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sexta-feira, março 11, 2011


Uma porrada às vezes é bom...


Hoje acordei pensando, que no decorrer de minha vida, apanhei muito pouco. Estranho sentir isso, mas buscando lembranças de uma infância, mais ou menos boa, sei que fiz muitas coisas erradas de propósito.

Não me importa que psicólogos e assistentes sociais repitam em coro o que a academia lhes impôs, eu era uma criança má e maliciosa, com toda a consciência disto. Não eram criancices inocentes, era um micro Fabiano protótipo, cuja vida aperfeiçoou muito pouco. Aquela malicia, me acompanharia pelo resto da vida.

O ensino escolar foi bom, porque aprendi a ler e a somar, que mais um homem precisa, além disso? As professoras me irritavam muito, a postura superior que assumiam me causava inquietação. Foi conscientemente que decidi não concorrer com ninguém em termos de notas. Não estudava mais, e sequer copiava as coisas para o caderno. Tinha uma meia dúzia de alunos nota dez, nunca quis estar entre eles.

Conversar, me era mais interessante. Chamavam-me muito a atenção, mas não dava resultado. Isso também passou a ser uma característica minha. Não dar atenção ao que não me interessava, sejam pessoas ou situações. Já nesta época, eu não me lembro de ter consciência alguma. Geralmente as crianças tem uma consciência que não deixa dormir, que fica gritando dentro de si, como um bicho descontrolado, choram e ficam tristes quando fazem algo errado. Nunca tive este problema. Nem de arrependimento, nem de chorar por qualquer besteira.Nada contra o choro.

Mas de qualquer forma apanhei pouco, tanto na infância como na fase adulta.Meu pai me bateu uma única vez, minha mãe me batia com mais freqüência, mas nem chega perto de doer.Depois,a maioria das mulheres que vim a me envolver eram muito fracas, e não refiro a aspecto físico, mas em termos de atitude. Quase sempre omissas, passivas e só acordavam deste estado, quando eu dizia adeus. Ali algumas faziam escândalos, me atiravam coisas, mesmo facas, mas nunca me feri gravemente. Talvez se tivessem me batido, uma boa porrada na cara, um soco nas bolas, ou então se gostassem de prazeres sadomasoquistas, bizzarros alguma coisa fora do normal que o mórbido papai e mamãe...bem, quem sabe a historia poderia ter sido diferente, não sei

Isso me causa estranheza. Este despertar quando tudo caminhava para mais franca merda, era como tentar salvar o Titanic. A apatia sempre me cansou, como as professoras que tive em minha infância.Lembro de uma que ensinava matemática. O assunto era expressões numéricas, detestava matemática e professoras de matemática, explico. Ela ensinou uma fórmula para resolver, passo a passo.Eu percebi que não precisa fazer nada passo a passo, bastava fazer os cálculos em linha reta, mentalmente e colocar o resultado do lado. Eu fiz isso. Ela disse que estava errado, porem o resultado estava certo, que eu deveria resolver a expressão exatamente como ela havia ensinado. Eu tinha onze anos. Disse-lhe que não faria isso, porque o resultado estava certo. Ela disse que eu tiraria zero então.

Desde então, ela começou me dar lições de humildade. Era sempre eu o chamado, era sempre eu apagar o quadro negro, era sempre eu a fazer a leitura. Ela me ajudou muito a desistir de estudar. Na prova que fiz, que era de expressões numéricas, apenas coloquei o resultado ao lado, ela não considerou minha prova, ganhei meu primeiro zero de muitos que vim a tirar depois. A professora nem era bonita, às vezes a beleza oca redime o resto.

A escola não me interessava mais. Passei a tirar notas medianas, apenas seis para ser aprovado, sem estudar nada, sem prestar atenção, sem escrever. Dediquei-me a fumar no banheiro da escola, junto com um pequeno grupo de marginais, fugindo da cansativa sala de aula.

O banheiro veio a me ensinar a viver, ali um universo acontecia a vida me tocava agora com suas garras, podia ver os dentes da existência, que não moravam nas expressões numéricas. Ali aprendi a dar a primeira tragada, discutir coisas do universo adulto, a ver a decadência natural que a todos espera, a passos lentos ou rápidos. Aquele grupo foi se tornando unido na contramão da ordem.

Era uma confraria informal, não estávamos dispostos a ser ordeiros. Na escola, os outros alunos não se metiam conosco. Era estranha essa sensação de poder, me acostumei com o olhar desconfiado, que as pessoas naturalmente me olham até hoje. Éramos os piores para eles, e os melhores para nós. Esta inversão de valores nos causou muitos problemas. E daquele grupo maldito dois já morreram, com mortes violentas envolvidos em drogas e outras coisas.

Lamento por eles e os admiro, mas não precisa se levar tudo ao extremo, pois todos queremos sobreviver de alguma forma.

Boas e malditas lembranças. Uma vez entrou uma professora que era estagiaria, ficaria no lugar da de matemática por algumas semanas.O céu existe aos aflitos. Ali o mundo se modificou para mim. Ela era linda, morena de cabelos compridos, sorriso suave uma blusa xadrez em vermelho, branco e azul, com as maiores seios que vi em minha vida. Passei a assistir à aula dela, não pela aula que era uma merda, mas por ela. Gosto de tetas boas, talvez por culpa da minha mãe, que não tinha leite para me dar de mamar, seus peitos eram secos como um deserto.

Lembro que até chorei, quando a professora foi embora e naturalmente, voltei ao inferno. Creio que ate hoje nunca sai dele, nem pretendo. Mas muito em mim mudou, menos o desejo de tomar boas porradas. A vida me soa muito suave e áspera, vou fazendo estragos leves aqui e ali, matando alguns sonhos, beijando algumas bocas, tomando rum e cerveja,e deixando para traz o resto.

É bom ser assaltado por algumas lembranças, mas por hora chega, detesto saudosismo idiota.

Luis Fabiano.



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