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terça-feira, janeiro 04, 2011



Marcão ?


Por vezes, dar de cara com o passado, pode ser uma experiência desagradável. Quando se tem muitos passados, pior ainda. A muito não via um conhecido, o Marcão. Ele não gostava que eu fizesse trocadilho com o nome dele. O Marcão deu uma grande marcada... Isso naturalmente o irritava. Besteira.

Eu fazia pelo prazer de fazer, fuder por fuder. Além do mais, com um breve olhar, eu já sei se uma boa relação de amizade surge, se vai durar e principalmente se é algo bom. Marcão nunca passou de colega. Gosto de manter a distancia. Á distancia, sempre tudo é mais tranquilo. Tento evitar entrar nas tempestades alheias, uma vez que carrego em mim, tornados suficientes.

Tínhamos uma conexão profissional e bastava. Fazia meus trocadilhos de forma séria, ele não ria e tudo estava fodido. Ótimo. Por motivos naturais da vida, perdemos o vinculo profissional e nunca mais o vi.

Entendi que a ausência dele, não significava nada, nem minhas piadas de mal gosto. Muitas pessoas passam por nós assim. Por vezes é assim, a ausência trás dignidade, uma dignidade feita de pensamentos que tentam escalar a nobreza, sem jamais alcançar.

Tudo se passa em nosso íntimo. Preenchemos as lacunas das imperfeiçoes alheias, com os rabiscos de nossos pesadelos, damos-lhe uma face medonha e sorrimos satisfeitos com a certeza que o outro é pior que nós.

Quem fabrica diabos, deforma tudo a sua volta, sem chance alguma para a verdade. Somos assim, não damos chance á verdade. Misturamos nossos horrores, e esquecemos o resto. Mesmo sabendo tudo isso, nada mudaria meu conceito sobre Marcão. Sou de convicções flutuantes, profundamente enraizadas no vir a ser. Faço isso, como um alento de tentar capturar a furtiva verdade latente em todas as coisas. Ás vezes funciona.

Hoje o Marcão apareceu por lá, onde trabalho. Sorria ironia, me perguntou como eu estava? Realmente não entendi:

-Olha Marcão, Marcão estou como sempre estive. Não tão melhor e nem tão pior.
-Casado? Filhos ? Familia ?
-Não, aboli essas palavras do meu vocabulário. Comigo não dá certo, não suporto as pessoas por muito tempo.
-É tu sempre foi um filho da puta...enganaste todas as tuas esposas...

Não havia brincadeira no tom de Marcão. Entendi que algo estava errado. Mas deixei o barco correr, sabendo que estava a beira de maremoto:

-É sou, gosto de ser assim...sou um filho da puta assumido...
-É, olha pra ti cara...solteiro, sozinho, é exatamente o que mereces...mesmo...quem é o Marcão?...Otário...

O assunto não ia numa direção boa, eu não estava afim de responder nada, principalmente porque ele havia resolvido vestir a roupa de paladino da verdade. Odeio heróis. Bem, nestas circunstancias o diálogo é impossível.

Nestas horas o filho da puta em mim fica muito alerta. Acorda e deseja representar seu papel. Viva o teatro. Marcão estava aborrecido com algo, e havia me tornado o seu bode expiatório. Tudo bem, por vezes tudo que você pode dar a alguém, é o que ela deseja. Fiz um sorriso de Sun Tzu e disparei:

-É Marcos estas certo. Durante minha vida toda eu fui realmente filho da puta. Mas sabe cara, eu tô arrependido. (fiz a cara certa do arrependimento). Embora não saibas eu tenho pedido desculpas para todas as pessoas quem feri, magoei ou simplesmente ignorei. Cara, eu tô tentando ser um cara melhor...um ser humano melhor...

Fiquei observando sua reação. Como esperando como uma serpente. Ele se desarmou:

-É Fabiano, ainda bem que estas assim. Tu era um cara arrogante...cara...sem noção...e não gostava de ti. Tu debochava do meu nome...tu sabia que me irritava...
-Sim, Marcos, eu sei, mas isso agora passou cara, eu sou um outro cara. Eu me encontrei...
-Legal Fabiano, legal mesmo.

Bom aquilo já estava ficando chato. Dar comida a seres humanos é algo fácil, porque estamos repletos de vaidades, orgulhos e ânsias de domínio. Todos querem dominar alguma coisa. E esperamos uma postura humilde dos outros. Acho ótimo isso, abre um espaço para um imbecil como eu, que não quer nada. Marcos sorria com cara de orixá alimentado. Me deu até um aperto de mão...

E quando ele estava saindo, a hora de encerrar a encenação e fechar a cortina.

-Até mais Fabiano, boa sorte pra ti.
-Até mais MARCÃO!! Tu continuas sendo um Marcão. Achas mesmo Marcão, que existem transformações mirabolantes? Achas que Deus desce em pessoa e toca a testa de eleitos? Eu seria um autentico imbecil se, se houvesse me arrependido de tudo que fiz. Não me arrependo. Fica pra ti isso...

O olhar dele dizia tudo. Um misto de raiva. Bateu a porta com muita força e foi embora. Sorri o sorriso dos idiotas. O final de minhas historias sempre são assim, não sei o trouxe até lá hoje. Mas sei o que o levou. O caos esta sempre presente de alguma forma. Tive que concordar com Marcão, realmente sou um filho da puta, mas tento ser divertido, mas que merda. Nunca ninguém acha graça.

Luis Fabiano.





Um comentário:

Dóris disse...

Algumas pessoas falam que devemos nos arrepender apenas por aquilo que não fazemos.

Uma boa história...rs rs rs, mas o Marcão não deu nem um sorrisinho amarelo?

Abraço