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terça-feira, maio 10, 2011


Parte - 1


Acordes do Dinheiro - A Excitação de Elisa

O velho golpe do baú, é uma prática mais antiga que nossos ancestrais primatas, tenho pra mim, que isso se encontra escrito em nosso DNA como uma virtude natural. Já colocação de aspecto de uma moral deficitária, passa por um crivo de distorções, o qual a cultura e outros derivados menores, terminam por formar ou deformar.

A bem da verdade, quando a oportunidade aparece, salvo raras exceções, as pessoas aproveitam, se aproveitam entre sorrisos fáceis de uma pseudo-esperteza. Mas a natureza é assim, o engodo faz parte dessa mesma natureza, como uma proteção sobrevivência, o disfarce, o aparentar ser maior do que se é, o emular ser peçonhento sem ser. Não há crime nisso.

Elisa foi uma de minhas amantes aprendizes. Na época foi uma relação sem maremotos, havia pobreza sobrando, uma miséria abundante e uma disposição profunda para trepar. Talvez para compensar as tragédias de nossas vidas. Eu contava com trinta anos e ela com vinte e dois, lindos cabelos cacheados, uma morena de estatura alta, lábios carnudos, pernas lindas e olhos de criança abandonada. A família dela era uma merda, pai e mãe que não ligavam para nada a não ser seus vícios. Elisa se virava como podia fazendo bicos, fazendo limpeza aqui e ali, e seus momentos de alivio e descanso, era em meus braços, muito embora eu ache que isso seja contraditório, não costumo ser alivio a ninguém, funciono egoisticamente como um catalizador de dores. Mais parecido a um vicio que se tem, e embora nos faça de escravo, não desejamos nos afastar, por muitos motivos, porque é um prazer sofrido.

Um dia conversamos sobre o futuro, a falta de um futuro, uma conversa feita de imaginação pois eu não creio em futuro, ela aos vinte e dois anos conseguia sonhar, ou era desespero em busca de uma vida melhor.

Uma ladainha que Elisa repetia sempre depois de fazermos amor, confesso que trepar era bom, ela gostava das coisas lentas exatamente como eu, devagar, eu escorregava para dentro dela, enquanto ela gemia baixinho, apertando minha mandioca entre suas coxas lindas, puta que pariu, a vida poderia ser isso apenas, queria prolongar aqueles momentos, como se estivesse em uma estadia no céu. Por fim gozamos, e nossas personalidades voltavam ao normal, na flacidez de meu membro, a dura realidade entrava novamente em cena, a vida ordinária, cotidiana quase imbecilizante, Elisa voltava a carga:

- Fabiano, preciso sair dessa, não posso viver sem saber se amanha vou conseguir algo pra comer, vestir ou conseguir estar bem... preciso de dinheiro urgente...
-Quem não precisa Elisa? Eu não tenho grana, meu salario é limitado, haja visto a espelunca que nos estamos agora, usando para transar, olha que merda esse lugar?

Naquela época eu alugava um quartinho na subida da Tirantes entre Barão de Santa Tecla e Osório, um preço bom para duas horas de amor e sem banheiro, nos limpávamos com papel, e as vezes eu limpava no lençol mesmo, era o jeito, e saiamos fedendo a sexo pela rua. Bons tempos.

-Eu sei Fabiano, mas tem haver um jeito, uma saída.


Então como uma intuição soprada pelas sombras da vida, algo brilhou em minha mente, e vomitei:

-Elisa, tu já pensou em arrumar um velho com muita grana? É... casar com ele em nome do amor e tentar viver a vida quase normal.

Impressionante como uma ideia pode encontrar ressonância. Os escrúpulos tiram férias as vezes, e a vida pode distorcer-se, como um galho calcinado ao fogo infernal. Os olhos de Elisa brilharam com desejo e disposição.

-Mas claro, como não pensei nisso... como? Isso mesmo, é melhor que ser puta de velho, eu serei uma puta da terceira idade, a amante de vovôs broxas e amarei-os para sempre... embora para sempre, quando se tem setenta anos, dura bem pouco... né?

Ambos sorrimos de satisfação, aquilo era o principio da solução. Trepamos uma vez mais embalado pela ideia, ela me sugou com tanta vontade, que cheguei a uma triste conclusão com relação aquela mulher. O maior afrodisíaco da vida, não é a beleza ou ervas especiais, nada disso, o afrodisíaco feminino é dinheiro, é subconsciente, mas verdadeiro. Não me refiro a cédulas mortas de cem reais. Mas o que elas traduzem ancestralmente, uma caverna mais confortável, uma carroça em melhores condições, a impressão do tacape será de uma rigidez inquebrantável, a beleza que jamais será obnubilada e claro, a fatal segurança de todos estes aspectos transpassam.

A vida parecia estar resolvida, e ainda demos um toque de crueldade natural e indispensável segundo Elisa, para que tudo desce certo:

-Fabiano, tu vais ser sempre o meu amante né? Tu vais seguir me comendo né? E até pode sobrar algo pra ti, eu só farei isso se estiveres comigo nessa...

Nesta época eu ainda estava fazendo um vestibular para ser canalha profissional, confesso que a colocação dela me deixou pensando, não sabia se queria entrar naquilo de corpo e alma. Imediatamente me pus a imaginar: e se algo desce errado? Não conhecemos as reações das pessoas até expô-las a provas graves, se num ataque de fúria o vovô a atacasse, e ela num arroubo de defesa o matasse com a bengala? Se ambição de Elisa crescesse tanto, a ponto de querer mata-lo para ficar com tudo? Envenenando-o e eu seria o culpado? Ela não se havia dobrado rapidamente aquela ideia de tornar-se puta? Seria isso um sinal de uma vilã de filme barato?

Voltei a mim, Elisa ainda sugava minha jeba como um aspirador de pó incansável, entre uma palavra e outra, uma verdadeira atriz pornô, dizia obscenidades inspiradoras.
Nosso tempo como uma ampulheta maldita estava se esgotando, a velha cafetina dona dos quartinhos, batera na porta e disse:

-Faltam cinco minutos...

Já estávamos finalizando a obra, e ela engoliu ate a ultima gota, uma moça gulosa. Limpamos-nos como já narrei, e paguei a velha cafetina. Diga-se se passagem, aquela velha tinha o padrão de cafetina de segunda, peles flácidas dos braços grandes tetas murchas e um buço que mais parecia um bigode de Chaplin, uma má vontade contagiosa e agressiva, não sorria jamais. Embora aqueles olhos de doninha brilhassem sorrateiramente quando a carteira se abria.

Quando saímos a rua, Elisa estava diferente. Existem realmente ideias capazes de nos transformar, nos catapultar para as estrelas ou arrastar para os densos porões infernais, mas uma ideia fria, precisa ressonar na intimidade da alma para isso ocorra. Como se tangesse acordes especiais, arrancando do marasmo vivencial, é a alma amigos, aquela coisa rara que torna a vida algo mais que a vivencia e modorra, faz o pau subir os sete degraus para o paraíso, e anima o coração a bater, o sangue ferver nas veias, os olhos cintilarem como super novas, é a vida mostrando sua verdadeira face, a paixão de abrir os olhos e encarar o inimigo frente a frente na certeza da vitória.


Final da Parte 1

Segue...

Luís Fabiano

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