Taça de vícios
Ela chegava a mim sempre meio entorpecida
Nau de insanidade
Montanha russa louca sem freios
Num mergulho no buraco negro
Não sei o que a fazia delirar assim
Que drogas usava
Que outros vícios tinha
Chega cheirando a álcool, cigarro e paixão alucinada
Boa essa mistura
O corpo quente berrava vis desejos
Entregávamo-nos ao mais antigo ritual da humanidade
Duas serpentes entrelaçadas tentando fecundar a vida
Atracávamo-nos violentamente e ora com suavidade crepuscular
Como vampiros malditos, querendo sugar a seiva um do outro
Mas ela não era ela
Abria espaços para suas sombras
Seus pecados, suas doenças e agonias
Seja como fosse, era infinitamente mais interessante que sua realidade sóbria
Feita de uma vida comum
Mixórdia da vida que idolatramos, como uma verdade despida de felicidade
Alimentada dia após dia cansadamente
A detestava lucida
Suas lágrimas sem graça
Sonhos feitos de nada sem satisfação
A tola esperança de deixar tudo pra trás
Por fim adormecia pesada uma ancora no abismo
De dor, de cansaço, da vida
Três horas e dezessete minutos depois acordava
Agora era um pesadelo insuportavelmente real
Xixi, coco e peidos e ranho
A existência rascante em um coral de verdades
Sentia-me como se a nau houvesse afundado
O avião caiu e não houve sobreviventes
Vestia-se lentamente
Como quem quer recompor a alma
Como juntar pedaços da alma deixados pela vida a fora?
Apenas queria que fosse embora
A porta sorriu sem sorrir e disse:
-até o próximo porre...
Luís Fabiano.
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