, sexo, carinho, compreensão e uma imaginação que a eternidade nos presenteia.
Sorry baby, eternidade é a porra do nada. Não há eternidade humana. Por isso se vive a profundidade de tudo, levado ao extremo de tudo, porque o que fica são as marcas densas em nossa alma. Sejam as enchentes, ou os anjos ejaculando em conjunto sobre nossa existência. Não há sublimidade, não há amor Divino ou mesmo ira Divina. Tudo é em nós, céu e inferno e tenha a certeza absoluta, quando tudo esta uma merda em tua vida, não existe natureza, enchentes, lama ou qualquer outra coisa, a culpa é totalmente tua.
Então fique tranquilo, não lute com nada fora de ti, mergulha na batalha tua consciência, escolhe um lado para o qual lutar. Bem ou mal. E ao escolher seja o melhor que possas ou pior que conseguires. Pois a vida não perdoa os indiferentes, todos desejam estar sobre o muro da consciência, nem tão isso e nem tão aquilo. Os nadas de porra nenhuma.
A porta eu estava, não tinha vontade de dizer nada pra ela, por saber que jamais entenderia, quando estamos no calor de emoções, nos tornamos idiotas, dementes e imbecis. Para depois como mais imbecis ainda, nos arrependermos, pedir perdão ao diabo ou a Deus entre lagrimas ranhentas, crianças que nunca sabem o estão fazendo.
Acho que ela entendeu, ficou em silencio e bateu a porta, um carinho esperado, a reação da enchente. A ignorância é nossa maior chaga. Fui até a praça e tinha um bom cigarro mentolado. Sentei-me e sentia-me bem, uma consciência de destruição em paz, acho que minhas aguas estavam retornando serenamente a origem, precisamos disso as vezes, voltar a nós mesmo.
Luís Fabiano.
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