Navalhadas Curtas: Amor e um balde de merda.

Às vezes encontro ex companheiros de quartel na rua.Todos nos modificamos muito, para pior,para melhor. Quando avistei o Fernandes, chamei-o: e aí cara...tudo bem?
Pelo seu semblante sabia que nada estava bem, na hora. Tinha uma tempestade na mente e na testa enrugada. Sorriu amarelo, me cumprimentou sem vontade.
Eu já estava arrependido de tê-lo chamado. Mas agora já era foda-se. Inventei um assunto besta, futebol, tempo. Mas nada colou, já estava indo embora então ele diz:
-Que se faz com uma mulher que te deixa a ver navios? Te chuta o rabo, detona tua vida?
O assunto me interessou, respondo: agente tenta bater um papo pra ver se tem jeito, se não tem, junta as trouxas e sai na humildade e dignidade. Sem fiasco,ou drama.
Não ouviu uma palavra que disse. Me fala:
-Se eu não vou ser feliz, ela também não. Casou comigo, tem que ficar comigo.
Senti cheiro de merda no ar. Respondi:
-Olha Fernandes não é bem assim, a felicidade é uma busca, se não da certo, seguimos buscando, sem causar danos, pra não piorar a coisa.
Não era isso que ele queria ouvir. Disse pra mim:Não.Ela é minha esposa,na terra e no céu.Isso não vai mudar nunca.
Então levanta-se bruscamente dizendo: eu vou resolver isso agora...
Chamei-o, mas não virou para trás,tinha dor demais para perceber o mundo.As vezes é assim, a dor não deixa ver mais nada, só a dor.Esperava apenas que ele não metesse as mãos pelos pés.Mas bem no fundo eu pensei:porra, acho que esta mulher tá fudida.

Luis Fabiano.