O tato distante
“...eu ainda lembro bem dela, das noites que vez por outra o acaso nos reunia como o querer buscar o silencio de cada um, tudo começou tão inocente como quase sem querer, como nascem flores campestres em que a própria natureza faz a semeadura com mãos invisíveis...
Assim se expressou-se Alejandro, como que buscando em sua memória um momento doce talvez aprazível,assim dei-me conta é preciso guardar tais momentos com profundo carinho e respeito, embora o momento presente seja o que nos interessa, da uma boa sensação parar em meio a estrada e olhar despreocupadamente para trás e ver a boa semente, a boa obra faz bem sim, sem entrarmos nos conceitos tão difusos que seja o bem.
Ele me contava sua historia com a voz ligeiramente embargada e com profundo respeito e carinho por Mila,e assim mais ou menos neste tom ele prosseguiu arrastando o seu espanhol:
-Bendito o dia que entrei naquele bar, na época era um local refinado e somente pessoas com algum dinheiro o freqüentavam, não que isso fosse importante mas era como uma fantasia que se realizava, eu escolhi este dia para conhecer o tal local, ali cheguei e o garçom me guiou a uma bela mesa, sentei-me e pedi uma dose dupla de malte escocês,não imaginava que a vida poderia me levar a uma situação tão mais especial que aquele local, pois passamos pelas situações corriqueiras da vida sem que isso seja para nós grande coisa, tudo passa como passam os ventos de outono,a dose chegou e eu fiquei ali apreciando um jazz e apenas olhando mas sem nada a ver...então, me deparei com os olhos dela, estava triste mas os olhos eram lindos, a tristeza emoldurava sua beleza,fiquei naquela incerta, mas meu ímpeto era conhecer aquela solitária triste que os deuses cunharam com beleza sem igual.
Tomei mais um pouco do whisky e levantei sem pensar muito,pedi licença e a convidei-a para um papo sem maiores intenções, fui muito explicito quase direto,não queria chateá-la,mas quem sabe um papo com um estranho poderia lhe deixar mais...a vontade?É um bom argumento, ficar a vontade com estranhos as vezes é mais fácil.
Ela sorriu muito tímida e disse que chamava-se Mila, bem a partir daí conversamos sobre muitas coisas e gradualmente ela foi se abrindo, falando um pouco de sua vida,de suas viagens, de sua solidão, nunca me esqueci como ela era sofisticada e educadíssima,nunca conheci uma mulher assim,conheci várias mas como Mila não, ela era uma inspiração doce, um desejo sem desejar ,juro que não estou aumentando, apenas me lembro o quão ela realmente é assim.
Alejandro fez uma pausa como a saborear as memórias e tragar seu charuto, e sorriu como sorriem as crianças felizes quando se sujam:
-Acabou que ficamos íntimos, porem não muito íntimos, é estranho eu pensar nisso amigo, porque eu sempre gostei de mulheres sempre com um intuito caçador e consumista, mas Mila eu não sei,nosso carinho ficou entre as idéias e nobres pensamentos apenas, passei então a freqüentar seu apartamento, dormi lá tantas vezes, em algumas madrugadas ela vinha deitar-se comigo no sofá para não ficar só,não queria uma transa ferina,não queria vorassidade, queria apenas carinho, um abraço,um beijo terno, um reclinar a cabeça no ombro, estranhamente eu tinha um misto em mim, uma parte que não queria de forma alguma estragar aquela amizade bela,pura,inteligente,inocente de um mundo sem corpo,éramos apenas idéias e emoções,carinhos da alma,temia que o toque de nosso fluidos terminasse por afogar a beleza segura de nossa vivencia, por outro lado, quando ela se aproximava de mim por vezes e muitas vezes semi nua, fisicamente não havia excitação mas olhava para ela com ternura, estaria eu ficando maluco? Uma mulher linda, inteligente, sensível um verdadeiro afrodisíaco para alma, e em mim nada acontecia? Pudesse tocá-la sem querer tocá-la, você entende?
Nem eu entendo.
Assim foi até um dia que ela me disse estava indo embora, me convidou se eu também não queria ir para Atenas visitar as ruínas dos templos, eu neguei sorrindo e disse para ela:
-você por favor não vá se confundir com as deusas de lá hein?
Ela se aproximou de mim e havia lagrimas novamente em seus olhos, e me abraçou com o carinho de uma despedida breve, e eu disse:
- sabe, eu também vou embora, minha terra me chama, é preciso voltar.
Ela sorriu novamente e disse que aquilo não seria nunca uma despedida, mas um até logo, ta? Eu concordei e disse, até logo.
Peguei algumas coisas e fui embora, nunca mais a vi desde então, anos se passaram quando tudo isso ocorreu, minha vida mudou muito felizmente mas nunca perdi Mila da memória, e algum tempo atrás tentei fazer contato com ela mas estava em Barcelona me disseram, creio que fiz isso como a recuperar um tempo que passou,uma saudade de uma pureza ou uma simples tolice vaga, entendi que tudo tem seu momento, mesmo que seja breve mas se foi repleto de intensidade já basta,ainda hoje não sei o que se passava nitidamente nos pensamento dela,mas eu a via como uma mulher, uma criança e um ideal.
Alejandro se calou e suspirou como suspiram sentimentos que calam fundo em nosso coração, olhei para ele e meus pensamentos também voaram longe na ânsia de entende-lo, como se pode entender a linguagem espiritual quando tenta buscar o que não é talvez tão humano em nós, sorri para Alejandro e dei-lhe um abraço longo.
Dizem que um ideal é apenas um ideal, mas quando por casualidade ele nos afaga o rosto ele torna-se realidade.
Paz e luz em teu caminho
Luis Fabiano
“...eu ainda lembro bem dela, das noites que vez por outra o acaso nos reunia como o querer buscar o silencio de cada um, tudo começou tão inocente como quase sem querer, como nascem flores campestres em que a própria natureza faz a semeadura com mãos invisíveis...
Assim se expressou-se Alejandro, como que buscando em sua memória um momento doce talvez aprazível,assim dei-me conta é preciso guardar tais momentos com profundo carinho e respeito, embora o momento presente seja o que nos interessa, da uma boa sensação parar em meio a estrada e olhar despreocupadamente para trás e ver a boa semente, a boa obra faz bem sim, sem entrarmos nos conceitos tão difusos que seja o bem.
Ele me contava sua historia com a voz ligeiramente embargada e com profundo respeito e carinho por Mila,e assim mais ou menos neste tom ele prosseguiu arrastando o seu espanhol:
-Bendito o dia que entrei naquele bar, na época era um local refinado e somente pessoas com algum dinheiro o freqüentavam, não que isso fosse importante mas era como uma fantasia que se realizava, eu escolhi este dia para conhecer o tal local, ali cheguei e o garçom me guiou a uma bela mesa, sentei-me e pedi uma dose dupla de malte escocês,não imaginava que a vida poderia me levar a uma situação tão mais especial que aquele local, pois passamos pelas situações corriqueiras da vida sem que isso seja para nós grande coisa, tudo passa como passam os ventos de outono,a dose chegou e eu fiquei ali apreciando um jazz e apenas olhando mas sem nada a ver...então, me deparei com os olhos dela, estava triste mas os olhos eram lindos, a tristeza emoldurava sua beleza,fiquei naquela incerta, mas meu ímpeto era conhecer aquela solitária triste que os deuses cunharam com beleza sem igual.
Tomei mais um pouco do whisky e levantei sem pensar muito,pedi licença e a convidei-a para um papo sem maiores intenções, fui muito explicito quase direto,não queria chateá-la,mas quem sabe um papo com um estranho poderia lhe deixar mais...a vontade?É um bom argumento, ficar a vontade com estranhos as vezes é mais fácil.
Ela sorriu muito tímida e disse que chamava-se Mila, bem a partir daí conversamos sobre muitas coisas e gradualmente ela foi se abrindo, falando um pouco de sua vida,de suas viagens, de sua solidão, nunca me esqueci como ela era sofisticada e educadíssima,nunca conheci uma mulher assim,conheci várias mas como Mila não, ela era uma inspiração doce, um desejo sem desejar ,juro que não estou aumentando, apenas me lembro o quão ela realmente é assim.
Alejandro fez uma pausa como a saborear as memórias e tragar seu charuto, e sorriu como sorriem as crianças felizes quando se sujam:
-Acabou que ficamos íntimos, porem não muito íntimos, é estranho eu pensar nisso amigo, porque eu sempre gostei de mulheres sempre com um intuito caçador e consumista, mas Mila eu não sei,nosso carinho ficou entre as idéias e nobres pensamentos apenas, passei então a freqüentar seu apartamento, dormi lá tantas vezes, em algumas madrugadas ela vinha deitar-se comigo no sofá para não ficar só,não queria uma transa ferina,não queria vorassidade, queria apenas carinho, um abraço,um beijo terno, um reclinar a cabeça no ombro, estranhamente eu tinha um misto em mim, uma parte que não queria de forma alguma estragar aquela amizade bela,pura,inteligente,inocente de um mundo sem corpo,éramos apenas idéias e emoções,carinhos da alma,temia que o toque de nosso fluidos terminasse por afogar a beleza segura de nossa vivencia, por outro lado, quando ela se aproximava de mim por vezes e muitas vezes semi nua, fisicamente não havia excitação mas olhava para ela com ternura, estaria eu ficando maluco? Uma mulher linda, inteligente, sensível um verdadeiro afrodisíaco para alma, e em mim nada acontecia? Pudesse tocá-la sem querer tocá-la, você entende?
Nem eu entendo.
Assim foi até um dia que ela me disse estava indo embora, me convidou se eu também não queria ir para Atenas visitar as ruínas dos templos, eu neguei sorrindo e disse para ela:
-você por favor não vá se confundir com as deusas de lá hein?
Ela se aproximou de mim e havia lagrimas novamente em seus olhos, e me abraçou com o carinho de uma despedida breve, e eu disse:
- sabe, eu também vou embora, minha terra me chama, é preciso voltar.
Ela sorriu novamente e disse que aquilo não seria nunca uma despedida, mas um até logo, ta? Eu concordei e disse, até logo.
Peguei algumas coisas e fui embora, nunca mais a vi desde então, anos se passaram quando tudo isso ocorreu, minha vida mudou muito felizmente mas nunca perdi Mila da memória, e algum tempo atrás tentei fazer contato com ela mas estava em Barcelona me disseram, creio que fiz isso como a recuperar um tempo que passou,uma saudade de uma pureza ou uma simples tolice vaga, entendi que tudo tem seu momento, mesmo que seja breve mas se foi repleto de intensidade já basta,ainda hoje não sei o que se passava nitidamente nos pensamento dela,mas eu a via como uma mulher, uma criança e um ideal.
Alejandro se calou e suspirou como suspiram sentimentos que calam fundo em nosso coração, olhei para ele e meus pensamentos também voaram longe na ânsia de entende-lo, como se pode entender a linguagem espiritual quando tenta buscar o que não é talvez tão humano em nós, sorri para Alejandro e dei-lhe um abraço longo.
Dizem que um ideal é apenas um ideal, mas quando por casualidade ele nos afaga o rosto ele torna-se realidade.
Paz e luz em teu caminho
Luis Fabiano
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