Parte 3
Historia de Elisa - O Plano em execução
As vezes eu tinha medo que ela colocasse arsênico em meu café, e eu morresse agonizando com a boca espumando, como um cão raivoso.
Eu corria o risco, se acontecesse ao menos não duraria muito, e iria para o céu?
Não sei, mas que eu iria para os Braços de Elisa, isso iria, e hoje mesmo talvez ela tivesse novidades do plano. Depois de me vestir, tomar um café temerário, dei um beijo de despedida em Marisa que não respondeu nada. A puta que pariu, que merda, desejei que ficasse com sua dor e talvez se asfixiasse com ela, foda-se sua chata.
O dia de trabalho transcorreu muito calmo, sentia-me bem e Elisa já havia me telefonado para dizer que estaria no hotelzinho barato de sempre, que tinha novidades. Era uma putinha adorável, rapidamente se virava, seus escrúpulos agora eram amortizados, como era esperado. A natureza funciona muitas vezes como um embuste, onde piores intenções se passam por melhores intenções, onde os sentimentos vibram entoando uma nota só: egoísmo.
Sabia que não poderia confiar naquela xoxota linda, alias como existem pouquíssimas pessoas que se pode confiar plenamente, pessoas que não titubearam em enfiar uma faca em tuas costas lentamente, como um sorriso plástico pronto.
Creio isso ser relevante, é preciso confiar nas pessoas plenamente, porem sabendo que em algum momento ela poderá fazer isso com você, não há maldade é apenas a natureza mais primitiva fazendo sua cena brutal de sempre e esperada.
A natureza humana é um jogo de sobrevivência, onde todos querem ser o mais forte, aquele que esta no topo da cadeia alimentar, ainda que saibamos em se tratando de humanos, isso é impossível, o topo é apenas um ideal inalcançável como tantos ideias, que são apenas inspiração a vida, mas que nada tem haver com a realidade.
Seu amigo continuará seu amigo sempre, eu serei o que sou sempre, jamais atraiçoarei pelas costas, farei de frente, olhando em seus olhos... maldita natureza humana, a verdade é um vicio irretocável. Os sentimentos que inspiram sinfonias, são os mesmos que inspiram o hediondo do ser humano, vem de uma mesma fonte, o EU.
A tarde vai morrendo lentamente em um estertor silencioso, virando noite promissora, esperei Elisa na frente do Hotelzinho, havia um entra e sai de putas, cafetões e clientes para alegria da víbora proprietária do estabelecimento.
Elisa atrasava-se como uma noiva menstruada, já estava acostumado. Que me lembre em toda a minha vida, tive apenas uma única mulher que era absolutamente pontual em tudo, e tal pontualidade tão inflexível, era sinal que algo estava errado, algo que só viria a perceber mais tarde... é uma outra historia.
Por fim Elisa chega, sorridente e cheirando a limpeza e suor. O cheiro da vida de quem trabalha duro. Confesso que tal mistura de aromas muito me agrada, gosto de mulheres limpas, sofisticadas e bem arrumadas, porem não gosto de nada em excesso, primo pelo cheiro natural, o cheiro intimo deve ser puro, um suor, um pouco de xixi e os líquidos da fertilidade da vida que abundam de uma xoxota verdadeiramente gostosa.
Abraçamo-nos e adentramos ao quartinho de sempre, não perdemos tempo, nos despimos e nos entregamos ao amor que nos era possível, um brilho efêmero pulsante, febril feito de desejo incontido, sede que não se amansa facilmente, uma escaramuça de corpo e alma, suando extemporaneamente, fazendo sons que não lembravam um ser humano, sem voz, gemidos, gritos e respiração resfolegante, entregues ao prazer.
Cansados, paramos para que ela acendesse seu baseado, me contasse o plano que tinha em mente. Ela gostava de drogas leves, eu sempre gostei de bebidas fortes, sem moralismo barato, mas a bebida era algo que eu tinha controle:
-Então Elisa, me conte que você tem em mente?
-Amor, amor, amor... vou usar a coisa mais obvia possível, irei me infiltrar nestes bailes de terceira idade, eventualmente aparece algum velho mais morto que vivo, que se rende a uma xoxota nova... irei bem comportada e farei este papel para aqueles que forem promissores... é isso, para se apaixonar é um pulo...depois é fácil...passo a frequentar a casa...e se for boa, ótimo, se não o amor acaba rápido...essa é a primeira parte.
Fiquei olhando para ela, realmente era uma serpente constritora, que crescia a olhos vistos diante de mim, ontem uma pequena cobra aprendiz e inofensiva, agora era uma mordida forte e um aperto lancinante, com uma disposição a matar para viver.
Pensei inclusive que ela teria presas na xoxota, pronta para inocular veneno e levar a morte quem a penetrasse:
-Muito bom Elisa, acho que vai funcionar bem, mas precisa ir a festas melhores, vestir-se bem, valorizar o produto a altura, sabes como é, coisas de mulher que quer seduzir, mas sem exagero para não parecer muito puta...
-Sim, isso que comecei a fazer, vi dois vestidos que irie comprar, saltos e claro a postura que ficarei. Neste próximo sábado ,já tem uma festa onde ir, fiquei sabendo que vão carrões então...a roleta vai rolar...
-Mas não se iluda, aqui em Pelotas carrões e boa aparência, realmente é apenas o singular de uma boa aparência, nada mais, conheço vários sujeitos com carros fantásticos que não tem onde cair morto, rasgando o próprio rabo para pagar o bólido.
Elisa riu-se como uma galinha feliz, afinal agora ela fazia parte do jogo das aparências. E ao mesmo tempo em que via sua felicidade, sentia que algo se distorcia no seu interior. O ser humano é um fluxo e um refluxo de vida, de tanto impor determinadas virtudes ou defeitos para dentro de si, isso termina solidificando-se em si, tornando-se um diamante ou uma pedra atarraxada a alma.
De qualquer forma, aquela nossa felicidade já não mais parecia pura, havia ao menos em meu pensar algo malsão que pairava no ar, algo que não sabia exatamente o que era, Elisa seguiu:
-Bem, creio que o ponto total do êxito de nosso plano, vai ser a gravidez, isso sim, futuro garantido, ao menos por dezoito anos.
Mulheres que engravidam, mesmo que o amor esteja presente, o rebento não deixa de ser um investimento, haja visto que raramente a mãe abre mão da pensão, onde se mesclam outros sentimentos menores, as vezes colocar o cara na cadeia por falta de pensão, é apenas a ponta da o iceberg, as pessoas não gostam de serem trocadas por produtos melhores, então existe ai um investimento, com um pouco de vingança, raiva e uma ponta de frustração.
Lembro-me que quando sai da casa de uma de minhas ultimas mulheres, ela gritava alguma coisa dentro de casa, enquanto batia e quebrava coisas, um show a parte, fui embora como sempre, havia ali muita decepção, frustração e principalmente o erro de um mau investimento. Ainda bem que ela não estava gravida, se não talvez a historia fosse outra complemente, uma criança em meio a isso, funciona como um escudo e uma chantagem ao mesmo tempo. Maldita natureza humana.
A vida não é contraditória?
Depois que terminamos o sexo, eu tinha vontade ir pra casa, talvez ficar nos braços de Marisa e seu mau humor costumeiro e suas tetas quentes. Gosto de encostar minha cabeça em tetas quentes:
-Elisa, vamos indo... o tempo sabes como é...
-Sim meu amor... Sim eu sei, nossa miséria ira acabar... não se preocupe
-Ótimo.
-Quando te vejo novamente?
-Bem, creio que semana que vem, vamos devagar... não nos afoguemos em amor.
-Sei, mas tu parece preocupado?
-Não, apenas não quero que te percas em ti, e que a fanfarronice não se converta em um grilhão...
-Bobinho, tá tudo indo muito bem...
-Tomara.
A velha cafetina, hoje sorria com seus dentes faltantes e recebia a grana que enfiava entre os seios, nada mais clichê. Despedimos-nos com um beijo e um abraço que mais parecia uma ancora de salvação, algo não iria dar certo, essa era minha intuição, talvez fosse hora de pular daquele barco...
Continua...
Luís Fabiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário