Noite Fria e Desejos Quentes
Nem todos os dentes ferem
Nem todos os laceramentos sangram
Nem todo gemido é agonia
Nem todas as pancadas doem
Ali estávamos
Almas entregues um ao outro
Enquanto a embarcação
Sulca serenamente o mar
Lá fora a noite fria engole vidas
Numa quietude
Que encanta e soterra
Aqui
Entre lençóis untados de prazer
O incontido vulcão de nossos desejos
Sede que não aplaca
Fome que não sacia
Mar sem fim
A noite avança mastigando as horas
O difícil é ir, desfraldar velas
Desprender dos braços suaves
Enquanto a vida escorre entre nós
Dentro e fora de nós
Fluxo e refluxo
Lá fora um cão vagabundo late para a noite
Enquanto nossas roupas tentam
A contra gosto ir para o lugar
Ela brilha dentro da sua calcinha nova
Em pé na cama
Abraçamos-nos
Enquanto minhas mãos
Acariciam suas pernas e minha cabeça entre suas tetas quentes
Ouvindo seu coração pulsar vida
Bom estar ali
Na bunda, uma poesia escrita em alto relevo
O vento desenhando ondas no deserto
Mão misteriosa da vida dando o último traço
A paz inunda a noite silenciosa
Algumas lágrimas nos afagam
Orvalho de nossas almas
Se mesclando a todos os líquidos
Vamos nos desprendendo lentamente
Mas sei de uma coisa
Eu volto
Luís Fabiano.
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