Futilidade em Dólar
Reconheço minha brutal e primitiva maneira de ser. Um grande porco roncando, rastejante na lavagem e barro, uma felicidade asquerosa e plena, com intensões de beber a vida inteiramente de um gole único. Essa é minha felicidade, estender meu chiqueiro aos quatro ventos do mundo, no afã que a vida converta-se em uma lavagem suculenta. Lambuzar-me de existência, a exaustão até que minha alma vomite amor.
Tentava explicar isso ao um conhecido, o João, um cara para quem a grana nunca foi problema. Creio que depois que João ler isso, entre para o seleto rol dos ex-amigos. Tenho ex de quase tudo, isso me é um orgulho, dúzias de ex-mulheres, uma ex-noiva, dezenas de ex-amigos.
Nada tenho contra o dinheiro. Mas creio que com muito dinheiro, faz que se perca o contato próximo da vida, os cheiros passam a serem outros, o chiqueiro hostil já não mais nos satisfaz os brutais instintos. Uma sofisticação a guisa de evolução. E vamos trocando a proximidade pelo artificialismo, a distancia. Isso lhe disse, para sua profunda indignação, falava da sua viagem a Itália e França. As pessoas se ofendem facilmente, existe uma sensibilidade hedionda em tudo e pouca disposição para entender a verdade.
Nossa conversa desviou-se para então os puteiros em Porto Alegre. Naturalmente os luxuosos puteiros da capital. Sorri quando ele se ofereceu a pagar-me tudo, iriamos nos divertir e eu não precisava esquentar a cabeça com nada:
-João, para com isso cara, tu acha que aquelas mulheres são verdade?
-Cara, só modelos, capa de revista cara, cinema e tal, é amor a primeira vista... pra mim
-Sei, me diz João, tu te fazes de idiota ou realmente tu és?
-Não sei, julgue você... mas acho que otário és tu, não querer ir de graça naquele lugar dos deuses...
-Gosto de gente de verdade... de putas baratas, que tem filhos pra cuidar, viciadas em alguma coisa. Aquelas mulheres são plástico cara, não tem alma, ótimas para se ver de longe, pois algumas pessoas são bem melhores assim, e é melhor que assim sejam, a proximidade delas nos catapulta ao nada, a perda de tempo...
-Elas até dizem que te amam cara... é só pagar...
-João elas tem um cronometro nas tetas e um caixa eletrônico na xoxota...
-Que isso Fabiano, crise moral? Tu queres casar com elas? Foda-se cara, eu vou pagar tudo... relaxa vamos lá...xoxota é xoxota em qualquer lugar do mundo...
-Desisto João, essa grana toda entupiu teu cérebro, essa historia de cagar notas se cem, te fez muito mal...
Fez um gesto significativo, pegando um charuto de uma caixa a sua frente. É um cara legal, mas suas provocações são infantis, pegou uma nota de cem que estava na carteira, e acendeu-a com um isqueiro, então com nota pegando fogo na minha frente, acendeu um charuto Monte Cristo, cubano o melhor. A nota se consumiu no cinzeiro. Gostei daquilo, era um bom show, mas uma nota daquelas, que não faria falta alguma pra ele, já pra mim...
João sorria com seus dentes clareados, esperava que eu tivesse uma reação qualquer. Nada disso me impressiona. Voltamos ao assunto:
-Então não queres ir...
-Não João, tu sabes que tipo eu gosto, aquelas vadias desse puteiro ai, são caras demais, limpas demais, sem um pelo no corpo, perfeitas fisicamente demais e tanta perfeição me broxa. A vida cara, tem cheiro forte de suor, tem pelos na vagina, tem aroma de urina recente, tem preocupações e sobretudo cara, algo que a grana não compra, a paixão, a vida real tem paixão, entrega plena feita se suor, tesão e gritos desesperados. É isso, a droga humana mais cara é a emoção verdadeira a mais viciante delas...
-Tô ligado, acho que tu tá ficando velho cara...
-É talvez, mas me dê uma gorda, peluda guinchando como uma porca no cio, e eu acordo como numa manha de verão, e o brilho da cabeça de meu membro, concorrera com os raios solares...
Rimos como dois idiotas:
-Fabiano, tu não vais escrever isso né?
-Claro que não.
Luís Fabiano.
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