Asas de Papel, escroto de veludo.
Nada pode ser mais deplorável que um homem sem algum vicio. Houve um tempo em minha vida que estive assim, felizmente passou como uma chuva de verão. Era vegetariano, e havia enfiado uma dúzia de concepções orientalistas na cabeça. O cara mais chato, repleto de frescuras alimentares, com uma falsa piedade das vacas mortas.
No final das contas, eu queria comprar o céu com minhas nobres atitudes, comprar Deus no atacado, o perdão no varejo e alguma consideração das pessoas. Enganei bem, e de certa forma funcionou.
A benção do tempo, terminou por mostrar minha idiotice levada ao extremo, era essencialmente vazia. Isso me levou a querer equilibrar esse jogo. Guardei minhas pseudo-asas no guarda roupa, fiquei nu.
Logicamente que ninguém gostou, creio que nem mesmo eu, a principio. Porem, minhas bolas ficavam mais refrigeradas e caídas, tal conforto de viver, nos catapulta ao prazer essencial de nossa vida.
Não havia mais maquiagem, adornos e subterfúgios. Os conflitos deixaram de existir, e mesmo com toda a merda que me cerca até hoje, sinto-me em paz. Sorrio loucamente quando falo aos mais chegados: porra, eu sou quase um anjo seus merdas! Todos sorriem, eu sorrio minha própria imbecilidade pura.
Nada de psicanalise e tarjas pretas, o ser que aprende a sorrir de sua própria situação, seja ela qual for, já encontrou o céu, o foda, que pouca gente esta disposta a isso. Tudo se converte em um carrossel de seriedades, feitos de alguns poucos sentimentos verdadeiros, e uma pose maior que a Catedral, pose feita de vaidades, egoísmos e egos.
Quase tudo é pose, é o vernáculo da moda, a roupa que todos estão usando, os trejeitos que todos fazem tudo isso no afã que querer ser o que todos querem ser, o outro. O ideal feito de retalhos, a pessoa espantalho no meio do milharal, simulacro da essência humana, o eu te amo instantâneo como suco em pó.
Tento não ser isso, tento ser o filho da puta mais autêntico e essencial possível, fazendo do nascedouro de minhas intenções, a satisfação embebida na serena beleza que aspiro, na minha forma decrépita também, na grosseria a espera de afagos.
Sempre acreditei nisso, que não existe satisfação naquilo que as outras pessoas te emprestam, ela deve nascer em ti, entre tuas sementes, plantas ou não, no desapego natural das emoções, para que elas voem livres, aportem em outros corações. Creio assim no amor, creio assim nas sombras que permeiam minha alma. Deixo-as livres.
Não creio que vá voltar a usar minhas asas postiças, nem me jogar ao chão pedindo humildemente perdão a Ele, ou vá encher o seu Santo Saco, com Pai Nosso ou Ave Maria ou abandonar meus poucos vícios, nada disso.
Possivelmente vá até o bar da esquina, até o Pássaro Azul, pedirei a cerveja mais gelada, a dose de Rum mais afiada, e ficarei irmanado entre meus iguais, brindando a merda toda, talvez dê certo, eis a minha prece, a prece dos malditos.
Luís Fabiano.
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