Rei
Nunca fui de deixar as coisas muito claras para mim mesmo. Vivo em uma espécie de neblina que nunca se desvanece. Meio assombrado ainda com a vida. Isso é preciso, estar assombrando com a existência.
Deixo alguns devaneios vibrarem em mim, como notas não tão bem executadas, e por algum momento qualquer aquilo me parece bom. Sinto uma felicidade que não sei de onde vem. Uma felicidade que vem ecoando dos escombros de muitas coisas que me cercam. Creio que não poderia ser assim. Por outro lado, quem foi que disse não pode ser assim? Falam tanto esta merda. Que se você só faz desgraças em sua vida, sua vida é desgraçada e felicidade não existe.
Mas mesmo os desgraçados são felizes. Os ditosos também são infelizes, eles também merecem beber a vida na sua manifestação mais bela.
O tempo foi mostrando, não existem fórmulas prontas para a alegria, para a felicidade. Os valores vão se modificando, a consciência ficando mais nítida e o que realmente vai ser importante, serão as coisas mais simples, essência profunda de nossa vida.
Gosto de lembrar disso. De pensar em todas a coisas ruins que fiz por ai, em todas as lagrimas que fiz derramar, nas infinitas merdas feitas, nos finais desastrosos. Porra, se fosse pensar assim, arrastando tudo isso aos confins da vida, é certo que já estaria afogado em merda.
Sempre me neguei a isso. A vida já tem sua cota de sofrimento o suficiente. Não arrasto saco de tijolos por ai, vou ao contrario, descarregando minha embarcação. Jogando carga ao mar. Me despojando das más emoções, das pessoas, dos erros já feitos, deixando para o mar aquilo que por ora não tem resolução. Não pretendo resolver nada mesmo.
Fui ficando em paz. Ainda que o mundo todo esteja delirar em nauseabundas emoções, o que vai importar é o que você sente no final.
No fundo do baú, restará muito pouco. Talvez algum amor despojado, um olhar inesquecível, uma saudade que não vai calar. Riquezas feitas de silencio.
O contrario também existe, então você pega todas as coisas ruins em tua vida, espreme a merda toda, e bebe o suco.
E mesmo que tudo não esteja lá essas coisas, me sinto um rei de mim mesmo. Um rei solitário em um reino falido. Reinando sobre escombros, sem tesouros, sem esperanças, sem súditos vivendo um dia de cada vez, reinando sobre nada. Entender como a vida se dá, é tua alma não estar nas mãos de ninguém. Porque nada ou ninguém conseguirá encher de tesouros tua vida, e estes tesouros não estiverem e ti. Não há mágica, ou coelhos saindo de cartola.
Vou vivendo, tentando fazer o melhor hoje, tentando não machucar ninguém, mas do ponto de apreciação onde sinto a vida, fica muito difícil que tais emoções sejam entendidas, onde os sentimentos menos nobres de mesclam a desejos e sonhos. Machucar os outros acaba sendo natural, uma vez que coloco o espelho diante deles.
Não interessa o quanto a vida lhe agrida, quantas porradas venhas a tomar, é possível se reorganizar. Deixo nevoa me levar, vagando entre sombras e luzes, ás vezes vislumbro espectros de minha consciência, a vida parece ora um pesadelo, ora um sonho. Enquanto tal cortejo lúgubre desfila em minha alma, vou sorrindo, segurando meu cetro e a vida acontece.
Luis Fabiano.
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