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sexta-feira, maio 13, 2011


Parte 2

Em casa, a esposa e uma ficção

Era início da noite quando ganhamos a rua, com o coração inflamado de desejos e planos arquitetados na intimidade de uma foda, todo e qualquer paralelo entre o dinheiro e o prazer, é uma espécie de ato sexual consumado, onde o amor é comprado facilmente, e mesmo que nossa visão não perceba alguém em algum lugar do mundo, estará sendo currado lentamente.

Uma curra feita de fome, desespero, medo, culpa e um ódio voraz de Deus, que dispôs as cartas desta forma, deixando-nos livres para embaralha-las.

Tínhamos que nos despedir por hora, eu precisa voltar ao meu asfixiante lar, onde uma esposa com uma TPM constante em relação mim, a vida, e aos meus muitos e intoleráveis defeitos, insistia em manter aquela casa, muito embora a felicidade não estivesse presente.

Não sou um cara de decisão, muitas vezes em minha vida, deixei que a vida tomasse as decisões que quisesse, como um rio que corre margeando a terra, ora lento e barroso e em outro instante, rápido e cristalino levando tudo no seu caminho. Gosto desta decisão de ser o rio, fico entregue a ele, talvez como um ato de fé, e por saber em minha intimidade, que tudo caminha para onde tem que ir, onde quer que se esteja. As boas intenções humanas inspiram beleza, e as más equilibram o jogo.

Por sorte, o azedume dela não me contagiava. Cheguei em casa, com o cheiro de Elisa em meu cavanhaque, minhas mãos, pau e alma. Dei boa noite a Marisa, ela apenas rosnou alguma coisa, enquanto cortava uma carne para uns bifes, sorri o sorriso dos filhos da puta, cuspi feliz:

-Hum, bifes hoje meu amor? Já estou com fome...
-É...
-Que houve Marisa, alguma profecia de Nostradamus se realizou?
-Não Fabiano, apenas as de sempre, tu chegando a esta hora... com esse cheiro...

A conversa tomou um atalho inesperado para mim, porem era preciso estar atento, ela estava com uma faca enorme na mão, e com aquele espirito, não hesitaria em decepar meu pau e come-lo com batatas dorê.

Contudo isso, não deixei de reparar na sua bunda, naquela saia de trabalho. Toda a saia me da vontade de erguer:

-Relaxe Marisa, não faça drama, nossa historia já tem uma data, e tempo é benção ou maldição...
-É, talvez tenha vencido a validade?
-Não disse isso...
-Tem coisas que não se precisa dizer Fabiano... nada, nada, nada...
-Como você pretende terminar essa conversa hoje?

O maldito rio, dava um revolteio, levando o lixo para todos os lados, não era mais um rio, mas sim um esgoto. Eu o expectador ensandecido, flutuando entre as tristezas humanas, a raiva e insatisfações, não iria decidir nada, gosto de levar as emoções a extremos, tanto do melhor como do pior, onde não haja espaço para o meio termo, ame ou odeie, goze comigo ou vomite na minha cara, seja como for estarei feliz.

Houve um silencio longo demais, uma navalha rasgando a neblina num anoitecer sem fim, por fim Marisa arrota:

-Nada, esquece Fabiano... nada deixa assim...
-Certo meu amor, fique tranquila, vou tomar banho e volto para ti... estas gostosa nesta saia...

Não disse nada, mas fez um ar de agrado contido. Era quarta feira, e Marisa tinha essa mania estudada, de trepar no meio da semana, quase como um programa de computador pronto para reagir na quarta, a bomba relógio pronta para explodir.

As vezes me irritava isso, como um ritual sagrado, ela fazia toda a cena, com uma camisola linda e sem calcinha, ficava leve como uma pluma, queria ouvir palavras de amor, queria parecer um casal normal e feliz, enquanto eu, queria dizer coisas mais pornográficas, queria que uivasse como uma cadela no cio, queria que ela fosse Elisa por um instante.

Porem estranhamente, eu fazia o seu jogo. Depois do jantar, ela parecia mais tranquila, talvez cansada demais pra brigar, queria que tudo fosse normal. Bebi umas cervejas, e o ar agora parecia suavizado, Marisa um pouco bêbada, era uma pessoa melhor, logicamente não quero crucifica-la, eu bem sei o canalha que sou, ela tinha dificuldades de aceitar isso, e nosso antanho, parecia um cavalo pronto a ser sacrificado, mas eu não faria isso. Deixaria que as coisas apodrecessem até implodirem em um esgoto, carreando a alma para o inferno, eu estava preparado para isso.

Quando deitamos, ela estava a principio distante, mas leve, uma leveza que me excita, pensei comigo: se tirassem a alma dela, e deixassem apenas o corpo, ainda assim seria uma boa transa.

Aproximei-me e toque aquela camisola, leve de seda vermelha, gosto como as roupas intimas das mulheres tocam o corpo, como se houvesse um vento entre a pele e o tecido, como se moldam ao corpo, como o acariciam com mãos tênues quase vaporosas.

Em primeiro instante Marisa parecia arredia, virou de bunda pra mim, ficou muda. Deixei minhas mãos passeando por cima daquela camisola, depois nas pernas, ela não reagia, mas conheço esse jogo feito de falsas indiferenças, em que corpo arde em quietude, que berra silenciosamente enquanto a flor fica molhada, orvalhada fica entumecida.

Quando minhas mãos acharam a xoxota, ela babava, isso provocou meu delírio, ela permanecia morta de lado, fui entrando lentamente para dentro dela, ela respirou tranquila, fiquei por um momento parado ali, um filhote aquietado, sentindo o pulsar da vagina.

Por fim ela se entrega, sedosa, respirando forte e me empurrando para dentro de si. Puxa vida, ela realmente tinha um corpo delirante, ou talvez fossem meus desejos mais brutais entoando a cantiga primitiva, onde se mesclam egoísmo, tesão e a indiferença que depois vira como sempre.

Gozamos, e voltamos ao normal. Confesso que esse sexo não foi o melhor que fiz em minha vida, mas era uma conjunção de coisas, ela estava ali fácil, ela queria e eu também, então realmente o amor não tem nada haver com isso. O amor era um quadro pendurado na parede, uma pintura que não entendíamos bem, e que fomos rasurando até vazar a tela.

Adormeci pensando em Elisa, onde estaria aquela vagabunda que pensava em se tornar oportunista? Que estaria planejando, quando colocaria seu plano em ação? Certamente ela conseguira, porque se movia como uma serpente, que o corpo vibrava como violino ao sabor do dinheiro.

Olho para o lado, Marisa ronca como se fosse um javali hediondo entregue a pesadelos, onde andaria a alma dela desprendida do corpo? Naqueles roncos poderosos, realmente o fim era fatal, mais dia ou menos dia, como uma casca de ferida, que arrancamos na esperança de ver a nova pele, quando eu seria arrancado?

Fiquei inquieto, mas decidi abstrair de tudo e tentar dormir um pouco, não seria o sono dos justos, mas o sono dos filhos da puta, uma classe muito crescente em nossa sociedade, vida irremediável.



Luís Fabiano.

Continua...


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